terça-feira, 8 de junho de 2010

DIÁRIO DE PESQUISA

Os labirintos são um símbolo de complexidade evidente, não sei porquê sinto-me atraído por eles.- Jorge Luís Borges -











Quem entra num labirinto, jamais sairá o mesmo.

Organizar reflexões e aprendizados a um simples clique de teclado. Dou “ENTER” e começo minha caminhada pelo Labirinto de Creta. Para tanto, é preciso explorar um percurso cheio de desafios, passar por ritos iniciáticos, por provas e vencer o Minotauro, guardião dos tesouros. Os desafios são inúmeros e, assim como Teseu, meu diário de pesquisa será o meu “novelo de linha” que me conduzirá em meu processo de investigação.

Antes de qualquer coisa, eu preciso dizer que meu diário tem por função revelar a trajetória e os caminhos trilhados na pesquisa do tema investigado. Além disso, o diário será um espaço de reflexões, impressões, experiências, angústias (espero que poucas...) e alegrias (torço por muitas...) sobre a pesquisa em construção.

Falando em construção, o meu blog começou a ser exibido em 12 de maio de 2010. Até o momento, tenho duas seguidoras e um comentário! Espero não ficar frustrada caso não tenha muitos acessos. Continuo postando...

Eu tenho grande intimidade com o acervo de obras raras. Faz 24 anos que interajo com ele. Considero que as experiências que vivenciei, tanto a nível profissional como pessoal, permitiram o meu amadurecimento e a opção de realizar este Curso de Pós-Graduação Stricto Sensu. Atrevo-me a dizer que tenho orgulho em trabalhar na Fiocruz. Uma instituição que admiro muito pela grandeza frente ao mundo científico.

Primeiras anotações do diário de pesquisa.

O que me proponho a realizar é um estudo exploratório sobre participação feminina no nascimento e desenvolvimento da ciência nacional, sob a perspectiva da produção acadêmica, a partir do acervo de obras raras da Biblioteca de Ciências Biomédicas.

O porquê da escolha do tema.

Realizei levantamento bibliográfico que evidenciou que estudos sobre mulheres em C&T ainda são escassos. Mas a participação das mulheres nas atividades de pesquisa tem aumentado nas últimas décadas! Um recente estudo da Unesco mostra que, entre 2002 e 2007, o número de cientistas cresceu 56% nos países em desenvolvimento e 8,6% nos desenvolvidos, mas o número de pesquisadoras é de 29% do total. A média é maior na América Latina, onde 46% dos cientistas são mulheres.

Mas como entender o presente sem criar pontes com o passado?

Para responder esta questão, fechei os olhos e iniciei um passeio no labirinto de estantes da Seção de Obras Raras. Armação de aço, com 9 metros de altura, 12 metros de comprimento e 4 metros de largura. Dividi-se em 4 andares, interligados por duas escadas em espiral que armazena cerca de 16 mil exemplares de livros, 9 mil exemplares de teses, 562 títulos de periódicos nacionais e estrangeiros com aproximadamente de 15 mil fascículos e constitui-se, principalmente, de títulos referentes às Ciências Biomédicas e à Saúde Pública. Nesse universo, somente 30% do acervo encontra-se tratado e disponibilizado.





Por onde começar?


Pelo mapeamento da coleção de teses. A formação da coleção de teses iniciou-se quando Oswaldo Cruz criou, em 1908, os “Cursos de Aplicação” de Manguinhos. Com a notoriedade da Instituição, pesquisadores, especialistas e técnicos brasileiros e de outros países colaboraram na formação dessa coleção, através de doações de seus trabalhos acadêmicos.

Que perguntas busco responder?

Quem são essas anônimas que contribuíram para o desenvolvimento científico nacional? Quais os temas e objetos de pesquisa por elas tratados? Assim, começo a esticar o “novelo de linha” ao longo do caminho...

Encerro minhas anotações com versos de Jorge Luis Borges (2007):



À desmedida esperança sucedeu, como é natural, uma depressão excessiva. A certeza de que alguma prateleira em algum hexágono encerrava livros preciosos e de que esses livros preciosos eram inacessíveis, pareceu quase intolerável.



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BORGES, Jorge Luis. Ficções. São Paulo: Companhia das Letras, 2007.

 

Um comentário:

  1. ... lendo o texto, jeorgina, fico pensando na energia e solidão destas pesquisadoras ... penso em Foucault e as bibliotecas, lá por tempos e tempos... muito bom!!
    beijos e sorrisos
    (monica torres)

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