domingo, 16 de dezembro de 2012

Jornal do Brasil - País - Preconceito e discriminação são desafios para mulher no mercado de trabalho

Um dos momentos mais emblemáticos na história da luta feminina pela igualdade de direitos aconteceu no final da tarde do dia 25 de março de 1911 quando 150 mulheres, em sua maioria imigrantes judias e italianas, morreram em um incêndio na Triangle Shirtwaist Company, em Nova Iorque.
Embora algumas versões apontem que os patrões fecharam as portas da fábrica propositalmente, sabe-se que elas eram mantidas trancadas como costume, para evitar a saída das trabalhadoras no horário do expediente. O acidente, que acabou por revelar as condições degradantes das quais as mulheres eram submetidas, deu força e visibilidade a luta feminista que, mais tarde, conquistaria direitos fundamentais para as mulheres....

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segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

A questão da mulher sob um olhar crítico da Filosofia do Direito

PAULA LOUREIRO DA CRUZ


Sumário
 
1. Introdução.
2. Mulheres: igualdade, privilégios ou opressão?
3. Aspectos fisiológicos da mulher: tratamento diferenciado e tratamento discriminatório.
4. Emancipação e Libertação da Mulher.
5. Maternidade versus trabalho.
6. A moral dupla e a opressão social.
7. Engels: A origem da família, da propriedade privada e do Estado.
8. O feminismo marxista.
9. O pensamento de Alexandra Kollontai.
10. O futuro escrito sob a ótica kollontainiana.
11. Conclusões.
 
1. Introdução
Pensar em igualdade de gênero, no Estado Democrático de Direito Brasileiro, é algo deveras intrigante. A Constituição Federal de 1988, conhecida como Constituição Cidadã, elege a dignidade humana como valor supremo e funda o Estado Brasileiro em princípios e objetivos voltados à superação de toda forma de desigualdade e discriminação. Embora o legislador constituinte tenha demonstrado claramente o escopo de aproximação das duas formas de manifestação da igualdade, quais sejam: formal e material, ainda há um longo caminho a seguir na concreção desse objetivo. Interessante é, pois, notar como a igualdade de direitos entre homens e mulheres assegurada pelo texto constitucional está longe de propiciar a tão sonhada igualdade material, ou seja, o sonho dourado de libertação das minorias oprimidas, entre elas as mulheres.
 
 
 
 
 

RCD - Revista Crítica do Direito - Número 1 - Volume 32   

Conselho Nacional dos Direitos da Mulher (CNDM)

Conselho Nacional dos Direitos da Mulher (CNDM) foi criado em 1985, vinculado ao Ministério da Justiça, para promover políticas que visassem eliminar a discriminação contra a mulher e assegurar sua participação nas atividades políticas, econômicas e culturais do país.

De 1985 a 2010, teve suas funções e atribuições bastante alteradas. Em 2003, passou a integrar a estrutura da Secretaria Especial de Políticas para Mulheres da Presidência da República, contando em sua composição com representantes da sociedade civil e do governo, o que amplia o processo de controle social sobre as políticas públicas para as mulheres.

É também atribuição do CNDM apoiar a Secretaria na articulação com instituições da administração pública federal e com a sociedade civil.


sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

Pesquisadores do Instituto Oswaldo Cruz são agraciados pela Academia Brasileira de Ciência e Academia de Medicina do Estado do Rio de Janeiro (Acamerj)

 
Na última terça-feira (04/12), três pesquisadores do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) foram agraciados por duas importantes entidades científicas. A Academia Brasileira de Ciência (ABC) elegeu a pesquisadora Patricia Torres Bozza, do Laboratório de Imunofarmacologia, para compor o quadro de titulares de Ciências Biológicas durante o ano de 2013. Já a Academia de Medicina do Estado do Rio de Janeiro (Acamerj, também conhecida como Academia de Medicina Fluminense) outorgou à pesquisadora Miriam Tendler, do Laboratório de Esquistossomose Experimental, o título de Acadêmica do Ano de 2012. Por sua vez, José Rodrigues Coura, chefe do Laboratório de Biologia Parasitária, recebeu a Medalha de Mérito Médico Roched Abib Seba.
 
Serviço de Jornalismo e Comunicação | IOC | Fiocruz

sábado, 1 de dezembro de 2012

Uma tese é uma tese

MARIO PRATA

 
Quarta-feira, 7 de outubro de 1998 CADERNO 2
 
Sabe tese, de faculdade? Aquela que defendem? Com unhas e dentes? É dessa tese que eu estou falando. Você deve conhecer pelo menos uma pessoa que já defendeu uma tese. Ou esteja defendendo. Sim, uma tese é defendida. Ela é feita para ser atacada pela banca, que são aquelas pessoas que gostam de botar banca.
As teses são todas maravilhosas. Em tese. Você acompanha uma pessoa meses, anos, séculos, defendendo uma tese. Palpitantes assuntos. Tem tese que não acaba nunca, que acompanha o elemento para a velhice. Tem até teses pós-morte. O mais interessante na tese é que, quando nos contam, são maravilhosas, intrigantes. A gente fica curiosa, acompanha o sofrimento do autor, anos a fio. Aí ele publica, te dá uma cópia e é sempre - sempre - uma decepção. Em tese. Impossível ler uma tese de cabo a rabo. São chatíssimas. É uma pena que as teses sejam escritas apenas para o julgamento da banca circunspecta, sisuda e compenetrada em si mesma. E nós? Sim, porque os assuntos, já disse, são maravilhosos, cativantes, as pessoas são inteligentíssimas. Temas do arco-da-velha. Mas toda tese fica no rodapé da história. Pra que tanto sic e tanto apud? Sic me lembra o Pasquim e apud não parece candidato do PFL para vereador? Apud Neto. Escrever uma tese é quase um voto de pobreza que a pessoa se autodecreta. O mundo pára, o dinheiro entra apertado, os filhos são abandonados, o marido que se vire. Estou acabando a tese. Essa frase significa que a pessoa vai sair do mundo. Não por alguns dias, mas anos. Tem gente que nunca mais volta. E, depois de terminada a tese, tem a revisão da tese, depois tem a defesa da tese. E, depois da defesa, tem a publicação. E, é claro, intelectual que se preze, logo em seguida embarca noutra tese. São os profissionais, em tese. O pior é quando convidam a gente para assistir à defesa. Meu Deus, que sono. Não em tese, na prática mesmo. Orientados e orientandos (que nomes atuais!) são unânimes em afirmar que toda tese tem de ser - tem de ser! - daquele jeito. É pra não entender, mesmo. Tem de ser formatada assim. Que na Sorbonne é assim, que em Coimbra também. Na Sorbonne, desde 1257. Em Coimbra, mais moderna, desde 1290. Em tese (e na prática) são 700 anos de muita tese e pouca prática. Acho que, nas teses, tinha de ter uma norma em que, além da tese, o elemento teria de fazer também uma tesão (tese grande). Ou seja, uma versão para nós, pobres teóricos ignorantes que não votamos no Apud Neto. Ou seja, o elemento (ou a elementa) passa a vida a estudar um assunto que nos interessa e nada. Pra quê? Pra virar mestre, doutor? E daí? Se ele estudou tanto aquilo, acho impossível que ele não queira que a gente saiba a que conclusões chegou. Mas jamais saberemos onde fica o bicho da goiaba quando não é tempo de goiaba. No bolso do Apud Neto? Tem gente que vai para os Estados Unidos, para a Europa, para terminar a tese. Vão lá nas fontes. Descobrem maravilhas. E a gente não fica sabendo de nada. Só aqueles sisudos da banca. E o cara dá logo um dez com louvor. Louvor para quem? Que exaltação, que encômio é isso? E tem mais: as bolsas para os que defendem as teses são uma pobreza. Tem viagens, compra de livros caros, horas na Internet da vida, separações, pensão para os filhos que a mulher levou embora. É, defender uma tese é mesmo um voto de pobreza, já diria São Francisco de Assis. Em tese. Tenho um casal de amigos que há uns dez anos prepara suas teses. Cada um, uma. Dia desses a filha, de 10 anos, no café da manhã, ameaçou: - Não vou mais estudar! Não vou mais na escola. Os dois pararam - momentaneamente - de pensar nas teses. - O quê? Pirou? - Quero estudar mais, não. Olha vocês dois. Não fazem mais nada na vida. É só a tese, a tese, a tese. Não pode comprar bicicleta por causa da tese. A gente não pode ir para a praia por causa da tese. Tudo é pra quando acabar a tese. Até trocar o pano do sofá. Se eu estudar vou acabar numa tese. Quero estudar mais, não. Não me deixam nem mexer mais no computador. Vocês acham mesmo que eu vou deletar a tese de vocês? Pensando bem, até que não é uma má idéia! Quando é que alguém vai ter a prática idéia de escrever uma tese sobre a tese? Ou uma outra sobre a vida nos rodapés da história? Acho que seria uma tesão.
Copyright 1998 - O Estado de S. Paulo


segunda-feira, 26 de novembro de 2012

Reconhecimento científico

Pesquisadora Miriam Tendler foi homenageada com a Medalha Deodoro da Fonseca, concedida pelo Estado de Alagoas, devido ao desenvolvimento da primeira vacina brasileira contra a esquistossomose.Um reconhecimento emocionado.

Foram com essas palavras que a pesquisadora do Laboratório de Esquistossomose Experimental do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz), Miriam Tendler, definiu a homenagem recebida durante a entrega da Medalha Deodoro da Fonseca, promovida pelo Governo do Estado do Alagoas, na última segunda-feira, 19 de novembro.

A medalha é concedida a personalidades que se destacam na defesa da sociedade e da democracia. No caso da Miriam, o prêmio foi entregue pela sua contribuição no desenvolvimento da primeira vacina 100% brasileira e segura contra a esquistossomose, apresentada à população em junho deste ano. A pesquisadora foi a única pessoa dos sete agraciados que não possui nenhum vínculo direto com o Estado.
 
 
 
 
Fonte: Comunicação / Instituto Oswaldo Cruz

domingo, 11 de novembro de 2012

Instituições discriminam mulheres cientistas


SABINE RIGHETTIDE  - SÃO PAULO

Quem conhece a história de Lawrence Summers, ex-reitor de Harvard, pode concordar com um estudo recente que afirma: o preconceito contra mulheres na ciência é, sobretudo, institucional.
Summers ficou conhecido em 2008 por afirmar que as mulheres teriam menos aptidão para a ciência. A frase causou comoção e manifestações de cientistas. Três anos depois, o debate está longe de ser esgotado.
Stephen Ceci e Wendy Williams, da Universidade Cornell, EUA, debruçaram-se sobre 20 anos de dados sobre candidatura a vagas de trabalho, financiamento de pesquisa e publicação de artigos científicos nos EUA.
Eles viram que a quantidade de mulheres na ciência aumentou desde a década de 1970. Mas elas ainda não chegam ao topo por causa da chamada "discriminação institucional".
Por exemplo, as mulheres recebem menos recursos para fazer pesquisa e têm menos oportunidades de trabalho em ciências --especialmente nos cargos de chefia.
O trabalho está publicado na revista científica PNAS ("Proceedings of the National Academy of Sciences").
Editoria de Arte/Folhapress
Os autores verificaram também que, em algumas áreas como na matemática, as cientistas revelam que se sentem tão isoladas e insatisfeitas no meio "masculino", que desistem da carreira.
Para a socióloga da Unicamp Maria Conceição da Costa, que estuda gênero e ciência, a a pesquisa dos EUA faz bastante sentido.
"As mulheres não conseguem alcançar os mesmos patamares porque a maior parte dos comitês de julgamento de bolsas é formado por homens, assim como os líderes de pesquisa e chefes de departamento", diz.

Fonte: FOLHA DE S. PAULO

sexta-feira, 9 de novembro de 2012

X ENAR

 

Entre os dias 7 e 8 de novembro de 2012, participei do X ENAR -  Encontro Nacional de Acervo Raro –  na Biblioteca Nacional, Rio de Janeiro. A temática do evento foi  “Critérios de Raridade de Acervos Raros e Especiais”. No dia 8 de novembro, apresentei a seguinte comunicação: "Uma Breve Análise sobre os Critérios de Raridade Bibliográfica".  O evento  me proporcionou novos aprendizados e o reencontro com amigas e colegas de profissão.
 
O Encontro Nacional de Acervo Raro é um evento bianual realizado pelo Plano Nacional de Recuperação de Obras Raras - PLANOR, da Fundação Biblioteca Nacional. Este Encontro visa expor e discutir a realidade dos acervos raros existentes no País, para troca de experiências e divulgação de ações. Em cada edição, diferentes temáticas são contempladas, permitindo o intercâmbio de ações e experiências.

 

quarta-feira, 31 de outubro de 2012

XIII ENANCIB


 

Entre os dias 29 e 31 de outubro de 2012, participei do XIII ENANCIB 2012 - ENCONTRO NACIONAL DE PESQUISA EM CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO -  que apresentou a temática “A sociedade em rede para a inovação e o desenvolvimento humano”. O ENANCIB  foi realizado no  Centro de Convenções SulAmerica  - Cidade Nova - Centro - Rio de Janeiro - RJ, nos dias 28, 29, 30 e 31 de outubro de 2012. A abertura contou com a palestra da pesquisadora uruguaia Judith Sutz, que falou sobre “Conhecimento, inovação e inclusão social. Potencialidades e limites da sociedade em rede”. Além das apresentações nos GTs, houve a exibição de pôsteres digitais no mezanino do 1º andar do Centro de Convenções.

Apresentei trabalho no GT 11: Informação e Saúde na modalidade comunicação oral, sob o título: GÊNERO E GESTÃO EM CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO EM SAÚDE: UM  OLHAR EXPLORATÓRIO NA FIOCRUZ.

Autoras:
JEORGINA GENTIL RODRIGUES – FIOCRUZ - MARIA CRISTINA SOARES GUIMARÃES – FIOCRUZ


Link para os Anais Digitais

 

Resumo: Esta pesquisa tem como tem por objetivo dar visibilidade à participação feminina nos cargos de tomada de decisão em C&T, especificamente a partir da Constituição Federal de 1988 até 2012. Toma-se como objeto de estudo a Fundação Oswaldo Cruz, uma das principais instituições científicas do país. Será realizado um mapeamento da contribuição feminina para o desenvolvimento das pesquisas em C&T em Saúde em âmbito nacional e internacional. Os dados coletados serão armazenados e estruturados em uma base de dados de forma a proporcionar posteriormente a utilização do software VantagePoint, que permitirá fazer análises quantitativas clássicas da cientometria, traçar redes de cooperação entre mulheres, os temas de pesquisa e evolução ao longo do tempo, parcerias nacionais e internacionais, dentre outros. Como resultado final, a expectativa é propor um modelo de banco de dados capaz de registrar dados e indicadores sobre a equidade de gênero na Fundação Oswaldo Cruz.

Prevendo o futuro



Feito em 1954 (há 58 anos atrás), prevendo o futuro. Naquela época, as pessoas deveriam achar que era [WINDOWS-1252?]“viagem” da General Eletric.
Fonte: youtube.com

quinta-feira, 25 de outubro de 2012

INFORMES

Realizei duas visitas técnicas (agosto e outubro de 2012) a Biblioteca do Ministério da Saúde - MS, Brasília, DF, com o objetivo de avaliar o acervo  que se encontra localizado no subsolo do edifício anexo do MS. Foram avaliados 515 títulos, entre livros e periódicos, com cerca de  3 mil volumes.
 
 
 
 
 
 

HUMOR


sexta-feira, 12 de outubro de 2012

IX CECI



O Sistema de Bibliotecas e Informação da Universidade Federal do Rio de Janeiro (SiBI) realiza nos dias 4 e 5 de dezembro de 2012, o IX CECI – Ciclo de Estudos em Ciência da Informação. O tradicional evento, promovido desde 1987, que nas últimas edições extrapolou as fronteiras da Universidade, congrega além de bibliotecários e profissionais da informação, docentes e estudantes de várias instituições públicas e privadas a nível nacional.
A comemoração, em 2012, dos 120 anos de nascimento e 40 de morte de Shiyali Ramamrita Ranganathan, serve de fio condutor para a nona edição do ciclo de estudos, pois representa uma excelente oportunidade de por em foco a extensa obra desse ícone da Biblioteconomia mundial sob a luz de uma nova era de tecnologias de informação e comunicação.
O principal objetivo do IX CECI é estimular a reflexão a respeito da realidade das bibliotecas brasileiras, sobretudo, nas de instituições envolvidas diretamente com a pesquisa. Proporcionando, dessa forma, a identificação e disseminação das boas práticas desenvolvidas nas unidades de informação participantes.
A estrutura planejada para os dois dias de evento apresenta duas palestras de especialistas; três mesas temáticas; uma exposição das boas práticas nas bibliotecas da UFRJ e 15 trabalhos que serão selecionados por renomada comissão técnico-científica.
 
SUBMISSÃO ATÉ 31 DE OUTUBRO DE 2012 !
 
 
 
 

quarta-feira, 10 de outubro de 2012

FICHAMENTO 7


Fichamento de:

BIAGIOLI, M. Aporias of Scientific Authorship: credit and responsibility in contemporary biomedicine. In: BIAGIOLI, M. (Ed.). The Science Studies Reader. New York: Routledge, 1999. p. 12–30.

Os critérios de autoria propostos pelo Comitê Internacional de Editores de Periódicos Médicos (ICMJE) embora aceitos por grande número de editores de periódicos científicos, nem sempre são reconhecidos pelos pesquisadores. Na última década, a definição de autoria tem sido o tema de muitos artigos e cartas ao editor científico em revistas biomédicas. A posição oficial do ICMJE é que a autoria deve ser estritamente individual, com total responsabilidade pelo que foi publicado, rompendo a noção de autoria múltipla, tornando-a um conjunto de autores distintos, cada um responsável por completo. Estas conduzem a questionamentos acerca da concepção de autoria, em artigos de periódicos. Mas as normas de autoria do ICMJE vêm sendo discutidas, pois a complexidade da ciência de hoje tem exigido que especialistas de áreas muito diversas participem dos projetos. Nem todos esses especialistas têm condições de entender e assumir responsabilidade sobre o trabalho final, embora sua participação possa ter sido crucial. Da mesma forma, fica muito difícil aplicar os critérios a trabalhos multiinstitucionais, às vezes de países diferentes. Com efeito, alguns editores de revistas estão clamando por uma mudança de paradigma na definição de autoria, enquanto outros editores argumentam que "é tempo de abandonar a autoria". E, em meio dessa discussão uma questão mais complexa: a propriedade intelectual. Entretanto, diante da multiplicidade de recursos tecnológicos inseridos na cultura contemporânea e das infindas transformações daí advindas, de caráter social, cultural, econômico e político, a atividade de autoria também sofre mutações. Biagioli (1999) discute a respeito da autoria e da individualidade da mesma. Observa-se que tal discussão não é exclusividade da modernidade, pois segundo o autor antes do que hoje se conhece como propriedade intelectual, antes, no século XVII a responsabilidade por publicações era bastante importante saber a autoria, principalmente dos casos considerados abusivos para a época. O autor nem sempre foi visto como alguém criativo, mais um a pessoa responsável pelo o que estava divulgando, tendo que arcar com os ônus ou bônus do que publicou. O autor começa a tratar dos casos de direitos dos “autores” como detentores de patentes e chama a atenção para a situação dos sistemas de recompensas - crédito científico (posse e bolsas) e a economia de mercado      (propriedade privada e da responsabilidade) - que tem surgido no campo autoral da ciência contemporânea. Tal sistema, de acordo com o texto, pode fazer com que autorias sejam trocadas por créditos a serem utilizados pelos reais autores da forma que lhes provém. Mas, a discussão se desenvolve denunciando que o crédito ganho pelo autor não pode ser substituído ou transferido para outrem. Contudo, é bastante discutida a questão do domínio público do conhecimento em contraponto com a recompensa da ciência pela economia liberal. O autor também discute a respeito da coerência que deve ser mantida na verdade científica apesar da lógica liberal. O crédito científico deve ser honorífico e não monetário, para que não se torne algo mercadológico. Porém, observa-se por parte de alguns cientistas a insatisfação do reconhecimento ser apenas honorífico, porque a lógica econômica atual é monetária e daí que se reconhece o valor na atualidade. Atualmente o autor é visto como um passivo financeiro, onde o produtor não é o autor, mas a empresa que pagou pelo se trabalho. Na realidade o que parece é que o autor perde a autonomia em suas descobertas e passa a ser induzido a realizá-las. Lembrando que ainda existem questões de domínio público, além das que avaliam situações de fraudes científicas. Outra discussão de Biagioli (1999) é sobre a co-autoria e parcerias autorais na biomedicina. Apesar desse tipo de parceria ainda não ser tão expressiva tem se notado um crescente movimento nesse sentido pela necessidade de profissionais de múltiplas habilidades, já que os projetos no campo da biomedicina são muito grandes e necessitam de equipes colaborativas de conhecimentos diversos. Essa colaboração entre autores poderia, de acordo com o artigo, ter possibilitado a distribuição de créditos nos programas de pesquisa colaborativa, trazendo um perfil científico empresarial. Com relação a isso, o que tem acontecido é a negociação de créditos de autoria o que não pode ser aceito no campo das ciências. Além disso, todos os autores de um trabalho devem ter a mesma participação na pesquisa, portanto todos terão a mesma responsabilidade na sua divulgação e nos seus resultados. O autor também discute sobre as situações de fraude relacionadas à geografia da autoria e sobre as questões políticas, econômicas e judiciais envolvidas nos casos de propriedade intelectual, apontando as falhas e os pontos positivos. Com relação à co-autoria existem também os casos de pesquisadores que se unem em uma espécie de consórcio para garantirem que seus trabalhos sejam publicados em revistas de maior prestígio e ficarem conhecidos no cenário científico. Essas manobras fazem com que a questão da responsabilidade autoral seja posta em risco, pois os créditos passam a ser mais necessários em suas carreiras. Além dessas discussões o autor discute a situação da compactação entre o tempo, espaço e trabalho científico, nesse momento o autor divaga sobre a criatividade que envolve o trabalho cientifico e como o mesmo vem se adaptando ao longo do tempo por conta das questões autorais e econômicas. Finalizando, o autor reconhece que a autoria (científica ou não) sempre foi uma questão de compromissos e negociações, e que não surgiram novas condições de mudar isso.

Notícias - Fazendo Gênero 10

A Revista Estudos Feministas, publicada pela Universidade Federal de Santa Catarina, promoverá o evento “Militância e Academia nas Publicações Feministas”, em comemoração aos seus 20 anos, nos dias 7, 8 e 9 de novembro.
Convida a todas e todos a participarem do evento e a trazerem suas publicações feministas. O prazo para inscrição de lançamentos, tanto de livros quanto de revistas, vai até o dia 20 de outubro. É preciso apenas encaminhar a ficha anexa ao e-mail 20.anos.ref.lancamento@gmail.com.

 
 
FG10: Estão abertas a inscrição para propor ST no Fazendo Gênero 10: Desafios Atuais dos Feminismos. As normas e orientações estão disponíveis no menu Inscrições. As propostas podem ser encaminhadas, através do sistema, até o próximo dia 15 de outubro.

terça-feira, 9 de outubro de 2012

Direitos Humanos, Saúde e Movimentos Sociais


Nos dias 8 e 9 de outubro, participei  do seminário Diálogos entre a Academia e os Movimentos Sociais: uma reflexão sobre a agenda política dos movimentos de mulheres, LGBT e de direitos humanos que discutiu a importância dos movimentos sociais na disseminação e apropriação do conhecimento pela sociedade. O evento foi  aberto ao público e  realizado no salão internacional da ENSP/Fiocruz.
 
 As mesas
 
 No dia 8 de outubro, pela manhã, a primeira mesa do seminário contou com a presença do Deputado Federal, Jean Wyllys, e da representante da Secretaria de Políticas para as Mulheres, Hildete Melo. Na parte da tarde, a outra mesa foi formada com a participação da doutoranda de Serviço Social da UFRJ Roseli Rocha e do docente da Universidade Estadual do Rio de Janeiro Marco José Duarte. O primeiro dia do evento debateu a igualdade de direitos constitucionais entre heterossexuais e homossexuais.
No dia  9 de outubro, a mesa  contou com a participação do consultor em Gênero e Masculinidades, Marcos Nascimento, e da representante da Associação de Travestis e Transexuais do Rio de Janeiro (Astra-Rio), Barbara Aires. Esta mesa abordou a violência de gênero e a luta por direitos protagonizada por transexuais.
 O seminário foi organizado pela coordenação do curso de especialização Gênero, Sexualidade e Direitos Humanos do Grupo Direitos Humanos e Saúde (Dihs/ENSP).
 
 

REFLEXÃO: 2012

 
 
Fonte: http://www.tarotdoor.com/http://www.tarotdoor.com/

segunda-feira, 1 de outubro de 2012

Mostra relativa à Virtude da Humildade

Link para o vídeo produzido pela TV Brasil sobre a Mostra relativa à Virtude da Humildade, em cartaz na Divisão de Obras Raras da Biblioteca Nacional:
 

 
Endereço: Av. Rio Branco, 219 – Centro - Rio de Janeiro-RJ .
 
 
 

FICHAMENTO 6


LÉVI-STRAUSS, Claude.  Raça e História. São Paulo: Abril Cultural, 1980. p. [53]-93. (Os Pensadores, 50).

A contribuição de Lévi-Strauss, com “Raça e História”, foi oferecer um argumento capaz de remediar um grave problema da doutrina anti-racista da Unesco. A solução propagada por Lévi-Strauss consistiu em demonstrar que a habilidade para realizar progressos culturais não estava ligada à superioridade de uma sociedade em comparação a outras, mas, ao contrário disso, à aptidão de cada um para estabelecer intercâmbios mútuos com outros. Assim, ao tornar os intercâmbios a condição fundamental do progresso, “Raça e História”, estava em perfeita harmonia com a ideologia da cooperação, cuja divulgação a Unesco desejava promover.  Em “Raça e História”, Lévi-Strauss diz que não se pode falar em contribuições das raças a civilização, quando se pretende lutar contra os preconceitos raciais e explica que fazer isto seria caracterizar as raças biológicas por propriedades psicológicas particulares, o que nos afastaria da verdade científica, mesmo que estivéssemos definindo-as positivamente, O "pecado original da antropologia" consiste na confusão entre noção puramente biológica e produções sociológicas e psicológicas das culturas humanas. Mas dizer que as contribuições culturais não têm nenhuma relação com a constituição anatômica e fisiológica não elimina a diversidade de sociedades e civilizações. Tal diversidade das culturas humanas, diz Lévi-Strauss, corre o risco de ver os “preconceitos racistas, apenas desenraizados da sua base biológica, voltarem a formar-se num novo campo”. Lévi-Strauss defende que negar que existam "aptidões raciais inatas" também não resolve o problema levantado pela civilização do homem branco, que alcançou progresso notável enquanto outras raças permaneceram e permanecem atrasadas: e necessário, então, ir além da negativa e nos "debruçarmos" sobre outro aspecto, o da desigualdade – ou diversidade das culturas humanas.  Quando Lévi-Strauss fala em diversidade de culturas humanas pode-se considerar sociedades contemporâneas ou sociedades que se desenvolveram no passado:  "a diversidade das culturas humanas é de fato no presente, de fato também de direito no passado, muito maior e mais rica do que tudo o que estamos destinados a conhecer a seu respeito". Mas reconhecer estas limitações não e suficiente: nas sociedades humanas existem “[...] forças que trabalham ao mesmo tempo em direções opostas, umas tendendo para a manutenção e mesmo e mesmo para a acentuação dos particularismos, outras agindo no sentido da convergência e da afinidade” (p.56).  O estudo da linguagem oferece exemplos de tais fenômenos. E mais, há as relações recíprocas e a diversificação interna “[...] não tende a aumentar quando a sociedade se torna, sob outras relações, mais volumosa e mais homogênea [...]”(p.56). A diversidade adverte o autor, não deve ser "uma observação fragmentadora ou fragmentada": ela existe em função das relações que une os grupos, muito mais do que o isolamento destes.  A diversidade das culturas não e considerada como um fenômeno natural, diz Lévi-Strauss: "a noção de humanidade, a englobar sem distinção de raça ou de civilização todas as formas da espécie humana, apareceu muito tardiamente, e teve expansão limitada". Mas a simples afirmação de igualdade natural para todos contém algo de enganoso, para o autor: não é possível por de lado, simplesmente, a diversidade que existe de fato porque não e possível admitir o homem realizando sua natureza numa humanidade abstrata. Ao contrario, o homem se realiza em culturas tradicionais e as modificações se explicam em função de situações definidas no tempo e espaço. Lévi-Strauss critica o "falso evolucionismo" como uma "tentativa para suprimir a diversidade das culturas, fingindo reconhecê-las plenamente": a humanidade deve tornar-se una e idêntica em si mesma.  O que existe como diversidade não passa de etapas ou estágios de um único desenvolvimento. O autor traça uma diferença entre evolucionismo biológico do "pseudo evolucionismo", advertindo que quando se "passa de fatos biológicos para fatos culturais as coisas mudam". O evolucionismo biológico esta provavelmente carreto para raças e animais, diz o autor, mas não tem a mesma relação na evolução social e cultural. Pois, argumenta Lévi-Strauss, como vamos desenterrar crenças, gostos de um passado desconhecido ou como vamos considerar que um machado dá origem física a outro machado? Lévi-Strauss critica e evolucionismo que procura estabelecer analogias entre culturas comparando-as com a civilização ocidental: pois as tentativas de conhecer a riqueza e a originalidade das culturas humanas, e de reduzi-las ao estado de replicas desigualmente atrasadas da civilização ocidental, se chocam com outra dificuldade.  As sociedades humanas têm atrás de si um passado que e aproximadamente da mesma ordem de grandeza. Há se pode admitir a ideia de etapas do desenvolvimento porque as culturas não são estáticas, não existem "povos sem história", existem povos do qual não conhecemos o passado. Lévi-Strauss admite uma concepção que distingui duas espécies de história para interpretar a diversidade: uma história progressiva, aquisitiva e outra história sem este dom sintético. A hipótese de uma evolução para hierarquizar culturas contemporâneas em números casos foi desmentida pelos fatos quando se pretendia estabelecer analogias. Do mesmo modo, os fatos demonstram que não se podem traçar esquemas para sociedades que nos precederam no tempo: "o desenvolvimento dos conhecimentos pré-históricos e arqueológicos tende a desdobrar no espaço formas de civilização que estávamos levados a imaginar como escalonadas no tempo", diz Lévi-Strauss para acrescentar em seguida que o progresso se da aos saltos, não linearmente, tendo sempre vários caminhos que pode percorrer. A História pode ser cumulativa, em alguns casos, o que "não é privilégio de uma civilização ou de um período histórico", diz o autor, exemplificando com á América, aonde se desenvolveram culturas com História acumulativa.  Para Lévi-Strauss, considerar a América como exemplo de História cumulativa é fruto de um interesse do homem ocidental em aproveitar certas contribuições dos Índios Americanos, diz Lévi-Strauss, pois a tendência e considerarmos os aspectos de uma cultura que tem significação para nós, qualificando-a de "cumulativa". Mas quando a linha de desenvolvimento de uma cultura nada significa para nós, nós a qualificamos de estacionária. "Todas as vezes que somos levados a qualificar uma cultura humana de inerte ou de estacionária, devemos, pois, nos perguntar se este imobilismo aparente não resulta da nossa ignorância sobre os seus verdadeiros interesses, conscientes ou inconscientes, e se, tendo critérios diferentes dos nossos, esta cultura não é, em relação a nós, vítima da mesma ilusão” (p.73). Esta atitude nos leva a apreendermos a historicidade de uma cultura não de acordo com suas propriedades intrínsecas, mas sim de acordo com o número e a diversidade de nossos interesses que estão engajados nelas. Com isto, Lévi-Strauss quer dizer que não devemos confundir com imobilismo a nossa ignorância dos interesses verdadeiros de uma cultura, ao mesmo tempo em que esta por ser dotada de critérios diferentes, tem o mesmo julgamento de nós. Ou nas palavras do autor: "pareceríamos uns aos outros como desprovidos de interesse, muito simplesmente porque não nos assemelhamos". A originalidade das culturas, diz Lévi-Strauss, "reside mais na sua maneira particular de resolver problemas, de por em perspectivas valores, que são aproximadamente os mesmos para todos os homens: pois todos possuem uma linguagem, técnicas, arte, conhecimentos de tipo cientifico, crenças religiosas", ainda que dosados de maneiras diversas. Para Lévi-Strauss o fenômeno da universalização da civilização ocidental é difícil de ser avaliada: “Primeiro, a existência de uma civilização mundial é um fato provavelmente único na história e cujos precedentes deveriam ser procurados numa pré-história longínqua, sobre a qual não sabemos quase nada. Em seguida, reina uma grande incerteza sobre a consistência do fenômeno em questão. Na verdade desde há século e meio, a civilização ocidental tende, quer na totalidade, quer para alguns dos seus elementos-chave como a industrialização, a expandir-se no mundo; e que, na medida em que as outras culturas procuram preservar algo de sua herança tradicional, esta tentativa reduz-se geralmente às superestruturas, isto é, aos aspectos mais frágeis e que podemos supor serem varridos pelas profundas transformações que se verificam” (p.77-78).  Adesão ao gênero de vida ocidental se da em desigualdade de forças o que leva a Lévi Strauss considerar que as sociedades não se entregam com tanta facilidade e que esta adesão se deve mais a uma ausência de escolha. E Lévi-Strauss constata o quanto dependemos ainda das imensas descobertas que marcou o que se denomina, sem qualquer exagero, a "revolução neolítica"- agricultura, criação, cerâmica e tecelagem. Lévi-Strauss descarta a possibilidade do acaso nas grandes invenções da humanidade no passado e diz que a revolução industrial e cientifica do Ocidente "se inscreve totalmente num período igual a cerca de meio milésimo da vida passado da humanidade". E nos convida s a sermos modestos antes de pensarmos que ela esta destinada a mudar-lhe totalmente o significado ou reivindicarmos prioridades para uma raça, uma região ou uma pais: "e se, como é verossímil, ela deve estender-se totalidade da terra habitada, cada cultura introduzira nela tantas contribuições particulares que o Historiador dos futuros milênios, legitimamente, considerará fútil a questão de saber quem pode, dentro de um ou dois séculos, reclamar a prioridade para o conjunto. Lévi-Strauss diz que a diferença entre culturas não pode ser cumulativa ou não, conceito que além de depender do relativismo de nossos interesses e negado ainda pelo fato de que: “A humanidade não evolui num sentido único. E se, num certo plano, ela parece estacionaria ou mesmo regressiva isso não significa que, de outro ponto de vista, ela não seja o centro de importantes transformações” (p.86). O principal absurdo de considerarmos uma cultura superior a outra, diz Lévi-Strauss, consiste no fato de que a medida que uma cultura esta sozinha ela elabora muito pouco de História acumulativa: "nenhuma cultura esta só; ela é sempre capaz de coligações com outras culturas, e isso que lhe permite edificar séries cumulativas. A possibilidade que tem uma cultura de totalizar este conjunto complexo de invenções de todas as ordens que chamamos civilização e função do número e da diversidade das culturas com que ela participa na elaboração – na maioria das vezes involuntária – de uma estratégia comum. Não se pode, portanto fazer uma lista das invenções particulares diz Lévi-Strauss, porque a verdadeira contribuição das culturas esta no afastamento diferencial que elas apresentam entre si; civilização implica coexistência de culturas que ofereçam entre si o máximo de diversidade, e consiste mesmo nessa própria coexistência. "Neste sentido, podemos dizer que a história cumulativa é a forma característica de história desses superorganismos sociais que os grupos de sociedade constituem, enquanto que a história estacionária — se é que verdadeiramente existe — seria a característica desse gênero de vida inferior que é o das sociedades solitárias". (p. 89).

 

Bibliografia de Apoio:

 
GOLDMAN, Marcio. Lévi-Strauss e os sentidos da História. Rev. Antropol.  v.42, n.1-2,  p. 223-238, 1999. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0034-77011999000100012&script=sci_arttext  Acesso em 04 jun. 2010.

 
MENDONÇA, J. L.  Autor de "Raça e História" morre aos 100 anos. Jornal de Angola on line. 5 nov. 2009. Disponível em: http://jornaldeangola.sapo.ao/17/0/autor_de_raca_e_historia_morre_aos_100_anos. Acesso em 04 jun. 2010.

segunda-feira, 24 de setembro de 2012

HUMOR


 
Fonte: Google Imagens

FICHAMENTO 5


Fichamento de:

 NUNES, João Arriscado. As dinâmicas da(s) ciência(s) no perímetro do centro: uma cultura científica de fronteira? Revista Crítica de Ciências Sociais, Coimbra, n. 63, 2002, p. 189-198.

No presente artigo o autor tem como objetivos equacionar as condições de translocalização e de globalização das ciências modernas, bem como as condições específicas da sua institucionalização e da atividade científica em Portugal que se situa “na semiperiferia do sistema-mundo”. Isso fica bem claro quando Nunes (2002, p.189) avalia que devido à condição de Portugal ser uma “[...] sociedade semipériferica integrada numa região central do sistema-mundo- a União Européia – [...]”. O artigo apresenta especificidades que são examinadas pelo autor por ser ainda um fenômeno recente no processo de criação e institucionalização de um sistema nacional de investigação e desenvolvimento e que figuram uma cultura científica de fronteira. De acordo com Nunes (2002, p.189-190): “O esquecimento da história das ciências, dos contextos sociais e culturais e dos conflitos em que elas emergiram teve três conseqüências importantes: em primeiro lugar, a eliminação da memória dos espaços e dos tempos específicos em que se forjaram as idéias, os instrumentos, as práticas e as instituições das ciências; segundo lugar, o esquecimento dos conflitos e das contradições e tensões que atravessaram a história das ciências, que tiveram na origem da sua ‘desunidade’ das continuidades e descontinuidades com outros saberes e modelos de conhecimento; e finalmente, a estreita relação que as ciências modernas, ocidentais mantiveram com dinâmicas de denominação social, económica e militar, que resultaram na marginalização, exclusão ou mesmo destruição de modos de conhecimento diferentes, radicados em experiências históricas distintas”. Ao forja-se uma imagem de unidade epistemológica e de modo privilegiado de acesso ao conhecimento do mundo natural e social, estas se transformaram “[...] a Ciência num dos meios mais poderosos de produção da globalização cultural no mundo contemporâneo, num dos terrenos mais importantes em que se enfrentam as dinâmicas contraditórias da globalização e da localização, da territorialização e da desterritorialização, num domínio em que configuram de modo muito visível as hierarquias e desigualdades que definem as diferentes ordens mundiais que se foram forjando ao sabor das transformações históricas dos últimos cinco anos” (NUNES, 2002, p.191). Na atualidade, a produção científica realiza-se em instituições e unidades de investigação científica e tecnológica que mantêm diversos vínculos e inter-relações com instituições governamentais responsáveis pela definição das políticas de investigação e desenvolvimento e pela distribuição dos recursos financeiros, e também em empresas ou laboratórios privados que definem os seus próprios objetivos e interesses. Muitas atividades que buscam nas as ciências sua legitimação social – como a medicina e engenharia – organizam-se em profissões numa base nacional.  Mas tanto as ciências quanto as profissões de base científica “[...] fazem assentar a sua autoridade na invocação da validade universal dos seus conhecimentos e procedimentos, uma validade sancionada pela participação em comunidades que transcendem as fronteiras dos Estados nacionais” (NUNES, 2002, p.191). A transnacionalização é, sem dúvida, um dos processos que mais bem definem a especificidade das actividades e profissões associadas à ciência e tecnologia. É importante reconhecer as especificidades dos processos de globalização das ciências quando confrontados com a transnacionalização e a globalização. Este processo de globalização da ciência não decorre de qualquer inerência da sua universalidade – isto é, da validade das suas proposições e procedimentos independente das circunstancias em que eles são acionados -, conforme o autor, é esse trabalho que permite, seguindo a tipologia dos modos de produção da globalização proposta por Boaventura de Sousa Santos (2001), descrever as ciências modernas, herdeiras da Revolução Científica, como um conjunto de criações situadas no tempo e no espaço e que se globaliza em virtude de sua translocalização. Para o autor, os processos de translocalização das ciências e do conhecimento e dos objetos científicos podem assumir, em primeiro lugar, a forma de translocalização das tecnologias através da reprodução do espaço material e competências técnicas que definem um determinado laboratório.  A globalização das ciências corresponderá à constituição de uma rede de laboratórios capaz de replicar e reproduzir de forma ‘robusta’ os mesmos procedimentos. Nunes (2002, p. 193) enfatiza que uma conseqüência desta definição será “a marginalização ou exclusão de formas alternativas ou locais de produção do conhecimento ou do próprio conhecimento que neles se produz, relegando-os para o domínio dos ‘outros’ desqualificados da Ciência”. Em segundo lugar, a translocalização passa pela formação e recrutamento de cientistas e técnicos credenciados que, mesmos na ausência de condições ideais, podem assumir uma posição uma posição de validar, marginalizar ou excluir aqueles que não possuem credenciais escolares, acadêmicas ou profissionais adequadas.   O autor deixa claro que a criação de instituições de formação – escolas, Universidades – é um aspecto fundamental desse processo. Nunes (2002), citando Latour (1987), Shapin e Schaffer (1985), destaca que a autoridade e a credibilidade da ciência são incorporadas em objetos impressos (manuais escolares, acadêmicos, periódicos especializados, etc.), eletrônicos (em meio digital e internet) ou de outro tipo de suporte de registro de informação, são caracterizados pela sua condição comum de “móveis imutáveis” (p.193). Nunes (2002) procura averiguar o modo como variações locais entre laboratórios são mediadas por diferenças nos meios sociais e culturais locais e nacionais em que os laboratórios se situam, em função da sua posição no sistema mundial da ciência. Em Portugal, as ciências exibem um conjunto especificidades históricas que são inseparáveis da condição semipériferica da sociedade portuguesa. Entre elas, uma forte heterogeneidade interna, expressa, nomeadamente, “nas fronteiras fluídas ou flutuantes entre disciplinas e domínios de investigação” (NUNES, 2002, p.194); a heterogeneidade das carreiras dos cientistas; o envolvimento desigual de grupos de instituições de pesquisa com as ciências transnacionais; a forte feminização (em termos relativos) de muitas áreas da investigação, em paralelo com dificuldades de acesso de mulheres aos lugares de topo das carreiras científicas e acadêmicas e aos cargos de direção de instituições de pesquisa e investigação e a acentuada dependência em relação a financiamentos oriundos de programas europeus. É no quadro dos processos de europeização” das ciências em Portugal que algumas das tensões que caracterizam a condição semiperiférica da sociedade portuguesa ganham maior visibilidade. O autor destaca que a integração européia teve dois tipos de conseqüências importantes, umas no domínio da policy for science, outras no da science for policy. Portugal, em relação à policy for science, criou um sistema Portugal de investigação em ciência e tecnologia. Em relação à science for policy, foram criados quadros normativos que obrigaram à produção de uma legislação nacional em áreas como o ambiente ou a genética humana, ou seja, foi criado um espaço de legitimação da intervenção ativa dos cidadãos. Nunes (2002) alerta que estas transformações ainda são frágeis. Os financiamentos para pesquisa e investigação continuam fortemente dependentes dos fundos europeus e o esforço do Estado português está muito aquém do esperado e desejado.  Finalizando, os estudos incluídos no livro Enteados de Galileu? (NUNES; GONÇALVES, 2001), identificam as condições históricas e contemporâneas dependência da Ciência em Portugal e de inserção de uma “sociedade semiperiférica nos mundos transnacionais da ciência” (NUNES, 2002, p. 195) e oferece uma reflexão sobre “esse espaço de fronteira” (p.197) como um espaço dinâmico de invenção e de inovação, de exploração de novos processos de produção de conhecimento mais críticos.

INFORMES


Encaminhei o trabalho Gênero e Gestão em Ciência, Tecnologia e Inovação em Saúde: um olhar exploratório na Fiocruz” que foi aprovado para apresentação no XIII Enancib, na modalidade comunicação oral. O evento vai acontecer entre 28 a 31 de outubro de 2012, no Rio de Janeiro.

sexta-feira, 21 de setembro de 2012

Fazendo Gênero 10

O Seminário Internacional Fazendo Gênero 10 - Desafios Atuais dos Feminismos se realizará em Florianópolis, Santa Catarina, entre 16 a 20 de setembro de 2013 e será promovido pelo Centro de Filosofia e Ciências Humanas, pelo Centro de Comunicação e Expressão, bem como por outros Centros da UFSC, em parceria com o Centro de Ciências Humanas e da Educação da UDESC.
O Fazendo Gênero 10 visa favorecer a articulação dos estudos de gênero com abordagens que envolvem outras categorias de análise como classe, raça, etnia, e gerações; criar espaços de troca de experiências e diálogo entre investigadoras/es acadêmicas/os e aquelas/es ligadas/os a outras entidades e aos movimentos sociais; incentivar a participação de estudantes de graduação e de pós-graduação nas discussões travadas no campo dos estudos feministas e de gênero, possibilitando uma formação mais qualificada na área, e produzir conhecimentos que possam resultar em material bibliográfico a ser publicado em livros e periódicos sobre o tema.
A concepção geral do evento parte de considerar que, apesar dos avanços obtidos por meio das inúmeras lutas travadas pelas mulheres, muitos obstáculos persistem, alguns se re-configuraram, outros emergiram, exigindo por isso mesmo o debate em torno dos Desafios Atuais dos Feminismos, os quais incluem, entre outros, a baixa participação das mulheres nas instâncias de poder político; as desigualdades de gênero no âmbito do trabalho e da distribuição de renda; as dificuldades enfrentadas no âmbito das lutas pelo direito ao aborto; as violências domésticas e institucionais de gênero; a grave situação das mulheres, principalmente de baixa renda, nos contextos pós-coloniais e transmodernos; as iniquidades em saúde; as contramarchas nas lutas pelos direitos LGBT e contra os efeitos de subordinação das interseções de gênero, classe, gerações e raça/etnia; as assimetrias de gênero no âmbito da participação das mulheres na produção do conhecimento científico; a inserção significativa das mulheres nas mobilidades contemporâneas, etc.


 
 
Cronograma

                                                                 2012

  • 20 de agosto de 2012 a 15 de outubro de 2012 - Inscrição das propostas de Simpósios Temáticos;
  • 15 de novembro de 2012 - Divulgação da relação dos Simpósios Temáticos aprovados;
  • 20 de novembro de 2012 - Abertura de inscrições para apresentação de trabalhos nos Simpósios Temáticos e para inscrições de Pôsteres;
  • 25 de novembro de 2012 - Abertura das inscrições para a Mostra de Fotografias e para a Mostra Audiovisual.
 2013
  • 20 de março de 2013 - Encerramento do período de inscrições para Comunicações Orais e Pôsteres;
  • 25 de março de 2013 - Início das inscrições para a modalidade Ouvinte
  • 25 de março de 2013 - Abertura das inscrições para propor Minicurso ou Oficina
  • 31 de março de 2013 - Encerramento das inscrições para a Mostra Audiovisual e para a Mostra de Fotografias
  • 27de maio de 2013 - Encerramento das inscrições para propor Minicurso ou Oficina
  • 30 de maio de 2013 -Divulgação da relação dos trabalhos aprovados pel@s coordenador@s de STs e divulgação da lista dos Pôsteres aprovados
  • 06 de junho de 2013 - Resultado da avaliação dos Minicursos e Oficinas
  • 07 de junho de 2013- Início das inscrições para participantes de Minicurso ou Oficina
  • Junho de 2013 - Confecção do Caderno de Programação do evento
  • 04 de julho de 2013 - Prazo final para entrega do texto completo das Comunicações Orais
  • 12 de agosto de 2013 - Encerramento das inscrições para a Modalidade Ouvinte
  • 12 de agosto de 2013 - Encerramento das inscrições para Minicurso ou Oficina (ou até o término das vagas)
  • 15 de dezembro de 2013 - Publicação dos textos completos apresentados em Simpósios Temáticos no site do Fazendo Gênero 10. Somente serão publicados os trabalhos realmente apresentados pel@s autor@s.

sábado, 8 de setembro de 2012

Um percurso invulgar

Crítica: História da Ciência e suas Reconstruções Racionais

 
Pedro Galvão

LAKATOS, I. História da ciência e suas reconstruções racionais.Tradução de Emília Picado Tavares Marinho Mendes. Lisboa: Edições 70, 1998.

Quando tentam compreender o método científico, os filósofos desenvolvem diversas concepções da racionalidade científica e interpretam a história da ciência de acordo com essas concepções. Filosofias da ciência diferentes produzem assim reconstruções racionais diferentes para a história da ciência. Mas em que diferem essas reconstruções? Será que alguma delas é superior às restantes? Imre Lakatos ocupou-se seriamente destas questões. Examinou com acuidade as filosofias da ciência mais influentes e propôs a metodologia dos programas de investigação, uma tentativa original de proporcionar uma melhor reconstrução racional da história da ciência. Essa tentativa estrutura os ensaios reunidos em “História da ciência e suas Reconstruções Racionais”. Com este livro, as Edições 70 dão a conhecer ao público português a obra de Lakatos, um dos filósofos da ciência mais marcantes deste século.
Lakatos teve um percurso filosófico invulgar. Morreu em 1974 com pouco mais de 50 anos, e tinha já cerca de quarenta quando iniciou as investigações que o tornaram conhecido. Karl Popper foi quem mais influenciou essas investigações. “Mais do que ninguém”, declara Lakatos, “ele mudou a minha vida. Tinha quase quarenta anos quando entrei no campo magnético do seu pensamento. A sua filosofia ajudou-me a fazer a ruptura final com a visão hegeliana do mundo, que eu defendera durante cerca de vinte anos.” Na década de intensa actividade que precedeu a sua morte, Lakatos não chegou a publicar qualquer livro, mas muitos dos seus artigos foram postumamente reunidos em três volumes. O primeiro, “Proofs and Refutations”, apresenta-nos um diálogo delicioso sobre a lógica da descoberta matemática. Os outros volumes receberam o título convencional de “Philosophical Papers”, e é de um deles que provêm os ensaios traduzidos agora para português.
O ensaio introdutório ocupa-se do problema da demarcação entre ciência genuína e pseudociência. A resposta de Popper para este problema diz-nos que as teorias científicas distinguem-se das pseudocientíficas em virtude de serem refutáveis, e que a atitude científica consiste em submeter as teorias a “testes cruciais” que visam refutá-las ou falsificá-las. Lakatos, no entanto, considera ingénuo o falsificacionismo de Popper, alegando que este não está de acordo com o comportamento dos cientistas. Quando rejeitam uma teoria, os cientistas não o fazem “apenas porque os factos a contradizem”. Perante dados empíricos adversos, não hesitam em invocar hipóteses auxiliares para salvar as teorias. Vêem esses dados não como “refutações” das suas conjecturas, mas como simples “anomalias” que não requerem uma solução imediata. Os testes cruciais de que Popper fala são assim ficções historicamente infundadas; os relatos desses testes “são forjados muito depois de as teorias terem sido abandonadas”. Como alternativa ao falsificacionismo, Lakatos sugere que para resolver o problema da demarcação é melhor pensar não em teorias ou conjecturas isoladas, mas em unidades mais abrangentes, pois “a ciência não é simplesmente ensaio e erro, uma série de conjecturas e refutações”. Lakatos designa essas unidades por “programas de investigação”. A questão torna-se assim a de saber o que é um programa de investigação e o que torna científico um desses programas.
No segundo ensaio, que intitula o livro, Lakatos explora em profundidade as relações entre a filosofia e a história da ciência, acabando por apresentar a sua própria metodologia filosófica como um programa de investigação historiográfico. Para além de desenvolver a crítica ao falsificacionismo, Lakatos examina as metodologias indutivista e convencionalista. Enquanto os indutivistas destacam na história da ciência a realização de generalizações a partir de proposições bem comprovadas, os convencionalistas valorizam antes a descoberta de sistemas de classificação novos e mais simples. Para Lakatos, no entanto, os grandes momentos da história da ciência resultam de programas de investigação “progressivos”. Mas o que é afinal um programa de investigação? No terceiro ensaio, onde Lakatos mostra como as diversas filosofias da ciência reconstroem a revolução copernicana, encontramos a resposta mais elaborada para esta questão. Um programa de investigação consiste numa série de teorias em desenvolvimento. Essas teorias giram em torno de um “centro firme” constituído pelas proposições fundamentais do programa, que dão origem a inúmeros problemas e são consideradas irrefutáveis. A “heurística” do programa proporciona meios para resolver esses problemas, e a sua “cintura protectora” de hipóteses auxiliares protege o núcleo firme. Quando as modificações teóricas conduzem a previsões bem sucedidas de factos novos, o programa é progressivo, mas se essas modificações forem apenas manobras “ad hoc”, então o programa torna-se degenerativo. Lakatos defende que, entre as metodologias disponíveis, só a dos programas de investigação permite considerar racional a revolução copernicana, sendo esse o seu grande mérito em relação às metodologias rivais.
Com “História da ciência e suas Reconstruções Racionais”, o leitor português pode conhecer o pensamento de Lakatos numa boa tradução. Falta agora traduzir, e publicar, o admirável “Proofs and Refutations”.

Pedro Galvão
 
Texto originalmente publicado no Público.

FICHAMENTO 4


SHAPIN, S. The Scientific Life: a moral history of a late modern vocation. Chicago: University of Chicago Press, 2008. p. 132-265.

Steven Shapin é um dos mais renomados historiadores e sociólogos da ciência na atualidade. Em sua obra The Scientific Life (2008) ele mostra como a pesquisa científica tornou-se tão altamente empreendedora que os cientistas tenham sido “eclipsados” neste processo e que os regimes de financiamento contemporâneos tendem, de forma sutil, a corroer a integridade da ciência e descreve como o modelo de pesquisa em universidades norte-americanas está ameaçado. Shapin não descreve como realizou a pesquisa, mas utiliza dados numéricos apresentados em tabelas para subsidiar as conclusões de seu estudo. O trabalho empírico de Shapin tem grande peso acadêmico. Para Shapin, as universidades estão cada vez mais dependentes de investimentos externos. Com isso, as instituições ficam mais vulneráveis a pressões políticas, inclusive do governo norte-americano. Neste capítulo, Shapin descreve as mudanças na ecologia do conhecimento, com seus diferentes ambientes e relações com o mundo atual, tendo como objeto de estudo a pesquisa acadêmica nas universidades.  Desde a II Guerra Mundial a velocidade do desenvolvimento científico de vanguarda nos Estados Unidos teve influência na investigação universitária internacional. O idioma inglês se tornou a “língua franca” da ciência. Essa predominância norte-america ocorre devido a fatores como: maciço investimento público na ciência, laços entre a comunidade de pesquisa, por meio das instituições de pesquisa e desenvolvimento (P&D) e o setor produtivo, além da à capacidade dos Estados Unidos em exercerem a liderança efetiva no mundo acadêmico. As políticas públicas eram basicamente políticas de promoção do desenvolvimento tecnológico que se estabelecia e não havia lugar para as conseqüências negativas da mudança tecnológica. Conforme o autor, poucos estudiosos têm examinado o processo adaptativo que tem facilitado a constante renovação da ciência norte-americana. O desenvolvimento sistemático da pós-graduação nos Estados Unidos pode ser considerado como produto da influência germânica e coincide com as grandes transformações das universidades americanas nas últimas três décadas do século passado. É quando a universidade deixa de ser uma instituição apenas de formação de profissionais para dedicar-se às atividades de pesquisa científica e tecnológica.  Shapin levanta as seguintes questões: Como as universidades conseguem acompanhar o caráter mutável da economia da pesquisa científica? Ao fazê-lo, como as universidades produzem mudanças na ecologia do conhecimento nos EUA na contemporaneidade?  Shapin tenta traduzir em números a questão de como relacionar o modelo de pesquisa acadêmica com a pesquisa básica. Ele fala dos fluxos de recursos, que materializam as pesquisas. O crescimento da pesquisa básica acontece a partir dos investimentos concentrados fortemente nos laboratórios particulares e na academia: quem recebe mais investimentos é quem produz primeiro pesquisa básica e depois, em um segundo momento, pesquisa aplicada. Segundo as amostras de Shapin, quanto mais à pesquisa acadêmica tenta responder a dicotomia universidade x indústria ou universidade x empresa, menos a questão da escassez de recursos é esclarecida. Shapin cita a administração de Bush para falar do auto-investimento e macro planejamento que seu governo imprimiu no contexto do pós-guerra.  Conforme Shapin (2008, p. 137): “First they sought to replace the ‘transmission belt’ metaphor, which connected discoveries of basic research with the spawning of applied research, technology; and the eventual development of products. In its stead they posited a reciprocal relationship whereby technological development in itselfyields basic discoveries, or raises problems that inspire basic science. From this perspective, he rationale for basic research assumes somewhat different formo Insteadof arising purely from scientific paradigms, research questions may alsoarise from technology and thus be consumer driven. This view has implications for supportingesearch as weli. Instead of relying on scientists in the field to initiate proposals for basic research, science might better be managed in ways that would recognize and incorporate consumer demands”. Os possíveis vínculos e tensões entre a ciência básica e a ciência aplicada têm sido objeto de constante preocupação. A pesquisa acadêmica, assim, passa a se ver dando conta de uma associação entre e o que seria a pesquisa básica e a pesquisa aplicada. A tese de Shapin é de que fortalecer a pesquisa básica seria também fortalecer a pesquisa aplicada. Em relação aos regimes de financiamento para a ciência, a legislação Bayh-Dole, criada em de 1980, praticamente induz a transferência de tecnologia entre a universidade-empresa e atua, basicamente, sobre a comercialização dos resultados de pesquisa das universidades deixando um hiato: se a pesquisa realizada é básica ou aplicada. Nos Estados Unidos as universidades e grupos de pesquisa são os que mais têm patentes, mais produzem patentes. Com relação à infra-estrutura básica para as pesquisas e fluxo de pesquisadores, Shapin fala da perda de financiamentos, uma vez que para ter financiamentos tem que ter produção de artigos. Há o questionamento de quantas publicações daquele determinado pesquisador já foram publicados; quantas especializações têm. Então, a partir de suas qualificações o pesquisador vai se destacando para possíveis financiamentos. As patentes são regras negociáveis com os atores envolvidos. Assunto delicado para se tratar. Finalizando, Shapin aponta como uma das maiores dificuldades no dia de hoje manter a infra-estrutura de pesquisa (na biociência, biomedicina), com todo o seu aparato tecnológico que lhe é peculiar. Hoje, “fazer ciência” é manter um laboratório nos padrões da lógica norte-americana de competitividade – ou seja: “se não tenho suporte financeiro não consigo nada”. Contudo, a participação do financiamento empresarial na pesquisa universitária deve merecer cautela para que não ocorra privatização (capitalização) do saber, o que acarretaria uma perda considerável aos valores acadêmicos. O alerta se faz necessário porque já há muitos casos em que, para manter laboratórios e salários, pesquisadores comprometem-se a não publicar até mesmo resultados de pesquisa básica conveniada sem prévia autorização da empresa patrocinadora.