sábado, 8 de setembro de 2012

FICHAMENTO 4


SHAPIN, S. The Scientific Life: a moral history of a late modern vocation. Chicago: University of Chicago Press, 2008. p. 132-265.

Steven Shapin é um dos mais renomados historiadores e sociólogos da ciência na atualidade. Em sua obra The Scientific Life (2008) ele mostra como a pesquisa científica tornou-se tão altamente empreendedora que os cientistas tenham sido “eclipsados” neste processo e que os regimes de financiamento contemporâneos tendem, de forma sutil, a corroer a integridade da ciência e descreve como o modelo de pesquisa em universidades norte-americanas está ameaçado. Shapin não descreve como realizou a pesquisa, mas utiliza dados numéricos apresentados em tabelas para subsidiar as conclusões de seu estudo. O trabalho empírico de Shapin tem grande peso acadêmico. Para Shapin, as universidades estão cada vez mais dependentes de investimentos externos. Com isso, as instituições ficam mais vulneráveis a pressões políticas, inclusive do governo norte-americano. Neste capítulo, Shapin descreve as mudanças na ecologia do conhecimento, com seus diferentes ambientes e relações com o mundo atual, tendo como objeto de estudo a pesquisa acadêmica nas universidades.  Desde a II Guerra Mundial a velocidade do desenvolvimento científico de vanguarda nos Estados Unidos teve influência na investigação universitária internacional. O idioma inglês se tornou a “língua franca” da ciência. Essa predominância norte-america ocorre devido a fatores como: maciço investimento público na ciência, laços entre a comunidade de pesquisa, por meio das instituições de pesquisa e desenvolvimento (P&D) e o setor produtivo, além da à capacidade dos Estados Unidos em exercerem a liderança efetiva no mundo acadêmico. As políticas públicas eram basicamente políticas de promoção do desenvolvimento tecnológico que se estabelecia e não havia lugar para as conseqüências negativas da mudança tecnológica. Conforme o autor, poucos estudiosos têm examinado o processo adaptativo que tem facilitado a constante renovação da ciência norte-americana. O desenvolvimento sistemático da pós-graduação nos Estados Unidos pode ser considerado como produto da influência germânica e coincide com as grandes transformações das universidades americanas nas últimas três décadas do século passado. É quando a universidade deixa de ser uma instituição apenas de formação de profissionais para dedicar-se às atividades de pesquisa científica e tecnológica.  Shapin levanta as seguintes questões: Como as universidades conseguem acompanhar o caráter mutável da economia da pesquisa científica? Ao fazê-lo, como as universidades produzem mudanças na ecologia do conhecimento nos EUA na contemporaneidade?  Shapin tenta traduzir em números a questão de como relacionar o modelo de pesquisa acadêmica com a pesquisa básica. Ele fala dos fluxos de recursos, que materializam as pesquisas. O crescimento da pesquisa básica acontece a partir dos investimentos concentrados fortemente nos laboratórios particulares e na academia: quem recebe mais investimentos é quem produz primeiro pesquisa básica e depois, em um segundo momento, pesquisa aplicada. Segundo as amostras de Shapin, quanto mais à pesquisa acadêmica tenta responder a dicotomia universidade x indústria ou universidade x empresa, menos a questão da escassez de recursos é esclarecida. Shapin cita a administração de Bush para falar do auto-investimento e macro planejamento que seu governo imprimiu no contexto do pós-guerra.  Conforme Shapin (2008, p. 137): “First they sought to replace the ‘transmission belt’ metaphor, which connected discoveries of basic research with the spawning of applied research, technology; and the eventual development of products. In its stead they posited a reciprocal relationship whereby technological development in itselfyields basic discoveries, or raises problems that inspire basic science. From this perspective, he rationale for basic research assumes somewhat different formo Insteadof arising purely from scientific paradigms, research questions may alsoarise from technology and thus be consumer driven. This view has implications for supportingesearch as weli. Instead of relying on scientists in the field to initiate proposals for basic research, science might better be managed in ways that would recognize and incorporate consumer demands”. Os possíveis vínculos e tensões entre a ciência básica e a ciência aplicada têm sido objeto de constante preocupação. A pesquisa acadêmica, assim, passa a se ver dando conta de uma associação entre e o que seria a pesquisa básica e a pesquisa aplicada. A tese de Shapin é de que fortalecer a pesquisa básica seria também fortalecer a pesquisa aplicada. Em relação aos regimes de financiamento para a ciência, a legislação Bayh-Dole, criada em de 1980, praticamente induz a transferência de tecnologia entre a universidade-empresa e atua, basicamente, sobre a comercialização dos resultados de pesquisa das universidades deixando um hiato: se a pesquisa realizada é básica ou aplicada. Nos Estados Unidos as universidades e grupos de pesquisa são os que mais têm patentes, mais produzem patentes. Com relação à infra-estrutura básica para as pesquisas e fluxo de pesquisadores, Shapin fala da perda de financiamentos, uma vez que para ter financiamentos tem que ter produção de artigos. Há o questionamento de quantas publicações daquele determinado pesquisador já foram publicados; quantas especializações têm. Então, a partir de suas qualificações o pesquisador vai se destacando para possíveis financiamentos. As patentes são regras negociáveis com os atores envolvidos. Assunto delicado para se tratar. Finalizando, Shapin aponta como uma das maiores dificuldades no dia de hoje manter a infra-estrutura de pesquisa (na biociência, biomedicina), com todo o seu aparato tecnológico que lhe é peculiar. Hoje, “fazer ciência” é manter um laboratório nos padrões da lógica norte-americana de competitividade – ou seja: “se não tenho suporte financeiro não consigo nada”. Contudo, a participação do financiamento empresarial na pesquisa universitária deve merecer cautela para que não ocorra privatização (capitalização) do saber, o que acarretaria uma perda considerável aos valores acadêmicos. O alerta se faz necessário porque já há muitos casos em que, para manter laboratórios e salários, pesquisadores comprometem-se a não publicar até mesmo resultados de pesquisa básica conveniada sem prévia autorização da empresa patrocinadora.

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