SHAPIN, S. The Scientific Life: a moral history of a late modern vocation. Chicago: University of Chicago Press, 2008. p. 132-265.
Steven Shapin é um dos
mais renomados historiadores e sociólogos da ciência na atualidade. Em sua obra
The Scientific Life (2008) ele mostra
como a pesquisa científica tornou-se tão
altamente empreendedora que os cientistas tenham sido “eclipsados” neste
processo e que os regimes de financiamento contemporâneos tendem,
de forma sutil, a corroer a integridade da ciência e descreve como o modelo de
pesquisa em universidades norte-americanas está ameaçado. Shapin não descreve
como realizou a pesquisa, mas utiliza dados numéricos apresentados em tabelas
para subsidiar as conclusões de seu estudo. O trabalho empírico de Shapin tem
grande peso acadêmico. Para Shapin, as universidades estão cada vez mais
dependentes de investimentos externos. Com isso, as instituições ficam mais
vulneráveis a pressões políticas, inclusive do governo norte-americano. Neste capítulo, Shapin descreve as mudanças na ecologia do
conhecimento, com seus diferentes ambientes e relações com o mundo
atual, tendo como objeto de estudo a pesquisa acadêmica nas universidades. Desde a II Guerra
Mundial a velocidade do desenvolvimento científico de vanguarda nos Estados
Unidos teve influência na investigação universitária internacional. O idioma
inglês se tornou a “língua franca” da ciência. Essa predominância norte-america
ocorre devido a fatores como: maciço investimento público na ciência, laços
entre a comunidade de pesquisa, por meio das instituições de pesquisa e
desenvolvimento (P&D) e o setor produtivo, além da à capacidade dos Estados
Unidos em exercerem a liderança
efetiva no mundo acadêmico. As políticas públicas eram basicamente políticas de
promoção do desenvolvimento tecnológico que se estabelecia e não havia lugar
para as conseqüências negativas da mudança tecnológica. Conforme o autor,
poucos estudiosos têm examinado o
processo adaptativo que tem facilitado a constante renovação da ciência
norte-americana. O desenvolvimento sistemático da pós-graduação
nos Estados Unidos pode ser considerado como produto da influência germânica e
coincide com as grandes transformações das universidades americanas nas últimas
três décadas do século passado. É quando a universidade deixa de ser uma
instituição apenas de formação de profissionais para dedicar-se às atividades
de pesquisa científica e tecnológica.
Shapin levanta as seguintes questões: Como as universidades conseguem acompanhar o caráter mutável da economia
da pesquisa científica? Ao fazê-lo, como as universidades produzem mudanças na
ecologia do conhecimento nos EUA na contemporaneidade? Shapin tenta traduzir em números a questão
de como relacionar o modelo de pesquisa acadêmica com a pesquisa básica. Ele
fala dos fluxos de recursos, que materializam as pesquisas. O crescimento da
pesquisa básica acontece a partir dos investimentos concentrados fortemente nos
laboratórios particulares e na academia: quem recebe mais investimentos é quem
produz primeiro pesquisa básica e depois, em um segundo momento, pesquisa
aplicada. Segundo as amostras de Shapin, quanto mais à pesquisa acadêmica tenta
responder a dicotomia universidade x indústria ou universidade x empresa, menos
a questão da escassez de recursos é esclarecida. Shapin cita a administração de
Bush para falar do auto-investimento e macro planejamento que seu governo
imprimiu no contexto do pós-guerra. Conforme Shapin (2008, p. 137): “First they sought to
replace the ‘transmission belt’ metaphor, which connected discoveries of basic
research with the spawning of applied research, technology; and the eventual
development of products. In its stead they posited a reciprocal relationship whereby
technological development in itselfyields basic discoveries, or raises problems
that inspire basic science. From this perspective, he rationale for basic
research assumes somewhat different formo Insteadof arising purely from
scientific paradigms, research questions may alsoarise from technology and thus
be consumer driven. This view has implications for supportingesearch as weli.
Instead of relying on scientists in the field to initiate proposals for basic
research, science might better be managed in ways that would recognize and
incorporate consumer demands”. Os possíveis vínculos e tensões entre a ciência
básica e a ciência aplicada têm sido objeto de constante preocupação. A
pesquisa acadêmica, assim, passa a se ver dando conta de uma associação entre e
o que seria a pesquisa básica e a pesquisa aplicada. A tese de Shapin é de que
fortalecer a pesquisa básica seria também fortalecer a pesquisa aplicada. Em
relação aos regimes de financiamento para a ciência, a legislação Bayh-Dole, criada
em de 1980, praticamente induz a transferência de tecnologia entre a
universidade-empresa e atua, basicamente, sobre a comercialização dos
resultados de pesquisa das universidades deixando um hiato: se a pesquisa
realizada é básica ou aplicada. Nos Estados Unidos as universidades e grupos de
pesquisa são os que mais têm patentes, mais produzem patentes. Com relação à
infra-estrutura básica para as pesquisas e fluxo de pesquisadores, Shapin fala
da perda de financiamentos, uma vez que para ter financiamentos tem que ter
produção de artigos. Há o questionamento de quantas publicações daquele
determinado pesquisador já foram publicados; quantas especializações têm.
Então, a partir de suas qualificações o pesquisador vai se destacando para
possíveis financiamentos. As patentes são regras negociáveis com os atores
envolvidos. Assunto delicado para se tratar. Finalizando, Shapin aponta como
uma das maiores dificuldades no dia de hoje manter a infra-estrutura de
pesquisa (na biociência, biomedicina), com todo o seu aparato tecnológico que
lhe é peculiar. Hoje, “fazer ciência” é manter um laboratório nos padrões da
lógica norte-americana de competitividade – ou seja: “se não tenho suporte
financeiro não consigo nada”. Contudo, a participação do financiamento
empresarial na pesquisa universitária deve merecer cautela para que não ocorra privatização
(capitalização) do saber, o que acarretaria uma perda considerável aos valores
acadêmicos. O alerta se faz necessário porque já há muitos casos em que, para
manter laboratórios e salários, pesquisadores comprometem-se a não publicar até
mesmo resultados de pesquisa básica conveniada sem prévia autorização da
empresa patrocinadora.
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