domingo, 2 de setembro de 2012

FICHAMENTO 2


Fichamento de:

MORAES, I. H. S.; GONZALEZ DE GÓMEZ, M. N. Informação e informática em saúde: caleidoscópio contemporâneo da saúde. Ciênc. saúde coletiva, Rio de Janeiro, v.12, n.3, p.553-565, jun. 2007.   
 
 
CARVALHEIRO, J. R. Caleidoscópio sanitário. Ciênc. saúde coletiva, Rio de Janeiro, v.12, n.3, p.568-570, jun. 2007.   

 

O ensaio de Moraes e González de Gómez (2007) partindo do pressuposto da formação de um intercampo de informação e informática em saúde na contemporaneidade, composto por processos sócio-políticos e epistemológicos, pretende estudar as possibilidades de uma ação informacional no campo da saúde, capaz de ampliar as respostas do Estado na melhoria das condições de vida da população brasileira (MARTELETO, 2007, p. 576). Este ensaio tem por objetivos aprofundar a compreensão da gênese e dos determinantes desses limites e analisar alternativas para sua superação que dependem menos de iniciativas pontuais internas ao campo da informação e mais, dentre outras, da adoção de novos referenciais, a começar pelo significado e conceito de Saúde. Conforme as autoras, “o modelo político e econômico dominante, historicamente instituído, expande as desigualdades entre padrões de qualidade de vida”. As desigualdades sanitárias prevalentes entre as regiões, estados, cidades e mesmo intra-urbanas impedem comemorações efusivas. Por outro lado, “o Sistema Único de Saúde (SUS) alcançou avanços significativos em seus quinze anos de implementação”. Segundo as autoras, a construção dom SUS é um marco na história do país por pressupor a participação da sociedade nesse processo, através das Conferências e Conselhos de Saúde e por preconizar a busca do consenso entre as esferas de governo, configurando, nesse sentido, uma das mais avançadas política pública brasileira, calcada na democracia participativa e emancipatória. Nesse período, o SUS constituiu-se como um sólido sistema que ampliou o acesso da população aos recursos de saúde, mas não o suficiente para superar a histórica e desigual dívida sanitária. No cotidiano dos cidadãos, o direito universal à Saúde, com eqüidade e qualidade, ainda está distante. Para as autoras, o processo de (re)pensar a “informação e informática em saúde” deve levar em conta tanto a gênese da atual práxis informacional desse campo, moldada pelos modos como se concebem e se colocam em prática as políticas e ações de saúde ao longo do tempo, quanto servir de aliado estratégico para a (re) construção das ciências da saúde diante da complexidade dos processos concretos de saúde, adoecimento e cuidados (MARTELETO, 2007, p. 576). As autoras, ao procurarem desvendar a gênese da atual lógica organizativa das informações de interesse para a Saúde, produzidas e geridas pelo aparato estatal, observam que a informação em saúde surge de certo "pré-juízo" de sinais, sintomas, signos e práticas relacionados ao processo de saúde/doença/cuidado que, em um determinado contexto histórico, adquirem relevância política e social: “tornam-se eventos que justificam seu monitoramento, sua visibilidade, sua vigilância através de dispositivos de Estado no exercício de um biopoder”. As mudanças na forma de lidar com a saúde/doença/cuidado vinculam-se às transformações político-sociais e econômicas, inseridas na constituição do Estado Moderno, em um crescente processo de urbanização e de organização da sociedade capitalista. O Estado Moderno estabelece dispositivos de atuação voltados para a gestão da vida, que permitem o exercício de um poder disciplinar que se expressa capilarmente em todo o campo social, de um biopoder, que nasce imerso na constituição de uma sociedade panóptica. As autoras identificam a existência de um 'intercampo de informação e informática em saúde' que se consubstancia tanto a partir de uma epistemologia que tenha por referencial a abordagem transdisciplinar, quanto da consolidação de um processo político-histórico de construção institucional, espaço portador de potência e relevância: intercampo político-epistemológico. As opções sobre as tecnologias de informação adotadas, resultantes da pressão do mercado de computação e de telecomunicações, fariam parte desse cenário, e estariam em estado submerso nos diferentes discursos e visões em disputa. Nesse sentido, a “informação em saúde” e a sua expressão técnica - a “informática em saúde” faria parte de uma “política epistemológica” presente nas enunciações oficiais e acadêmicas em luta pela autoridade epistêmica. (MARTELETO, 2007, p. 576). Embora validado na reflexão teórica das autoras, elas próprias reconhecem que o conceito de informação em saúde evidencia um paradoxo, quando projetado no marco das modernas sociedades do conhecimento e da informação. As autoras assumem como pressuposto que as atuais práticas e saberes de Informação e Informática em Saúde não dão conta da complexidade dos processos de saúde/doença/cuidado e dos problemas contemporâneos a serem superados, constituindo-se em um dos limitantes para a ampliação da capacidade de resposta do Estado brasileiro. As autoras propõem uma perspectiva transdisciplinar, em primeiro momento, uma conversão do olhar na direção das questões da informação e informática em saúde, enquanto intercampo de conhecimento em construção (MARTELETO, 2007, p. 576). Finalizando, a expectativa das autoras é que esse ensaio represente uma contribuição, em sua provisoriedade, para que mais adiante outros avancem na construção de uma 'epistemologia da informação e informática em saúde', por ultrapassagens de elaborações sucessivas, em uma dinâmica de maior aprofundamento e maturidade epistemológica-política, em um diálogo permanente entre os diversos campos científicos, as instituições científicas e de serviços de saúde nas três esferas de governo e entre seus agentes: os cientistas, os profissionais, os gestores e os conselheiros de saúde. Em relação ao debatedor, Carvalheiro (2007) a reiterada menção que as autoras fazem à idéia de uma “política epistemológica” exigiu um mergulho na “Épistémologie”, de Bunge. Contudo, pareceu para Carvalheiro (2007) que Informação e Informática “tout court” (ou, ainda com maior razão, “em saúde”) deveriam pertencer mais ao terreno das tecnologias do que ao das ciências. Esta convicção vem desde a definição um conjunto de conhecimentos constitui uma tecnologia se, e somente se: (1) é compatível com a ciência contemporânea, controlável pelo método científico e (2) é utilizada para controlar, transformar e criar coisas ou processos naturais ou sociais.” Confirmada numa observação complementar, segundo a qual “certas tecnologias novas, como a pesquisa operacional e a informática, não têm nada em comum com a ciência, com exceção do método”. Carvalheiro (2007) afirma que até concorda com a proposta central das autoras de “estabelecer canais de interlocução contínuos, [...], contribuindo para a (re) construção do intercampo de informação e informática em saúde (IIS)”. Apostar, como enfatiza as autoras, sobretudo na transdisciplinaridade. Ou, ainda melhor, na trans-sapiência que se serve não só de disciplinas científicas, mas também de conhecimentos gerados em terrenos não propriamente científicos. As Autoras têm a expectativa de que o controle social exercido pelo Conselho Nacional de Saúde e, especialmente, a realização de uma “Conferência Nacional de Comunicação, Informação e Informática em Saúde” poderão dar conta da fragmentação, contribuindo para a composição do intercampo da IIS.  Contudo, o debatedor não é tão otimista quanto às autoras em relação a essa posição.


Texto de Apoio:

 MARTELETO, R. M. Informação, saúde, transdisciplinaridade e a construção de uma epistemologia social. Ciênc. saúde coletiva, Rio de Janeiro, v.12, n.3, p.576-579, jun. 2007. Editorial.

 

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