terça-feira, 12 de abril de 2011

O QUARTO ESCURO














Inicio minha jornada no “quarto escuro”. Tenho como TEMA de pesquisa um extudo exploratório sobre a representatividade e contribuição feminina na produção do conhecimento em Ciência e Tecnologia e Saúde no Brasil, na pespectiva dos estudos de informação.
Assim, o  meu OBJETIVO é contribuir na construção da memória científica e tecnológica na área da saúde sob o prisma da equidade de gênero, a partir do acervo de obras raras da Fiocruz.
Assim, eu adentro o “quarto escuro”, mas não estou sozinha. Tenho como lanterna a  disciplina“Oficina de Análise Bibliográfica Qualitativa” - oferecida pela Pós-Graduação da Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca -  que me conduz a conhecer os principais procedimentos metodológicos de investigação bibliográfica. Começo minha investigação fundamentada na análise bibliográfica.  O objetivo da análise bibliográfica é depreender como a produção acadêmica nacional e estrangeira vem abordando a participação feminina na produção de conhecimento em C&T/S.
Desse modo, ao abrir a porta me deparo com os termos ‘gênero e ciência’ que têm gerado nos últimos anos, uma discussão muito intensa, especialmente no que se refere à contribuição das mulheres na produção do conhecimento científico. Em 1978, a Evelyn Fox-Keller*, física norte-americana, relacionou pela primeira vez os termos gender and science que se consolidou efetivamente como campo de estudos, nos anos de 1980, com os trabalhos de teóricas feministas como Sandra Harding, Ruth Bleier, Ludmilla Jordanova, Helen Longino, Donna Haraway, Londa Schiebinger e pioneiras nos estudos das questões de gênero no Brasil como Fanny Tabak e Maria Margaret Lopes.
A idéia de uma relação estreita entre ciência e gênero implica que a evolução do conhecimento científico foi conformada pela dicotomia masculino/feminino e pelo fato de que a pesquisa científica foi empreendida “por” e “para” indivíduos do sexo masculino. Em minhas leituras, compreendo que os valores que ainda prevalecem sobre as ciências são masculinos e, em alguns casos, desfavoráveis à participação feminina. Com exemplo, o livro de Londa Schiebinger “O feminismo mudou a ciência?" (edição brasileira, 2001), conforme o prefácio traz um olhar crítico de vários autores que se debruçaram sobre a inter-relação entre questões de gênero e os modos de fazer ciência. A autora argumenta que as mulheres elaboram o saber científico de maneira diferente. As mulheres tendem a serem pensadoras holísticas e integrativas, mais pacientes, persistentes e atentas a detalhes, dispostas a esperar que os dados de pesquisa falem por si mesmos ao invés de forçar respostas. Para Schiebinger, essa maneira 'feminina' de perceber e fazer a ciência é uma variável importante e poderosa, capaz de alterar o que cientistas estudam ou a escolha dos tópicos de pesquisa.
No artigo de Hayashi e colaboradores, publicado em 2007, comentam que os estudos feministas da ciência e da tecnologia no Brasil são “um campo em crescimento”. As iniciativas nos estudos de gênero e ciências que se seguiram no Brasil, confirmaram e consolidaram esse perfil:




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* Evelyn Fox-Keller, Gender and science. Psychoanalysis and Contemporary Thought,1, 1978, p.409-433.





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