sexta-feira, 9 de março de 2012

A CIÊNCIA CONTRA E A FAVOR DO PATRIARCADO EM WOMAN ON THE EDGE OF TIME

Lucia de La Rocque - LEAS, IOC, FIOCRUZ / Depto. LAG, Inst. de Letras, UERJ.
 
A ciência, como  todo campo do saber humano, tem  indubitavelmente  provado, ao  longo dos séculos, ser verdadeira  vassala do patriarcado. Na tradição Aristotélica, que durante muito tempo permeou o conhecimento científico no mundo ocidental, "a fêmea era vista como um macho mal formado, um monstro ou erro da natureza" (Schiebinger,1996:143)  A Bíblia, outra grande pedra fundamental da nossa cultura, nesse ponto um pouco mais condescendente com o sexo feminino, ainda assim imagina a mulher nascendo da costela do homem. Ironicamente, os estudos de genética de população atuais apontam para a origem da humanidade numa " Eva " que teria vivido há aproximadamente 140.000 anos na África, apontando para quem na realidade foi a matriz..
Em relação ao papel inferior do feminino na ciência, no entanto, talvez a maior e mais duradoura contribuição  tenha vindo de Francis Bacon, considerado por muitos o arquiteto da ciência moderna, que definiu a atividade científica como "um  casamento casto entre    Mente e  Natureza" (Keller,1985: 39). Nessa definição Bacon que, como Platão, considera a natureza essencialmente feminina, foi o primeiro, conforme Evelynn Fox Keller (1985: 41) chama a atenção, "que articulou [...] a equação entre conhecimento científico e poder, quem identificou que os propósitos da ciência eram o controle e o domínio da natureza"   Enquanto Platão via uma maior interação entre a mente e o corpo, o logos e a natureza, embora para ele estes opostos permanecessem num equilíbrio instável, Bacon dá total primazia à mente masculina, e faz com que esta, armada com o poder da atividade científica, subjugue a natureza feminina. Essa divisão entre natureza feminina submissa e mente ou cultura masculina dominante marcou o nosso mundo ocidental, ajudando a fortificar a  idéia de que o raciocínio e a objetividade são prerrogativas dos homens, enquanto que as mulheres são guardiãs do pessoal e do emocional, contribuindo para que a ciência, considerada o reino do impessoal e do racional, ficasse em mãos exclusivamente masculinas, restringindo o domínio feminino à "sagrada" e particular esfera do lar. 

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