segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

 
Maria Cristina Soares Guimarães
 
Resenha de: MORIN, Edgard. Os sete saberes necessários à educação do futuro. 12 ed. São Paulo: Cortez; Brasília, DF: UNESCO, 2007. ISBN: 978-85-7014-048-7.
 
 
 
 O que há de novo em apresentar uma resenha do livro "Os sete saberes necessários à educação do futuro"? Centenas de resenhas e comentários já foram escritos e publicados nesses últimos quase 15 anos, o que atesta a pertinência e atualidade da discussão, ainda que permaneça em aberto a discussão sobre a real possibilidade de um outro processo educativo. Sim, por que não se trata de conteúdos, trata-se, antes, de colocar em marcha um processo de educação que esteja implicado com o futuro, com a sustentabilidade do planeta, com a democracia, com a equidade e com a justiça social. Nada mais atual, portanto, em tempos de Rio +20. Nada mais atual, principalmente, em tempos de um compromisso radical da saúde com a educação permanente.
Morin nos convida a pensar em um mundo crescentemente complexo, mutante, múltiplo, mestiço e imprevisível; um mundo onde a incerteza é a regra, e o conhecimento deve ser mobilizado não para produção de certezas (essas inexistentes), mas como força e fonte de
inovação para enfrentar o imprevisto e o incerto, em um dinâmica que (re)cria configurações, arranjos e perspectivas. Enfrentar a incerteza e abraçar o imprevisto demanda acolher uma pluralidade de tipos de conhecimento, em busca do diálogo e da inclusão. Não há, aqui, um estatuto epistemológico privilegiado para um tipo de conhecimento. Ou contrário, a educação do futuro pede a porosidade dos limites disciplinares e a religação de saberes. A educação do hoje e do futuro, pedem, portanto, um devir, a aprendizagem como processo contínuo, a educação em ato e em potência.
São sete as lições que Morin deixa para os educadores.
A primeira, onde discorre sobre os erros e ilusões do conhecimento, Morin nos lembra de que o processo educativo não nos ensina o que é o conhecimento, que se nos apresenta como acabado. Uma educação sustentável e inclusiva é aquela que clama pela lucidez, pela identificação da origem de erros, das ilusões e das cegueiras. Isso faz da educação um processo crítico, e do conhecimento, uma ação consequente. Decorre daqui a segunda lição, que discorre sobre os princípios do conhecimento pertinente, aquele que pertence ao território e está tecido na cultura e nas práticas sociais.
A terceira lição, discutir a condição humana, nos traz que o ser humano é um complexo de condições física, biológica, psíquica, cultural, social e histórica. Inscreve-se ai um destino multifacetado e aberto da humanidade o que pede, mais uma vez, integração de saberes de forma a refundar um homem (mulher) que está retalhado(a). Unir identidades separadas pelos domínios disciplinares do conhecimento conduz a discussão da "Identidade da terra", que fala de uma educação comprometida com novas formas de solidariedade, que pense o futuro da espécie humana em perspectiva planetária como quarta lição fundamental.
Uma educação que prepare para "confrontar as incertezas" deve investir em estratégias e metodologias que enfrentem os imprevistos e que possam agir usando a informação que é produzida e adquirida ao longo do tempo. Na sexta lição, "Ensinar a compreensão", Morin alerta para o paradoxo do nosso tempo: ainda que os meios de comunicação abundem, a incompreensão permanece. Entender uns aos outros implica em um esforço de empatia e generosidade, o acolhimento é, por certo, um ato para vencer a barbárie do desentendimento, fonte de racismos, discriminação e discórdia.
Na última lição de uma educação comprometida com a sustentabilidade é apontado a importância da "ética do gênero humano", ou, a educação deve estar vinculada a uma "antropo-ética", uma ética propriamente humana, onde seja ressaltada a autonomia individual, a participação comunitária e a consciência planetária. Uma educação, enfim, que promova a hominização na humanização.
A centralidade do homem-mulher; o acolhimento de um conhecimento mestiço, forjado na prática e tecido na cultura; um processo educativo que abrace a vida naquilo que ela tem de múltiplo e vulnerável, mas que tenha um potencial de criação e reconfiguração, está no coração da proposta da educação permanente, um continuum que se fortalece na recursividade diária entre teoria e prática.

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