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[A mulher índia]
Conforme comentava o padre Manoel da Nóbrega em carta de 1550, apenas
os homens pobres se casavam com as índias, enquanto os ricos, que
pretendiam voltar a Portugal, não o faziam, muitas vezes por serem
casados.
No
entanto, a razão mais provável para a relutância dos ricos em se casar
deveu-se à legislação portuguesa que dava privilégios especiais aos
chamados “homens bons” – ricos proprietários que ocupavam cargos
municipais, militares e honoríficos e que gozavam de privilégios
jurídicos semelhantes aos da nobreza. Para que pudessem ser homens bons
era preciso que suas esposas fossem cristãs velhas, brancas e sem mancha
de trabalho manual ou comércio de loja aberta. Se fossem cristãs novas,
negras, mulatas, índias ou filhas de artesãos ou pequenos comerciantes
seus maridos e filhos poderiam ocupar posição de mando ou honra. É por
isso que toda vez que a história registra casamentos com índias fala-se
em princesas ou filhas de “principais” (ou chefes) que traziam alianças
vantajosas para os brancos. É o caso de Diogo Álvares Correia, o
Caramuru, com Catarina Paraguaçu e o de Jerônimo de Albuquerque com a
filha de Arcoverde. MESGRAVIS, Laima. O Brasil nos primeiros séculos. São Paulo: Contexto, 1994. p. 57-58.
[A mulher no Brasil colonial]
Se a mulher desempenhou em todas as civilizações o papel de provedora
de alimentos da família e de responsável pela organização doméstica, nos
primeiros tempos da colonização, em virtude da falta de mulheres
brancas, as índias assumiram seu lugar, ensinando a socar o milho, a
preparar a mandioca, a trançar as fibras, a fazer redes e a moldar o
barro. Nos séculos subseqüentes, as portuguesas uniram-se a elas para
comandar as grandes vivendas rurais e tiveram como aliadas as escravas
negras. No espaço do domicílio, e no que toca aos costumes domésticos, a
figura feminina ganhou destaque, embora seja inegável que sua
importância e influência na colonização não ficaram restritas à esfera
doméstica, pois até nas bandeiras elas estiveram presentes,
compartilhando com os homens inúmeras aventuras e o trabalho do dia a
dia.
Era,
todavia, a cargo delas que ficava o asseio e a limpeza da casa, a
preparação dos alimentos, o comando das escravas e dos índios
domésticos, além de grande parte da indústria caseira. Afinal, toda a
sua educação era voltada para o casamento, para as atividades que
deveriam desempenhar enquanto mães e esposas. Não causa espanto, pois,
que nas denúncias feitas ao visitador inquisitorial na Bahia e em
Pernambuco, no século XVI, as mulheres fossem o alvo preferido das
acusações de práticas judaizantes referentes a costumes domésticos. ALGRANTI, Leila Mezan. Famílias e vida doméstica. In: SOUZA, Laura de Mello (org.). História da vida privada no Brasil, vol. 1: cotidiano e vida privada na América portuguesa. São Paulo: Companhia das Letras, 1997. p. 120.
[A mulher escrava]
Um riacho sombrio porém límpido deixa correr suas águas borbotantes
através de largos leitos escavados nos barrancos, que ficam entre dois
esporões a pique da montanha do Corcovado. Passando por suas margens,
vêem-se grupos de lavadeiras dentro d’água ou batendo roupa sobre as
pedras que se espalham em blocos ao longo do riacho, muitas delas vêm da
cidade, de manhã muito cedo, carregando suas pesadas trouxas de roupa
suja na cabeça, e, à tarde, voltam com roupas limpas na água corrente e
coradas ao sol. Vêem-se vários pontos fumegando fogo, onde cozinham a
comida; e grupos de criancinhas brincam em volta delas, algumas bastante
crescidas para engatinhar até junto de suas mães; a maior parte, porém,
foi carregada até ali nas costas das sobrecarregadas lavadeiras.
Mulheres escravas, de vários ofícios, podem ainda ser vistas carregando
seus filhos (...). Fazem lembrar as “pappoose” cavalgando às costas de
suas mães, índias da América do Norte; porém o modo diferente de amarrar
as crianças em posição fixa produz um efeito bem diverso. A estreita
tábua sobre a qual a criancinha índia é atada, dá-lhe a sua forma
proverbialmente ereta, ao passo que a posição encurvada que conservam as
pernas da criancinha preta envolta na cintura materna produz-lhe
membros arqueados para toda a vida... KIDDER, Daniel P.; FLETCHER, J. C.
O Brasil e os brasileiros. São Paulo: Nacional, 1941. p. 147. Apud: NEVES, Maria de F. R. das. Documentos sobre a escravidão no Brasil. São Paulo: Contexto, 1996. p. 70.
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