Joan
Scott **
Gênero,
Gram. Categoria que indica por meio de desinência uma
divisão dos nomes baseada em critérios tais como sexo e
associações psicológicas. Há gêneros masculino,
feminino e neutro.
Novo
Dicionário da Língua Portuguesa (Aurélio B. de Hollanda
Ferreira).
Aqueles
que se propõem a codificar os sentidos das palavras lutam
por uma causa perdida, porque as palavras, como as idéias
e as coisas que elas significam, têm uma história. Nem
os professores de Oxford, nem a Academia Francesa foram
inteiramente capazes de controlar a maré, de captar e
fixar os sentidos livres do jogo da invenção e da
imaginação humana. Mary Wortley Montagu acrescentava a
ironia à sua denúncia do “belo sexo” (“meu único
consolo em pertencer a este gênero é ter certeza de que
nunca vou me casar com uma delas”) fazendo uso,
deliberadamente errado, da referência gramatical. Ao
longo dos séculos, as pessoas utilizaram de forma
figurada os termos gramaticais para evocar traços de caráter
ou traços sexuais. Por exemplo, a utilização proposta
pelo Dicionário da Língua Francesa de 1879 era: “Não
se sabe qual é o seu gênero, se é macho ou fêmea,
fala-se de um homem muito retraído, cujos sentimentos são
desconhecidos”. E Gladstone fazia esta distinção em
1878: “Atenas não tinha nada do sexo a não ser o gênero,
nada de mulher a não ser a fama”. Mais recentemente –
recentemente demais para encontrar seu caminho nos dicionários
ou na enciclopédia das ciências sociais – as
feministas começaram a utilizar a palavra “gênero”
mais seriamente, no sentido mais literal, como uma maneira
de referir-se à organização social da relação entre
os sexos. A conexão com a gramática é ao mesmo tempo
explícita e cheia de possibilidades inexploradas. Explícita,
porque o uso gramatical implica em regras que decorrem da
designação do masculino ou feminino; cheia de
possibilidades inexploradas, porque em vários idiomas
indo-europeus existe uma terceira categoria – o sexo
indefinido ou neutro. Na gramática, gênero é
compreendido como um meio de classificar fenômenos, um
sistema de distinções socialmente acordado mais do que
uma descrição objetiva de traços inerentes. Além
disso, as classificações sugerem uma relação entre
categorias que permite distinções ou agrupamentos
separados.
No
seu uso mais recente, o “gênero” parece ter aparecido
primeiro entre as feministas americanas que queriam
insistir na qualidade fundamentalmente social das distinções
baseadas no sexo. A palavra indicava uma rejeição ao
determinismo biológico implícito no uso de termos como
“sexo” ou “diferença sexual”. O “gênero”
sublinhava também o aspecto relacional das definições
normativas de feminilidade. As que estavam mais
preocupadas com o fato de que a produção dos estudos
femininos centrava-se sobre as mulheres de forma muito
estreita e isolada, utilizaram o termo “gênero” para
introduzir uma noção relacional no nosso vocabulário
analítico. Segundo esta opinião, as mulheres e os homens
eram definidos em termos recíprocos e nenhuma compreensão
de qualquer um poderia existir através de estudo
inteiramente separado. Assim, Nathalie Davis dizia em
1975: “Eu acho que deveríamos nos interessar pela história
tanto dos homens quanto das mulheres, e que não deveríamos
trabalhar unicamente sobre o sexo oprimido, da mesma forma
que um historiador das classes não pode fixar seu olhar
unicamente sobre os camponeses. Nosso objetivo é entender
a importância dos sexos, dos grupos de gêneros no
passado histórico. Nosso objetivo é descobrir a
amplitude dos papéis sexuais e do simbolismo sexual nas várias
sociedades e épocas, achar qual o seu sentido e como
funcionavam para manter a ordem social e para mudá-la”.....
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http://www.dhnet.org.br/direitos/textos/generodh/gen_categoria.html**(professora de Ciências Sociais no Instituto para Estudos Avançados de Princeton)
Tradução: Christine Rufino Dabat e Maria Betânia Ávila
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