TURNEY, Jon.
Popular
science books In: BUCCHI, Massimiano; TRENCH, Brian (Ed.) Handbook of public communication of science
and technology. Routledge: Abingdon (OX), 2008. p. 5-14.
Resumo e comentários do capítulo por Jeorgina Gentil Rodrigues
Quem é Jon Turney?
Nos dias de hoje, nas prateleiras de qualquer livraria, encontramos uma substancial
presença de livros na seção intitulada Popular Science (divulgação
científica). Isso ocorre devido a um boom de livros de divulgação
científica nos últimos 25 anos.
Os livros são um dos diversos formatos de representação de “pacotes de
mídia da ciência”[1].
Turney (2008) considera “os livros extremamente versáteis”, “relativamente baratos”
e de grande durabilidade em relação aos outros meios de comunicação de massa.
POPULAR SCIENCE: POPULAR? CIENTÍFICA?
Basalla (1976) analisou o que chamou de “ciência
pop”, o retrato da ciência (não-ficção) e cientistas de vanguarda. Por exemplo,
Galileu e Superinteressante que são revistas brasileiras de curiosidades
culturais e científicas.
A science popularisation - aqui entendida com divulgação
científica - era vista como uma “simplificação apropriada” – necessária para
fins educacionais de simplificar a ciência a uma audiência de não especialistas
(HILGARTNER, 1990). Até meados dos anos 1990, a perspectiva dominante e
tradicional acerca da divulgação científica se baseava em um modelo
formado por dois estágios: primeiro, os cientistas desenvolviam conhecimento
puro, genuíno; subsequentemente, versões simplificadas eram disseminadas ao
público.
O termo divulgação científica é propagado na literatura sobre o tema,
muitas vezes com sobreposições e hiatos, como "popularização da ciência"
sendo este termo mais utilizado dentro da tradição de países anglo-saxônicos a
partir da década de 1950 para caracterizar atividades que buscam fazer uma
difusão do conhecimento científico para públicos não especializados.
Conforme autor existem livros de divulgação da ciência se encontram na
fronteira entre ficção e não- ficção. Por exemplo, a publicação do livro In His
Image: The Cloning of Man (1978), de David Rorvik, sobre a
criação de um ser humano por clonagem causou uma grande polêmica. A comunidade científica não deu crédito a
estas informações.
Apesar
de a editora Lippincott, reconhecidamente séria, ter publicado o livro como
obra de não-ficção, após alguns anos a própria Editora alegou não ter provas
sobre o ocorrido. Num depoimento recente, dado à revista OMNI, David Rorvik
afirmou que tem certeza de que já foram produzidos clones humanos.
Outro exemplo são os livros destinados especialmente ao público
infanto-juvenil que utilizam como “veículo” a narrativa para transmitir
conceitos científicos. O livro The Time and Space of Uncle Albert, publicado
em 1989 (O tempo e o espaço do tio Albert, edição brasileira de
2005), do físico inglês Russell Stannard, apresenta conceitos sobre a teoria da
relatividade em uma ficção que privilegia o caráter imaginário da ciência.
O livro State of Fear, publicado em 2004, de Michael Crichton
(1942-2008) (Estado de Medo, edição brasileira de 2005) é um dos livros
que mais tem criado polêmicas nos Estados Unidos, nos últimos anos. O livro faz
perguntas cruciais sobre fatos relacionados ao aquecimento global nos quais o
mundo está sofrendo. Crichton escreveu
livros cujas tramas combinavam informações científicas com suspense, ação e
aventura.
A maior parte de seus livros foram posteriormente adaptados
como roteiros para o cinema e para séries de TV. Por exemplo, Jurassic Park (1990),
que se transformou em um grande sucesso do cinema, do diretor Steven Spielberg
devido ao crescente interesse do público pelos progressos na biologia molecular
e na engenharia genética, ainda que de maneira um pouco confusa.
POPULAR SCIENCE BOOKS: UMA PERSPECTIVA HISTÓRICA
O livro On the Origin of Species (1859) de Charles
Darwin (1809 – 1882) influenciou
profundamente o destino da nova ciência da biologia e iniciou um debate
contemporâneo em relação aos antecedentes históricos da “teoria da evolução” e
às reações que ela produz.
Outro exemplo, o físico James Jeans (1877-1946) além de publicar obras que lhe garantisse
notabilidade científica escreveu vários livros de divulgação científica: The
Stars in Their Courses (1931), The Universe Around Us, Through
Space and Time (1934), The New Background of Science (1933), e The
Mysterious Universe. Estes livros deram-lhe popularidade como divulgador
dos descobrimentos científicos de sua época, especialmente nos campos da
relatividade e da cosmologia.
Conforme Fyfe (2005) a partir dos anos 1850, ocorreu divisão cada vez
mais clara entre os trabalhos que buscavam alcançar prestígio e reputação junto
à comunidade científica e os trabalhos que tivessem um retorno financeiro
imediato “que pudessem pagar as contas” sem se preocupar com a sua reputação científica.
Após a Segunda Guerra Mundial, as pesquisas em Ciência
e Tecnologia (C&T) se intensificaram, gerando o fenômeno da “explosão da
informação” - um crescimento exponencial da literatura científica publicada - e
um aumento de estudantes que ingressaram no ensino superior o que propiciou a
publicação de livros de divulgação científica.
A discussão pública da ciência começou a partir de The Dragons of
Eden (Os Dragões do Éden), de Carl Sagan (1934-1996), publicado em
1978, o primeiro livro de divulgação científica a ganhar o Prêmio Pulitzer
(LEWENSTEIN, 2005).
O autor chama atenção para a poderosa influência da mídia sobre as
descobertas científicas. Por exemplo, o prêmio Emmy que Carl Sagan recebeu
pela série para TV Cosmos, que teve seu roteiro baseado em seu livro
homônimo publicado em 1980.
De uma maneira clara e simples o livro nos ensina como está composto o
cérebro e quais são suas partes principais, assim como suas principais funções.
São feitas especulações de como se deu o avanço através da história da
humanidade recorrendo às diferentes espécies que nos precedeu e quais as
diferenças morfológicas, assim como do comportamento com base em vestígios
antropológicos arqueológicos que foram encontrados.
Nos Estados Unidos (e também no Brasil) com a formação de um sistema de
ensino superior de massa, surgiu os livros de “não-ficção” junto ao novo
público leitor - livros de divulgação científica mais didáticos, com
conteúdos técnicos.
Contudo, ambos os modelos (ficção e não-ficção) continuaram a existir no
campo da divulgação científica. Conforme
o autor, “temos agora uma profusão de títulos impressos, em uma vasta gama de
assuntos, oferecendo diversos tipos de tratamento de assuntos semelhantes”.
MANEIRAS DE LER UM
LIVRO DE CIÊNCIA
A linguagem utilizada no texto de divulgação científica tende a se
aproximar da linguagem do cotidiano, apoiando-se em metáforas e para tornar as
exposições mais claras.
Os exemplos a seguir são restritos aos estudos publicados em inglês devido a limitação linguística do
autor:
Dos livros britânicos do século XIX que discutiram a ideia de mudança no
mundo orgânico antes de Darwin, o mais importante é, sem dúvida, Vestiges of
the Natural History of Creation (Vestígios da história natural da criação),
lançado anonimamente em 1844, pelo pensador escocês Robert Chambers. A obra propunha
uma teoria natural de evolução cósmica e biológica, colocando juntas numerosas
teorias científicas especulativas daquela época, tendo criado considerável
controvérsia política na sociedade vitoriana devido ao seu radicalismo e por
ser pouco ortodoxo. Darwin, na primeira
edição de On the Origin of Species (1859), criticou severamente o livro
de Chambers, na época ainda de autoria desconhecida.
Um estudo recente do Book-length[2]
(Livro-comprimento) o best-seller Silent
Spring (1962) de Rachel Carson
(1907-1964) oferece uma comparação interessante na era moderna, preocupada com a forma
de um livro pode influenciar um debate político. O livro discute os problemas
ambientais causados pelos pesticidas sintéticos que trouxe preocupações
ambientais sem precedentes para uma parcela da opinião pública americana. Silent
Spring impulsionou uma inversão na política nacional pesticida levando a
uma proibição nacional sobre DDT e outros pesticidas. Esta com os seus
movimentos ambientalistas que inspirou a criação da Environmental Protection
Agency foi lhe oferecida a Medalha Presidencial da Liberdade.
Devido à variedade de livros de divulgação científica, Turney (2008)
indaga: “Essas obras podem ser classificados em subcategorias?” Mellor (2003)
sugere que existem três tipos de subcategorias:
“Narrativa” - relata um episódio na história
da ciência ou a vida de um único cientista.
"Expositiva"
– exposição de uma disciplina particular.
“Investigativa‘” –
narrativa em estilo jornalístico e/ou controversos.
Essas categorias não são mutuamente exclusivas e encontram-se abertas à
discussão.
Conforme autor, a suposição geral é que os livros de divulgação
científica encontram-se divididos entre ciência e literatura.
Um livro já considerado
um clássico do assunto é Chaos (1987) de
James Gleick, ex-colaborador especializado em ciência do The New York
Times. A partir do romance policial, o
livro enfoca o trabalho dos cientistas imersos na pesquisa do caos.
Outros
trabalhos de divulgação científica que não estão claramente demarcados acabam “rotulados” de science studies - uma
área de investigação interdisciplinar que busca situar conhecimento científico
em um amplo contexto social, histórico e filosófico.
A ciência é, pois, uma atividade que possui relações com o contexto
político, social, econômico e cultural onde ela é praticada, e o cientista deve
ser pensado como um ser envolvido neste contexto.
A
partir dos anos 1980, a divulgação
científica teve um crescimento
considerável e se torna uma importante área de pesquisa para a compreensão
pública da ciência.
No campo da crítica, nos livros de divulgação de física, em geral,
circulam imagens de ciência que reflitam os interesses dos cientistas em
relação aos estereótipos que possam surgir em outras mídias.
Uma das áreas das ciências que mais tem beneficiado em termos de
exposição é “nova genética” isso é apenas perifericamente.
Os livros infantis voltados para a divulgação científica fazem parte de
um crescente mercado editorial. Por exemplo, as publicações de divulgação
científica dirigidas ao público infantil e juvenil disponibilizadas pelo Museu
da Vida (Fiocruz) e a revista de divulgação científica brasileira Ciência
Hoje das Crianças que é utilizada pelos professores como material de apoio
em aulas de ciências.
Os papéis da divulgação científica e suas características e
potencialidades para a educação científica têm sido objeto de pesquisas
recentes em ensino de ciências.
Finalmente, o autor pergunta se os estudos de divulgação (popularisation)
afetará sua prática. Algumas disciplinas estão se tornando mais conscientes das
maneiras e possibilidades da divulgação se relacionam com a sua própria posição
na esfera pública. Esta pode ser uma questão de profissionais tentando produzir
divulgação das ideias-chave na sua área, como foi feito com sucesso para sociologia
do conhecimento científico.
Uma frustração por parte dos historiadores da ciência é abordagem da história por autores populares. O desafio é
fazer melhor.
Os textos de divulgação científica que melhor atendem ao objetivo de
informar e atrair o leitor reúnem um ou vários dos seguintes recursos: apoio
na história e na tradição, referência à cultura popular, uso de ironia e humor,
vínculo com o cotidiano, entre outros.
[1] As tecnologias envolvidas nos
“pacotes de mídia”, são as mídias tradicionais (rádio, televisão, telefonia fixa e
jornais e revistas impressos) e
as mídias digitais (internet e celulares). Fonte: Google.
[2] Qual o
“comprimento” ideal para um livro? Devidos a fatores econômicos, muitos editores têm requisitos de comprimento muito
rigoroso. O tamanho é conforme gênero
literário, por exemplo, num livro de ficção para adultos uma página terá
250-350 palavras, com cerca de 65.000-100.000 palavras que corresponde a
200-500 páginas. Fonte: Google
Nenhum comentário:
Postar um comentário