sábado, 16 de março de 2013

POPULAR SCIENCE BOOKS

TURNEY, Jon.  Popular science books In: BUCCHI, Massimiano; TRENCH, Brian (Ed.) Handbook of public communication of science and technology. Routledge: Abingdon (OX), 2008. p. 5-14.
 
Resumo e comentários do capítulo por Jeorgina Gentil Rodrigues
 
 
Quem é Jon Turney?
 Jornalista científico inglês (science writer) desde os anos de 1980. Autor de Frankenstein’s footsteps (algo como ‘Passos de Frankenstein’, ainda não publicado no Brasil), que discute a maneira como as ciências biológicas são divulgadas e sua relação com o livro de Mary Shelley, Turney explica que autora inglesa trata o tema de uma maneira rica e complexa.
 INTRODUÇÃO
 Turney (2008) busca responder a seguinte questão: Como o conhecimento científico sai dos seus domínios de produção e chega à população?  O autor oferece uma breve reflexão sobre a idéia de Popular Science (no Brasil, divulgação científica).
Nos dias de hoje, nas prateleiras de qualquer livraria, encontramos uma substancial presença de livros na seção intitulada Popular Science (divulgação científica). Isso ocorre devido a um boom de livros de divulgação científica nos últimos 25 anos.
Os livros são um dos diversos formatos de representação de “pacotes de mídia da ciência”[1]. Turney (2008) considera “os livros extremamente versáteis”, “relativamente baratos” e de grande durabilidade em relação aos outros meios de comunicação de massa.
 
POPULAR SCIENCE: POPULAR? CIENTÍFICA?
 O acesso corriqueiro da sociedade à experiência científica é feito por meio de textos de divulgação da ciência - textos sobre ciência produzidos por cientistas, jornalistas e escritores, tendo em mente uma audiência formada por leigos e não por especialistas (MYERS, 2003).
 
Basalla (1976) analisou o que chamou de “ciência pop”, o retrato da ciência (não-ficção) e cientistas de vanguarda. Por exemplo, Galileu e Superinteressante que são revistas brasileiras de curiosidades culturais e científicas.
A science popularisation - aqui entendida com divulgação científica - era vista como uma “simplificação apropriada” – necessária para fins educacionais de simplificar a ciência a uma audiência de não especialistas (HILGARTNER, 1990). Até meados dos anos 1990, a perspectiva dominante e tradicional acerca da divulgação científica se baseava em um modelo formado por dois estágios: primeiro, os cientistas desenvolviam conhecimento puro, genuíno; subsequentemente, versões simplificadas eram disseminadas ao público.
O termo divulgação científica é propagado na literatura sobre o tema, muitas vezes com sobreposições e hiatos, como "popularização da ciência" sendo este termo mais utilizado dentro da tradição de países anglo-saxônicos a partir da década de 1950 para caracterizar atividades que buscam fazer uma difusão do conhecimento científico para públicos não especializados.
Conforme autor existem livros de divulgação da ciência se encontram na fronteira entre ficção e não- ficção.  Por exemplo, a publicação do livro In His Image: The Cloning of Man (1978), de David Rorvik, sobre a criação de um ser humano por clonagem causou uma grande polêmica.  A comunidade científica não deu crédito a estas informações.
Apesar de a editora Lippincott, reconhecidamente séria, ter publicado o livro como obra de não-ficção, após alguns anos a própria Editora alegou não ter provas sobre o ocorrido. Num depoimento recente, dado à revista OMNI, David Rorvik afirmou que tem certeza de que já foram produzidos clones humanos.
Outro exemplo são os livros destinados especialmente ao público infanto-juvenil que utilizam como “veículo” a narrativa para transmitir conceitos científicos. O livro The Time and Space of Uncle Albert, publicado em 1989 (O tempo e o espaço do tio Albert, edição brasileira de 2005), do físico inglês Russell Stannard, apresenta conceitos sobre a teoria da relatividade em uma ficção que privilegia o caráter imaginário da ciência.
O livro State of Fear, publicado em 2004, de Michael Crichton (1942-2008) (Estado de Medo, edição brasileira de 2005) é um dos livros que mais tem criado polêmicas nos Estados Unidos, nos últimos anos. O livro faz perguntas cruciais sobre fatos relacionados ao aquecimento global nos quais o mundo está sofrendo.  Crichton escreveu livros cujas tramas combinavam informações científicas com suspense, ação e aventura.
A maior parte de seus livros foram posteriormente adaptados como roteiros para o cinema e para séries de TV. Por exemplo, Jurassic Park (1990), que se transformou em um grande sucesso do cinema, do diretor Steven Spielberg devido ao crescente interesse do público pelos progressos na biologia molecular e na engenharia genética, ainda que de maneira um pouco confusa.
POPULAR SCIENCE BOOKS: UMA PERSPECTIVA  HISTÓRICA
 A difusão da ciência para o público é tão antiga quanto ela própria. Contudo, a progressiva expressão social da ciência ocorreu de forma concomitante com a invenção da imprensa, no século XV.  Até a Revolução Científica do Século XVII, a única forma de tornar públicas as novas idéias científicas era através dos livros. No período que antecede o surgimento do periódico científico, a comunicação científica se dava principalmente através dos livros.
O livro On the Origin of Species (1859) de Charles Darwin (1809 – 1882) influenciou profundamente o destino da nova ciência da biologia e iniciou um debate contemporâneo em relação aos antecedentes históricos da “teoria da evolução” e às reações que ela produz.
Outro exemplo, o físico James Jeans (1877-1946) além de publicar obras que lhe garantisse notabilidade científica escreveu vários livros de divulgação científica: The Stars in Their Courses (1931), The Universe Around Us, Through Space and Time (1934), The New Background of Science (1933), e The Mysterious Universe. Estes livros deram-lhe popularidade como divulgador dos descobrimentos científicos de sua época, especialmente nos campos da relatividade e da cosmologia.
Conforme Fyfe (2005) a partir dos anos 1850, ocorreu divisão cada vez mais clara entre os trabalhos que buscavam alcançar prestígio e reputação junto à comunidade científica e os trabalhos que tivessem um retorno financeiro imediato “que pudessem pagar as contas” sem se preocupar com a  sua reputação científica.
Após a Segunda Guerra Mundial, as pesquisas em Ciência e Tecnologia (C&T) se intensificaram, gerando o fenômeno da “explosão da informação” - um crescimento exponencial da literatura científica publicada - e um aumento de estudantes que ingressaram no ensino superior o que propiciou a publicação de livros de divulgação científica.
A discussão pública da ciência começou a partir de The Dragons of Eden (Os Dragões do Éden), de Carl Sagan (1934-1996), publicado em 1978, o primeiro livro de divulgação científica a ganhar o Prêmio Pulitzer (LEWENSTEIN, 2005).
O autor chama atenção para a poderosa influência da mídia sobre as descobertas científicas. Por exemplo, o prêmio Emmy que Carl Sagan recebeu pela série para TV Cosmos, que teve seu roteiro baseado em seu livro homônimo publicado em 1980.
De uma maneira clara e simples o livro nos ensina como está composto o cérebro e quais são suas partes principais, assim como suas principais funções. São feitas especulações de como se deu o avanço através da história da humanidade recorrendo às diferentes espécies que nos precedeu e quais as diferenças morfológicas, assim como do comportamento com base em vestígios antropológicos arqueológicos que foram encontrados. 
Nos Estados Unidos (e também no Brasil) com a formação de um sistema de ensino superior de massa, surgiu os livros de “não-ficção” junto ao novo público leitor  - livros  de divulgação científica mais didáticos, com conteúdos técnicos.
Contudo, ambos os modelos (ficção e não-ficção) continuaram a existir no campo da divulgação científica.  Conforme o autor, “temos agora uma profusão de títulos impressos, em uma vasta gama de assuntos, oferecendo diversos tipos de tratamento de assuntos semelhantes”.
 
MANEIRAS DE LER UM LIVRO DE CIÊNCIA
 
O autor considera os livros objetos complexos que podem ser estudados de muitas maneiras diferentes. Algumas questões da ciência relacionadas ao saber tradicional perpassam o próprio rompimento da demarcação rígida entre o conhecimento "verdadeiro”, científico, e o “conhecimento popular”, não científico.
A linguagem utilizada no texto de divulgação científica tende a se aproximar da linguagem do cotidiano, apoiando-se em metáforas e para tornar as exposições mais claras.
Os exemplos a seguir são restritos aos estudos publicados em  inglês devido a limitação linguística do autor:
Dos livros britânicos do século XIX que discutiram a ideia de mudança no mundo orgânico antes de Darwin, o mais importante é, sem dúvida, Vestiges of the Natural History of Creation (Vestígios da história natural da criação), lançado anonimamente em 1844, pelo pensador escocês Robert Chambers. A obra propunha uma teoria natural de evolução cósmica e biológica, colocando juntas numerosas teorias científicas especulativas daquela época, tendo criado considerável controvérsia política na sociedade vitoriana devido ao seu radicalismo e por ser pouco ortodoxo.  Darwin, na primeira edição de On the Origin of Species (1859), criticou severamente o livro de Chambers, na época ainda de autoria desconhecida.
Um estudo recente do Book-length[2] (Livro-comprimento) o best-seller Silent Spring (1962) de Rachel Carson (1907-1964) oferece uma comparação interessante na era moderna, preocupada com a forma de um livro pode influenciar um debate político. O livro discute os problemas ambientais causados pelos pesticidas sintéticos que trouxe preocupações ambientais sem precedentes para uma parcela da opinião pública americana. Silent Spring impulsionou uma inversão na política nacional pesticida levando a uma proibição nacional sobre DDT e outros pesticidas. Esta com os seus movimentos ambientalistas que inspirou a criação da Environmental Protection Agency foi lhe oferecida a Medalha Presidencial da Liberdade.
Devido à variedade de livros de divulgação científica, Turney (2008) indaga: “Essas obras podem ser classificados em subcategorias?” Mellor (2003) sugere que existem três tipos de subcategorias:
 “Narrativa” - relata um episódio na história da ciência ou a vida de um único cientista.
"Expositiva" – exposição de uma disciplina particular.
“Investigativa‘” – narrativa em estilo jornalístico e/ou controversos.
Essas categorias não são mutuamente exclusivas e encontram-se abertas à discussão.
Conforme autor, a suposição geral é que os livros de divulgação científica encontram-se divididos entre ciência e literatura. Um livro já considerado um clássico do assunto é Chaos (1987) de  James Gleick, ex-colaborador especializado em ciência do The New York Times.  A partir do romance policial, o livro enfoca o trabalho dos cientistas imersos na pesquisa do caos.
Outros trabalhos de divulgação científica que não estão claramente demarcados  acabam “rotulados” de science studies  - uma área de investigação interdisciplinar que busca situar conhecimento científico em um amplo contexto social, histórico e filosófico.
A ciência é, pois, uma atividade que possui relações com o contexto político, social, econômico e cultural onde ela é praticada, e o cientista deve ser pensado como um ser envolvido neste contexto.
A partir dos anos 1980, a divulgação científica teve um crescimento considerável e se torna uma importante área de pesquisa para a compreensão pública da ciência.
No campo da crítica, nos livros de divulgação de física, em geral, circulam imagens de ciência que reflitam os interesses dos cientistas em relação aos estereótipos que possam surgir em outras mídias.
Uma das áreas das ciências que mais tem beneficiado em termos de exposição é “nova genética” isso é apenas perifericamente.
Os livros infantis voltados para a divulgação científica fazem parte de um crescente mercado editorial. Por exemplo, as publicações de divulgação científica dirigidas ao público infantil e juvenil disponibilizadas pelo Museu da Vida (Fiocruz) e a revista de divulgação científica brasileira Ciência Hoje das Crianças que é utilizada pelos professores como material de apoio em aulas de ciências.
Os papéis da divulgação científica e suas características e potencialidades para a educação científica têm sido objeto de pesquisas recentes em ensino de ciências.
Finalmente, o autor pergunta se os estudos de divulgação (popularisation) afetará sua prática. Algumas disciplinas estão se tornando mais conscientes das maneiras e possibilidades da divulgação se relacionam com a sua própria posição na esfera pública. Esta pode ser uma questão de profissionais tentando produzir divulgação das ideias-chave na sua área, como foi feito com sucesso para sociologia do conhecimento científico.
Uma frustração por parte dos historiadores da ciência é abordagem  da história por autores populares. O desafio é fazer melhor.
Os textos de divulgação científica que melhor atendem ao objetivo de informar e atrair o leitor reúnem um ou vários dos seguintes recursos: apoio na história e na tradição, referência à cultura popular, uso de ironia e humor, vínculo com o cotidiano, entre outros.


[1] As tecnologias envolvidas nos “pacotes de mídia”, são as mídias tradicionais (rádio, televisão,  telefonia fixa  e  jornais e revistas impressos)  e as mídias digitais (internet e celulares). Fonte: Google.

[2] Qual o “comprimento” ideal para um livro? Devidos a fatores econômicos, muitos editores têm requisitos de comprimento muito rigoroso. O tamanho é conforme  gênero literário, por exemplo, num livro de ficção para adultos uma página terá 250-350 palavras, com cerca de 65.000-100.000 palavras que corresponde a 200-500 páginas. Fonte: Google
 

Nenhum comentário:

Postar um comentário