Peça de teatro sobre quatro cientistas (Hipácia de
Alexandria, Rosalind Franklin, Marie Curie e Bertha Lutz) reflete sobre o
espaço da mulher na ciência brasileira e mundial
− Ser nota de rodapé na história foi, por muito tempo, o destino das
mulheres cientistas, diz uma voz masculina, sem mostrar seu rosto, na
peça teatral Insubmissas, do grupo paulista Arte Ciência no Palco. Ao
ouvir a afirmação, uma das personagens, Rosalind, reage de maneira
furiosa à voz: − Mulheres cientistas? Sou mulher e cientista. Mulher
cientista parece atração de circo. Bertha, outra personagem da peça,
complementa a frase de Rosalind, em alto e bom som: − Não somos uma
espécie diferente de humanos. Os diálogos acima são ficcionais, mas as
personagens retratam cientistas reais: a primeira é a física inglesa
Rosalind Franklin (1920-1958), que realizou trabalhos empíricos com o
DNA. A segunda é a bióloga brasileira Bertha Lutz (1894-1976),
especialista na área de anfíbios e também referência na luta pelos
direitos das mulheres.
Além de Rosalind e Bertha, Insubmissas retrata também outras duas cientistas, Hipácia (ou Hipátia) de Alexandria (370-415 d.C.) e a franco-polonesa Marie Curie (1867-1934). Ao jogar luz sobre a participação dessas mulheres no desenvolvimento da ciência, a peça expõe um incômodo contraponto: a não rara contribuição masculina para dificultar ou mesmo impedir essa atuação. Esse foi um dos motivos que levaram o autor da peça, Oswaldo Mendes, a priorizar as personagens femininas e optar por uma estrutura surreal: a despeito das diferentes épocas e países em que viveram, as quatro cientistas estão reunidas em uma mesma sala e conversam em português. A “presença” dos homens se resume à citada voz e a uma pequena aparição de um empregado de Bertha Lutz. “Isso estava claro para mim, desde o início: não deveria ter presença masculina em cena”, conta Mendes, que, há cinco anos, recebeu o desafio de falar sobre as cientistas para as atrizes Adriana Dham, Monika Ploger, Selma Luchesi e Vera Kowalska, intérpretes, respectivamente, de Bertha Lutz, Rosalind Franklin, Marie Curie e Hipácia de Alexandria. Desde então, paralelamente às atividades de ator, diretor teatral e biógrafo – Mendes foi vencedor do Prêmio Jabuti, em 2010, por Bendito, maldito: uma biografia de Plínio Marcos (Editora Leya) –, dedicou-se à pesquisa sobre suas personagens, com a disciplina de sua formação de jornalista, profissão que exerceu nos jornais Folha de S. Paulo e Última Hora, entre outros veículos. Outras personagens da peça – como a mãe de Rosalind Franklin, a filha mais velha de Marie Curie e uma criada (fictícia) de Hipácia – são interpretadas por Letícia Olivares, atriz que completa o elenco de Insubmissas. O diretor da peça, Carlos Palma, concordou com a prioridade feita pelo dramaturgo em relação às personagens femininas – tanto que o empregado de Bertha Lutz, Esmeraldino, ao dialogar com a bióloga, é interpretado pelas demais atrizes. ,
Entre as personagens de Insubmissas, talvez a mais controversa seja Rosalind Franklin, que divide opiniões entre historiadores por não ter seu trabalho empírico feito com o DNA (difração de raio X de amostras cristalizadas) reconhecido pelos três pesquisadores vencedores do Nobel de Medicina em 1962, quatro anos após sua morte. O geneticista norte-americano James Watson, o neurocientista inglês Francis Crick (1916-2004) e o fisiologista neozelandês Maurice Wilkins (1916-2004) ganharam o Nobel pela descoberta da dupla hélice do DNA. A peça, no entanto, mostra uma Rosalind com opiniões ponderadas sobre o alcance de suas descobertas, embora não poupe críticas a Watson, hoje com 86 anos. “Pesquisas históricas apontam que, para Rosalind Franklin, o que importava no DNA era apenas sua estrutura. Por outro lado, Watson e Crick buscavam também a estrutura, mas desde que a mesma, simultaneamente, fosse compatível com a função genética da molécula. Estamos, então, diante de objetivos de investigação que, ainda que solidários, são diferentes. E, por conta disso, a mobilização para alcançar seus objetivos foi também diferente”, diz o filósofo Marcos Rodrigues da Silva, professor da Universidade Estadual de Londrina (UEL) e que atua na área de filosofia da ciência. Silva tratou da questão em 2010, no artigo “As controvérsias a respeito da participação de Rosalind Franklin na construção do modelo da dupla hélice”, publicado na revista Scientiae Studia, da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (FFLCH-USP).
Além da contextualização da época vivida pelas quatro mulheres da peça, os personagens secundários ajudam a compor um painel que as humaniza e as aproxima do público. “É importante fazer a relação das ideias científicas com o mundo de hoje. Se não, a peça vai interessar a quem?”, pergunta-se Carlos Palma. Desta forma, a Marie Curie vista na peça não é apenas a pesquisadora incansável, vencedora de dois prêmios Nobel, um de Física, em 1903 (dividido com o marido, Pierre Curie, e Henri Becquerel) e outro de Química, em 1911, mas a viúva e mãe que enfrentou o preconceito da sociedade conservadora do início do século XX quando veio a público pela imprensa francesa, de maneira escandalosa, seu suposto romance com o também físico Paul Lanvegin, mais novo, casado e discípulo de Pierre Curie. Por sua vez, Bertha Lutz tem destacado seu pioneirismo no movimento feminista brasileiro. É a personagem de Letícia Olivares que revela à bióloga que seu nome batiza hoje o Prêmio Bertha Lutz, criado pelo Senado Federal em 2001 e concedido anualmente a mulheres, pesquisadoras ou não, com contribuição relevante às questões femininas e aos direitos humanos. A peça cita, entre as pesquisadoras já premiadas, a socióloga Heleieth Safiotti (1934-2010), professora da Unesp, Câmpus de Araraquara. A vida de Hipácia de Alexandria, apesar das pouquíssimas informações que chegaram da Antiguidade até nós, também garante emoção: pagã, filha do astrônomo e matemático Téon de Alexandria, estudou em Atenas e, ao retornar a sua cidade, ensinava as disciplinas do pai, além de física e filosofia. Ao que se sabe, por questões políticas, foi massacrada por um grupo de cristãos fanáticos e enfurecidos.
A pesquisadora hoje Pró-reitora de Pesquisa da Unesp, a bioquímica Maria José Soares Mendes Giannini acredita que “as mulheres têm sofrido ao longo dos anos preconceitos para ocupar espaços na ciência e o caminho foi extenso e doloroso. As conquistas científicas das mulheres, se comparadas às dos homens, são bem menores”. Maria José lamenta o fato de as pesquisas de Rosalind Franklin não terem o devido reconhecimento e ressalta que Marie Curie, apesar de ser a primeira pessoa a conquistar o Nobel duas vezes e em duas áreas diferentes, “por ser mulher, teve negada uma cadeira na Academia de Ciências da França”. Enquanto as mulheres conseguem, a passos não tão largos, seu espaço na ciência brasileira e mundial, o debate proposto pela peça Insubmissas mantém-se atual. “Além da capital paulista, onde esteve em temporada no Teatro de Arena, será levada para outras cidades do Estado e do país”, adianta o diretor Carlos Palma.
A peça “Insubmissas” permanece em cartaz até 29 de março, no Teatro de Arena (Rua Doutor Teodoro Baima, 98 – República), e prossegue sua temporada, em abril e maio, no teatro Ágora (Rua Rui Barbosa,672 – Bela Vista).
direitos das mulheres.
Além de Rosalind e Bertha, Insubmissas retrata também outras duas cientistas, Hipácia (ou Hipátia) de Alexandria (370-415 d.C.) e a franco-polonesa Marie Curie (1867-1934). Ao jogar luz sobre a participação dessas mulheres no desenvolvimento da ciência, a peça expõe um incômodo contraponto: a não rara contribuição masculina para dificultar ou mesmo impedir essa atuação. Esse foi um dos motivos que levaram o autor da peça, Oswaldo Mendes, a priorizar as personagens femininas e optar por uma estrutura surreal: a despeito das diferentes épocas e países em que viveram, as quatro cientistas estão reunidas em uma mesma sala e conversam em português. A “presença” dos homens se resume à citada voz e a uma pequena aparição de um empregado de Bertha Lutz. “Isso estava claro para mim, desde o início: não deveria ter presença masculina em cena”, conta Mendes, que, há cinco anos, recebeu o desafio de falar sobre as cientistas para as atrizes Adriana Dham, Monika Ploger, Selma Luchesi e Vera Kowalska, intérpretes, respectivamente, de Bertha Lutz, Rosalind Franklin, Marie Curie e Hipácia de Alexandria. Desde então, paralelamente às atividades de ator, diretor teatral e biógrafo – Mendes foi vencedor do Prêmio Jabuti, em 2010, por Bendito, maldito: uma biografia de Plínio Marcos (Editora Leya) –, dedicou-se à pesquisa sobre suas personagens, com a disciplina de sua formação de jornalista, profissão que exerceu nos jornais Folha de S. Paulo e Última Hora, entre outros veículos. Outras personagens da peça – como a mãe de Rosalind Franklin, a filha mais velha de Marie Curie e uma criada (fictícia) de Hipácia – são interpretadas por Letícia Olivares, atriz que completa o elenco de Insubmissas. O diretor da peça, Carlos Palma, concordou com a prioridade feita pelo dramaturgo em relação às personagens femininas – tanto que o empregado de Bertha Lutz, Esmeraldino, ao dialogar com a bióloga, é interpretado pelas demais atrizes. ,
Entre as personagens de Insubmissas, talvez a mais controversa seja Rosalind Franklin, que divide opiniões entre historiadores por não ter seu trabalho empírico feito com o DNA (difração de raio X de amostras cristalizadas) reconhecido pelos três pesquisadores vencedores do Nobel de Medicina em 1962, quatro anos após sua morte. O geneticista norte-americano James Watson, o neurocientista inglês Francis Crick (1916-2004) e o fisiologista neozelandês Maurice Wilkins (1916-2004) ganharam o Nobel pela descoberta da dupla hélice do DNA. A peça, no entanto, mostra uma Rosalind com opiniões ponderadas sobre o alcance de suas descobertas, embora não poupe críticas a Watson, hoje com 86 anos. “Pesquisas históricas apontam que, para Rosalind Franklin, o que importava no DNA era apenas sua estrutura. Por outro lado, Watson e Crick buscavam também a estrutura, mas desde que a mesma, simultaneamente, fosse compatível com a função genética da molécula. Estamos, então, diante de objetivos de investigação que, ainda que solidários, são diferentes. E, por conta disso, a mobilização para alcançar seus objetivos foi também diferente”, diz o filósofo Marcos Rodrigues da Silva, professor da Universidade Estadual de Londrina (UEL) e que atua na área de filosofia da ciência. Silva tratou da questão em 2010, no artigo “As controvérsias a respeito da participação de Rosalind Franklin na construção do modelo da dupla hélice”, publicado na revista Scientiae Studia, da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (FFLCH-USP).
Além da contextualização da época vivida pelas quatro mulheres da peça, os personagens secundários ajudam a compor um painel que as humaniza e as aproxima do público. “É importante fazer a relação das ideias científicas com o mundo de hoje. Se não, a peça vai interessar a quem?”, pergunta-se Carlos Palma. Desta forma, a Marie Curie vista na peça não é apenas a pesquisadora incansável, vencedora de dois prêmios Nobel, um de Física, em 1903 (dividido com o marido, Pierre Curie, e Henri Becquerel) e outro de Química, em 1911, mas a viúva e mãe que enfrentou o preconceito da sociedade conservadora do início do século XX quando veio a público pela imprensa francesa, de maneira escandalosa, seu suposto romance com o também físico Paul Lanvegin, mais novo, casado e discípulo de Pierre Curie. Por sua vez, Bertha Lutz tem destacado seu pioneirismo no movimento feminista brasileiro. É a personagem de Letícia Olivares que revela à bióloga que seu nome batiza hoje o Prêmio Bertha Lutz, criado pelo Senado Federal em 2001 e concedido anualmente a mulheres, pesquisadoras ou não, com contribuição relevante às questões femininas e aos direitos humanos. A peça cita, entre as pesquisadoras já premiadas, a socióloga Heleieth Safiotti (1934-2010), professora da Unesp, Câmpus de Araraquara. A vida de Hipácia de Alexandria, apesar das pouquíssimas informações que chegaram da Antiguidade até nós, também garante emoção: pagã, filha do astrônomo e matemático Téon de Alexandria, estudou em Atenas e, ao retornar a sua cidade, ensinava as disciplinas do pai, além de física e filosofia. Ao que se sabe, por questões políticas, foi massacrada por um grupo de cristãos fanáticos e enfurecidos.
A pesquisadora hoje Pró-reitora de Pesquisa da Unesp, a bioquímica Maria José Soares Mendes Giannini acredita que “as mulheres têm sofrido ao longo dos anos preconceitos para ocupar espaços na ciência e o caminho foi extenso e doloroso. As conquistas científicas das mulheres, se comparadas às dos homens, são bem menores”. Maria José lamenta o fato de as pesquisas de Rosalind Franklin não terem o devido reconhecimento e ressalta que Marie Curie, apesar de ser a primeira pessoa a conquistar o Nobel duas vezes e em duas áreas diferentes, “por ser mulher, teve negada uma cadeira na Academia de Ciências da França”. Enquanto as mulheres conseguem, a passos não tão largos, seu espaço na ciência brasileira e mundial, o debate proposto pela peça Insubmissas mantém-se atual. “Além da capital paulista, onde esteve em temporada no Teatro de Arena, será levada para outras cidades do Estado e do país”, adianta o diretor Carlos Palma.
A peça “Insubmissas” permanece em cartaz até 29 de março, no Teatro de Arena (Rua Doutor Teodoro Baima, 98 – República), e prossegue sua temporada, em abril e maio, no teatro Ágora (Rua Rui Barbosa,672 – Bela Vista).
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