Fonte:Comunicação / Instituto Oswaldo Cruz
O aumento da presença e a participação das mulheres nos cursos
universitários e de pós-graduação quebram barreiras sociais importantes
que as estimulam a competir no mercado de trabalho, onde há o predomínio
do homem. Apesar de estar aumentando visivelmente o número de mulheres,
tanto em nível de graduação como de pós-graduação, é ainda uma fração
pequena delas que consegue posições de destaque na ciência, na
tecnologia ou na gestão da ciência.
Há tempos elas começaram a lutar pelos seus direitos até chegarem a uma
nova e verdadeira revolução, desta vez científica e tecnológica. No
século passado teve uma inflexão histórica que até havia passado
despercebida. Nas carreiras biológicas as mulheres descobriram seus
talentos, embora nas Engenharias, Física e Matemática ainda são uma
expressiva minoria. Na composição das universidades e institutos de
pesquisas, a relação homem e mulher não é equilibrada. Onde estão as
mulheres cientistas nas academias? É só comparar os números de mulheres
cientistas que fazem parte da Academia Brasileira de Ciências e da
Academia Nacional de Medicina, ou mulheres que foram reitoras ou tiveram
uma posição de destaque na área de administração da ciência. Onde elas
poderiam estar? Elas dedicam três vezes mais tempo que os homens nas
tarefas domésticas e nos cuidados com os filhos.
Na ciência as mulheres descobriram grandes coisas e não tiveram nenhum
valor para a sociedade. Descobertas fundamentais foram realizadas pelas
mulheres. O cientista colega de Lise Meitner ganhou o Prêmio Nobel em
1944 pelos cálculos que permitiram descobrir a fusão nuclear sem
mencionar a autora real. Assim foi também o famoso caso de Rosalin
Franklin, que fez a fotografia que permitiu revelar a estrutura da dupla
hélice do DNA e de Nettie Stevens, que descobriu em 1905 os cromossomos
X e Y, que determinam o sexo das pessoas, mas elas não apareceram como
coautoras pelo "machismo" existente que acobertava a atividade
científica. A Universidade de Harvard nomeou em 2007, pela primeira vez
desde sua criação, em 1636, uma mulher para presidir esta prestigiosa
instituição. Seu nome é Drew Gilpin Faust, historiadora, que substituiu o
Lawrence Summers após ele sugerir que as diferenças inatas entre homens
e mulheres explicam por que há menos mulheres que homens de destaques
nas áreas da ciência.
A Academia Brasileira de Ciências tem um prêmio para jovens doutoras que
desenvolvem trabalhos científicos nas áreas de Ciências Físicas;
Ciências Biomédicas, Biológicas e da Saúde; Ciências Químicas; e
Ciências Matemáticas. Um dos lemas do prêmio foi "O mundo necessita de
Ciência, a Ciência necessita de mulheres". Esta é uma inovação e um
importante incentivo para as mulheres pesquisadoras.
Não resta dúvida de que em duas gerações, e sem necessidade de que se
aplique uma discriminação positiva, o número de cientistas mulheres
crescerá espetacularmente. Por isto, acostumo dizer que elas não são
mulheres cientistas, elas são cientistas, não é verdade?
Eloi S. Garcia é pesquisador e ex-presidente da Fundação Oswaldo
Cruz (Fiocruz) e membro da Academia Brasileira de Ciências (ABC).
*Artigo publicado na editoria País - Sociedade Aberta, do Jornal do Brasil em 31/05/2011
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