por
Graça
Portela
24/07/2014
Que as
mulheres são a maioria dos trabalhadores na Fiocruz, isso é indiscutível. Elas
representam 51,6% da força de trabalho da Fundação. Ao todo, 6.359 mulheres
entre servidoras e terceirizadas. Desse total, 2.745 possuem especialização em
nível médio ou nível superior, mestrado ou doutorado, segundo os números de
junho/2014 fornecidos pela Diretoria da Recursos Humanos da Fiocruz. Mas, em
sendo uma instituição voltada também para a pesquisa, qual tem sido o papel
delas na Fundação?
Para
responder a essa pergunta, a pesquisadora Jeorgina Gentil, aluna de doutorado
do Programa de Pós-Graduação em Informação e Comunicação em Saúde
(PPGICS/Icict) e servidora do Icict, realizou uma pesquisa detalhada para a sua
tese – “Gênero, Ciência & Tecnologia e Saúde: apontamentos sobre a
participação feminina na pesquisa na Fundação Oswaldo Cruz”, defendida em
fevereiro desse ano.
Em seu
trabalho, Jeorgina optou pelo estudo de gênero. “Foi um exercício em que
ofereço neste estudo ‘meu olhar estrangeiro’ sobre o tema. Desde Marie Curie,
os estudos de gênero privilegiam figuras ímpares, as exceções à regra de sua
época, e não necessariamente o esforço de um conjunto de pesquisadoras no
desenvolvimento científico nacional”, explica.
A pesquisa
cobriu o período de 1996 a 2013 e aponta alguns resultados muito interessantes.
Dados mostram que, em maio de 2012, havia na Fiocruz um total de 1.064
servidores com titulação de doutorado, sendo 654 (61,5%) mulheres e 410 (38,5%)
homens. A produção bibliográfica das mulheres no período estudado foi de 345
artigos e a dos homens ficou em 225, apesar disso, a média de artigos
publicados pelas mulheres (12,6 artigos/mulher) é inferior a dos homens – 19,2
artigos/homem.
As
informações foram levantadas em consulta ao Portal Transparência, do Governo
Federal, e permitiu identificar o total de servidores que entraram por concurso
público e que, no momento do estudo, possuíam titulação de doutorado. Ao todo
foram 571 servidores, sendo 346 (60,6%) mulheres e 225 (39,4%) homens.
Partindo
desses dados, Jeorgina Gentil buscou na Plataforma Lattes os currículos
cadastrados de cada um desses servidores, por meio de uma base de dados
especialmente desenhada para recebê-los. Em seguida, o total de referências foi
migrado e tratado no software de mineração de dados VantagePoint, o
que permitiu análises quantitativas da produção acadêmica e técnica, das
orientações, do acesso às bolsas de produtividade e de prêmios. “Em paralelo,
uma segunda perspectiva de análise documental foi realizada com vistas a mapear
a participação feminina em postos de tomada de decisão na Fiocruz”, explica a
ex-aluna do PPGICS.
O estudo
realizado reafirma mais uma vez a crescente importância da participação
feminina na Ciência. Segundo os dados de 2012 divulgados pela Academia
Brasileira de Ciências, no Brasil cerca de 12,45% dos cientistas são mulheres,
tornando o país o quinto no mundo em participação feminina na ciência, ficando
atrás apenas de Cuba (28%), México (23%), Canadá (14%) e Costa Rica (12,5%), e
à frente dos Estados Unidos (11%) e da Inglaterra (5%).
Apesar da
jornada tripla (trabalho doméstico, estudos e emprego), que cria obstáculos à
mulher para que ela possa ter uma dedicação maior à carreira, os números
encontrados na Fiocruz são otimistas, conforme explica Jeorgina Gentil: “no que
diz respeito aos indicadores gerados internamente, observou-se que as mulheres
são majoritárias na liderança dos grupos de pesquisa e dos projetos fomentados
internamente”, afirma.
A
despeito do dado positivo, a pesquisadora pondera: “apesar de as evidências
apontarem que as servidoras doutoras da Fiocruz têm participado cada vez mais
das atividades de Ciência e Tecnologia nacionais, elas ainda não avançaram nos
cargos de alta direção da Fiocruz.” Segundo ela, “é possível constatar a
segregação vertical, fenômeno conhecido na literatura como ‘teto de vidro’, que
caracteriza-se pela menor velocidade com que as mulheres ascendem na carreira e
que resulta em sua subrrepresentação nos níveis ocupacionais mais altos e de
maior prestígio.” Mesmo assim, Jeorgina observa que “nas instâncias
propositivas internas da Fiocruz, as mulheres vêm ganhando espaço”, e cita o
exemplo do Coletivo de Dirigentes – espaço institucional constituído por
funcionários que detém cargos de direção e assessoramento superior – “onde
aparece um número crescente de mulheres em postos–chave na Instituição.”
Para
aumentar a participação da mulher, Jeorgina Gentil propõe algumas ações
positivas: “a presença da Fundação nos programas de inclusão da mulher é uma
realidade institucional. Mas, para um maior reconhecimento da mulher na
Fiocruz são necessárias ações como conceder licença à gestante bolsista nas
diferentes fases de formação científica, e garantir creches abertas também aos
demais vínculos”, conclui.
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