segunda-feira, 24 de dezembro de 2012
domingo, 16 de dezembro de 2012
Jornal do Brasil - País - Preconceito e discriminação são desafios para mulher no mercado de trabalho
Um dos momentos mais emblemáticos na história da luta feminina pela igualdade de direitos aconteceu no final da tarde do dia 25 de março de 1911 quando 150 mulheres, em sua maioria imigrantes judias e italianas, morreram em um incêndio na Triangle Shirtwaist Company, em Nova Iorque.
Embora algumas versões apontem que os patrões fecharam as portas da fábrica propositalmente, sabe-se que elas eram mantidas trancadas como costume, para evitar a saída das trabalhadoras no horário do expediente. O acidente, que acabou por revelar as condições degradantes das quais as mulheres eram submetidas, deu força e visibilidade a luta feminista que, mais tarde, conquistaria direitos fundamentais para as mulheres....
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segunda-feira, 10 de dezembro de 2012
A questão da mulher sob um olhar crítico da Filosofia do Direito
PAULA LOUREIRO DA CRUZ
Sumário
1. Introdução.
2. Mulheres: igualdade, privilégios ou opressão?
3. Aspectos fisiológicos da mulher: tratamento diferenciado e tratamento discriminatório.
4. Emancipação e Libertação da Mulher.
5. Maternidade versus trabalho.
6. A moral dupla e a opressão social.
7. Engels: A origem da família, da propriedade privada e do Estado.
8. O feminismo marxista.
9. O pensamento de Alexandra Kollontai.
10. O futuro escrito sob a ótica kollontainiana.
11. Conclusões.
1. Introdução
Pensar em igualdade de gênero, no Estado Democrático de Direito Brasileiro, é algo deveras intrigante. A Constituição Federal de 1988, conhecida como Constituição Cidadã, elege a dignidade humana como valor supremo e funda o Estado Brasileiro em princípios e objetivos voltados à superação de toda forma de desigualdade e discriminação. Embora o legislador constituinte tenha demonstrado claramente o escopo de aproximação das duas formas de manifestação da igualdade, quais sejam: formal e material, ainda há um longo caminho a seguir na concreção desse objetivo. Interessante é, pois, notar como a igualdade de direitos entre homens e mulheres assegurada pelo texto constitucional está longe de propiciar a tão sonhada igualdade material, ou seja, o sonho dourado de libertação das minorias oprimidas, entre elas as mulheres.
RCD - Revista Crítica do Direito - Número 1 - Volume 32
Conselho Nacional dos Direitos da Mulher (CNDM)
Conselho Nacional dos Direitos da Mulher (CNDM) foi criado em 1985, vinculado ao Ministério da Justiça, para promover políticas que visassem eliminar a discriminação contra a mulher e assegurar sua participação nas atividades políticas, econômicas e culturais do país.
De 1985 a 2010, teve suas funções e atribuições bastante alteradas. Em 2003, passou a integrar a estrutura da Secretaria Especial de Políticas para Mulheres da Presidência da República, contando em sua composição com representantes da sociedade civil e do governo, o que amplia o processo de controle social sobre as políticas públicas para as mulheres.
É também atribuição do CNDM apoiar a Secretaria na articulação com instituições da administração pública federal e com a sociedade civil.
De 1985 a 2010, teve suas funções e atribuições bastante alteradas. Em 2003, passou a integrar a estrutura da Secretaria Especial de Políticas para Mulheres da Presidência da República, contando em sua composição com representantes da sociedade civil e do governo, o que amplia o processo de controle social sobre as políticas públicas para as mulheres.
É também atribuição do CNDM apoiar a Secretaria na articulação com instituições da administração pública federal e com a sociedade civil.
sexta-feira, 7 de dezembro de 2012
Pesquisadores do Instituto Oswaldo Cruz são agraciados pela Academia Brasileira de Ciência e Academia de Medicina do Estado do Rio de Janeiro (Acamerj)
Na última
terça-feira (04/12), três pesquisadores do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz)
foram agraciados por duas importantes entidades científicas. A Academia
Brasileira de Ciência (ABC) elegeu a pesquisadora Patricia Torres Bozza, do
Laboratório de Imunofarmacologia, para compor o quadro de titulares de Ciências
Biológicas durante o ano de 2013. Já a Academia de Medicina do Estado do Rio de
Janeiro (Acamerj, também conhecida como Academia de Medicina Fluminense)
outorgou à pesquisadora Miriam Tendler, do Laboratório de Esquistossomose
Experimental, o título de Acadêmica do Ano de 2012. Por sua vez, José Rodrigues
Coura, chefe do Laboratório de Biologia Parasitária, recebeu a Medalha de Mérito
Médico Roched Abib Seba.
Serviço de Jornalismo e Comunicação | IOC |
Fiocruz
sábado, 1 de dezembro de 2012
Uma tese é uma tese
MARIO PRATA
Quarta-feira, 7 de outubro de 1998 CADERNO 2
Sabe tese, de faculdade? Aquela que defendem? Com unhas e dentes? É dessa
tese que eu estou falando. Você deve conhecer pelo menos uma pessoa que já
defendeu uma tese. Ou esteja defendendo. Sim, uma tese é defendida. Ela é feita
para ser atacada pela banca, que são aquelas pessoas que gostam de botar banca.
As teses são todas maravilhosas. Em tese. Você acompanha uma pessoa meses,
anos, séculos, defendendo uma tese. Palpitantes assuntos. Tem tese que não acaba
nunca, que acompanha o elemento para a velhice. Tem até teses pós-morte.
O mais interessante na tese é que, quando nos contam, são maravilhosas,
intrigantes. A gente fica curiosa, acompanha o sofrimento do autor, anos a fio.
Aí ele publica, te dá uma cópia e é sempre - sempre - uma decepção. Em tese.
Impossível ler uma tese de cabo a rabo.
São chatíssimas. É uma pena que as teses sejam escritas apenas para o
julgamento da banca circunspecta, sisuda e compenetrada em si mesma. E nós?
Sim, porque os assuntos, já disse, são maravilhosos, cativantes, as pessoas
são inteligentíssimas. Temas do arco-da-velha. Mas toda tese fica no rodapé da
história. Pra que tanto sic e tanto apud? Sic me lembra o Pasquim e apud não
parece candidato do PFL para vereador? Apud Neto.
Escrever uma tese é quase um voto de pobreza que a pessoa se autodecreta. O
mundo pára, o dinheiro entra apertado, os filhos são abandonados, o marido que
se vire. Estou acabando a tese. Essa frase significa que a pessoa vai sair do
mundo. Não por alguns dias, mas anos. Tem gente que nunca mais volta.
E, depois de terminada a tese, tem a revisão da tese, depois tem a defesa da
tese. E, depois da defesa, tem a publicação. E, é claro, intelectual que se
preze, logo em seguida embarca noutra tese. São os profissionais, em tese. O
pior é quando convidam a gente para assistir à defesa. Meu Deus, que sono. Não
em tese, na prática mesmo.
Orientados e orientandos (que nomes atuais!) são unânimes em afirmar que toda
tese tem de ser - tem de ser! - daquele jeito. É pra não entender, mesmo. Tem de
ser formatada assim. Que na Sorbonne é assim, que em Coimbra também. Na
Sorbonne, desde 1257. Em Coimbra, mais moderna, desde 1290. Em tese (e na
prática) são 700 anos de muita tese e pouca prática.
Acho que, nas teses, tinha de ter uma norma em que, além da tese, o elemento
teria de fazer também uma tesão (tese grande). Ou seja, uma versão para nós,
pobres teóricos ignorantes que não votamos no Apud Neto.
Ou seja, o elemento (ou a elementa) passa a vida a estudar um assunto que nos
interessa e nada. Pra quê? Pra virar mestre, doutor? E daí? Se ele estudou tanto
aquilo, acho impossível que ele não queira que a gente saiba a que conclusões
chegou. Mas jamais saberemos onde fica o bicho da goiaba quando não é tempo de
goiaba. No bolso do Apud Neto?
Tem gente que vai para os Estados Unidos, para a Europa, para terminar a
tese. Vão lá nas fontes. Descobrem maravilhas. E a gente não fica sabendo de
nada. Só aqueles sisudos da banca. E o cara dá logo um dez com louvor. Louvor
para quem? Que exaltação, que encômio é isso?
E tem mais: as bolsas para os que defendem as teses são uma pobreza. Tem
viagens, compra de livros caros, horas na Internet da vida, separações, pensão
para os filhos que a mulher levou embora. É, defender uma tese é mesmo um voto
de pobreza, já diria São Francisco de Assis. Em tese.
Tenho um casal de amigos que há uns dez anos prepara suas teses. Cada um,
uma. Dia desses a filha, de 10 anos, no café da manhã, ameaçou:
- Não vou mais estudar! Não vou mais na escola.
Os dois pararam - momentaneamente - de pensar nas teses.
- O quê? Pirou?
- Quero estudar mais, não. Olha vocês dois. Não fazem mais nada na vida. É só
a tese, a tese, a tese. Não pode comprar bicicleta por causa da tese. A gente
não pode ir para a praia por causa da tese. Tudo é pra quando acabar a tese. Até
trocar o pano do sofá. Se eu estudar vou acabar numa tese. Quero estudar mais,
não. Não me deixam nem mexer mais no computador. Vocês acham mesmo que eu vou
deletar a tese de vocês?
Pensando bem, até que não é uma má idéia!
Quando é que alguém vai ter a prática idéia de escrever uma tese sobre a
tese? Ou uma outra sobre a vida nos rodapés da história?
Acho que seria uma tesão.
Copyright 1998 - O Estado de S. Paulo
segunda-feira, 26 de novembro de 2012
Reconhecimento científico
Pesquisadora Miriam Tendler foi homenageada com a Medalha Deodoro da Fonseca, concedida pelo Estado de Alagoas, devido ao desenvolvimento da primeira vacina brasileira contra a esquistossomose.Um reconhecimento emocionado.
Foram com essas palavras que a pesquisadora do Laboratório de Esquistossomose Experimental do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz), Miriam Tendler, definiu a homenagem recebida durante a entrega da Medalha Deodoro da Fonseca, promovida pelo Governo do Estado do Alagoas, na última segunda-feira, 19 de novembro.
A medalha é concedida a personalidades que se destacam na defesa da sociedade e da democracia. No caso da Miriam, o prêmio foi entregue pela sua contribuição no desenvolvimento da primeira vacina 100% brasileira e segura contra a esquistossomose, apresentada à população em junho deste ano. A pesquisadora foi a única pessoa dos sete agraciados que não possui nenhum vínculo direto com o Estado.
Foram com essas palavras que a pesquisadora do Laboratório de Esquistossomose Experimental do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz), Miriam Tendler, definiu a homenagem recebida durante a entrega da Medalha Deodoro da Fonseca, promovida pelo Governo do Estado do Alagoas, na última segunda-feira, 19 de novembro.
A medalha é concedida a personalidades que se destacam na defesa da sociedade e da democracia. No caso da Miriam, o prêmio foi entregue pela sua contribuição no desenvolvimento da primeira vacina 100% brasileira e segura contra a esquistossomose, apresentada à população em junho deste ano. A pesquisadora foi a única pessoa dos sete agraciados que não possui nenhum vínculo direto com o Estado.
Fonte: Comunicação / Instituto Oswaldo Cruz
domingo, 11 de novembro de 2012
Instituições discriminam mulheres cientistas
SABINE RIGHETTIDE - SÃO PAULO
Quem conhece a história de Lawrence Summers, ex-reitor de Harvard, pode concordar com um estudo recente que afirma: o preconceito contra mulheres na ciência é, sobretudo, institucional.
Summers ficou conhecido em 2008 por afirmar que as mulheres teriam menos aptidão para a ciência. A frase causou comoção e manifestações de cientistas. Três anos depois, o debate está longe de ser esgotado.
Stephen Ceci e Wendy Williams, da Universidade Cornell, EUA, debruçaram-se sobre 20 anos de dados sobre candidatura a vagas de trabalho, financiamento de pesquisa e publicação de artigos científicos nos EUA.
Eles viram que a quantidade de mulheres na ciência aumentou desde a década de 1970. Mas elas ainda não chegam ao topo por causa da chamada "discriminação institucional".
Por exemplo, as mulheres recebem menos recursos para fazer pesquisa e têm menos oportunidades de trabalho em ciências --especialmente nos cargos de chefia.
O trabalho está publicado na revista científica PNAS ("Proceedings of the National Academy of Sciences").
Editoria de Arte/Folhapress
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Os autores verificaram também que, em algumas áreas como na matemática, as cientistas revelam que se sentem tão isoladas e insatisfeitas no meio "masculino", que desistem da carreira.
Para a socióloga da Unicamp Maria Conceição da Costa, que estuda gênero e ciência, a a pesquisa dos EUA faz bastante sentido.
"As mulheres não conseguem alcançar os mesmos patamares porque a maior parte dos comitês de julgamento de bolsas é formado por homens, assim como os líderes de pesquisa e chefes de departamento", diz.
Fonte: FOLHA DE S. PAULO
sexta-feira, 9 de novembro de 2012
X ENAR
Entre os dias 7 e 8 de novembro de 2012, participei do X ENAR - Encontro Nacional de Acervo Raro – na Biblioteca Nacional, Rio de Janeiro. A temática do evento foi “Critérios de Raridade de Acervos Raros e
Especiais”. No dia 8 de novembro, apresentei a seguinte comunicação: "Uma Breve
Análise sobre os Critérios de Raridade Bibliográfica". O evento me proporcionou novos aprendizados e o reencontro com amigas e colegas de profissão.
O Encontro Nacional de Acervo Raro é um evento bianual realizado pelo
Plano Nacional de Recuperação de Obras Raras - PLANOR, da Fundação Biblioteca
Nacional. Este Encontro visa expor e discutir a realidade dos acervos raros
existentes no País, para troca de experiências e divulgação de ações. Em cada
edição, diferentes temáticas são contempladas, permitindo o intercâmbio de
ações e experiências.
quarta-feira, 31 de outubro de 2012
XIII ENANCIB
Entre os dias 29 e 31 de outubro de 2012, participei do XIII ENANCIB 2012 - ENCONTRO NACIONAL DE PESQUISA EM CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO - que apresentou a temática “A sociedade em rede para a inovação e o desenvolvimento humano”. O ENANCIB foi realizado no Centro de Convenções SulAmerica - Cidade Nova - Centro - Rio de Janeiro - RJ, nos dias 28, 29, 30 e 31 de outubro de 2012. A abertura contou com a palestra da pesquisadora uruguaia Judith Sutz, que falou sobre “Conhecimento, inovação e inclusão social. Potencialidades e limites da sociedade em rede”. Além das apresentações nos GTs, houve a exibição de pôsteres digitais no mezanino do 1º andar do Centro de Convenções.
Apresentei trabalho no GT 11: Informação e Saúde na modalidade comunicação oral, sob o título: GÊNERO E GESTÃO EM CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO EM SAÚDE: UM OLHAR EXPLORATÓRIO NA FIOCRUZ.
Autoras: JEORGINA GENTIL RODRIGUES – FIOCRUZ - MARIA CRISTINA SOARES GUIMARÃES – FIOCRUZ
Link para os Anais Digitais
Resumo: Esta pesquisa tem como tem por objetivo dar
visibilidade à participação feminina nos cargos de tomada de decisão em
C&T, especificamente a partir da Constituição Federal de 1988 até 2012.
Toma-se como objeto de estudo a Fundação Oswaldo Cruz, uma das principais instituições
científicas do país. Será realizado um mapeamento da contribuição feminina para
o desenvolvimento das pesquisas em C&T em Saúde em âmbito nacional e
internacional. Os dados coletados serão armazenados e estruturados em uma base
de dados de forma a proporcionar posteriormente a utilização do software VantagePoint,
que permitirá fazer análises quantitativas clássicas da cientometria, traçar
redes de cooperação entre mulheres, os temas de pesquisa e evolução ao longo do
tempo, parcerias nacionais e internacionais, dentre outros. Como resultado
final, a expectativa é propor um modelo de banco de dados capaz de registrar
dados e indicadores sobre a equidade de gênero na Fundação Oswaldo Cruz.
Prevendo o futuro
Feito em 1954 (há 58 anos atrás), prevendo o futuro. Naquela época, as pessoas deveriam achar que era [WINDOWS-1252?]“viagem” da General Eletric.
Fonte: youtube.com
quinta-feira, 25 de outubro de 2012
INFORMES
Realizei duas visitas técnicas (agosto e outubro de 2012) a Biblioteca do Ministério da Saúde - MS, Brasília, DF, com o objetivo de avaliar o acervo que se encontra localizado no subsolo do
edifício anexo do MS. Foram avaliados 515 títulos, entre livros e periódicos, com cerca de 3 mil volumes.
sexta-feira, 12 de outubro de 2012
IX CECI
O Sistema de Bibliotecas e Informação da Universidade Federal do Rio de Janeiro (SiBI) realiza nos dias 4 e 5 de dezembro de 2012, o IX CECI – Ciclo de Estudos em Ciência da Informação. O tradicional evento, promovido desde 1987, que nas últimas edições extrapolou as fronteiras da Universidade, congrega além de bibliotecários e profissionais da informação, docentes e estudantes de várias instituições públicas e privadas a nível nacional.
A comemoração, em 2012, dos 120 anos de nascimento e 40 de morte de Shiyali Ramamrita Ranganathan, serve de fio condutor para a nona edição do ciclo de estudos, pois representa uma excelente oportunidade de por em foco a extensa obra desse ícone da Biblioteconomia mundial sob a luz de uma nova era de tecnologias de informação e comunicação.
O principal objetivo do IX CECI é estimular a reflexão a respeito da realidade das bibliotecas brasileiras, sobretudo, nas de instituições envolvidas diretamente com a pesquisa. Proporcionando, dessa forma, a identificação e disseminação das boas práticas desenvolvidas nas unidades de informação participantes.
A estrutura planejada para os dois dias de evento apresenta duas palestras de especialistas; três mesas temáticas; uma exposição das boas práticas nas bibliotecas da UFRJ e 15 trabalhos que serão selecionados por renomada comissão técnico-científica.
SUBMISSÃO ATÉ 31 DE OUTUBRO DE 2012 !
quarta-feira, 10 de outubro de 2012
FICHAMENTO 7
Fichamento de:
BIAGIOLI, M. Aporias
of Scientific Authorship: credit and responsibility in contemporary biomedicine.
In: BIAGIOLI, M. (Ed.). The Science Studies Reader. New York: Routledge,
1999. p. 12–30.
Os critérios de autoria propostos pelo Comitê
Internacional de Editores de Periódicos Médicos (ICMJE) embora aceitos por grande número de editores
de periódicos científicos, nem sempre são reconhecidos pelos pesquisadores. Na última década, a
definição de autoria tem sido o tema de muitos artigos e cartas ao
editor científico em revistas biomédicas. A posição oficial do ICMJE
é que a autoria deve ser estritamente individual, com total responsabilidade
pelo que foi publicado, rompendo a noção de autoria múltipla, tornando-a um
conjunto de autores distintos, cada um responsável por completo. Estas conduzem a questionamentos acerca da
concepção de autoria, em artigos de periódicos. Mas as normas de autoria do ICMJE vêm sendo discutidas,
pois a complexidade da ciência de hoje tem exigido que especialistas de áreas
muito diversas participem dos projetos. Nem todos esses especialistas têm
condições de entender e assumir responsabilidade sobre o trabalho final, embora
sua participação possa ter sido crucial. Da mesma forma, fica muito difícil
aplicar os critérios a trabalhos multiinstitucionais, às vezes de países
diferentes. Com efeito, alguns editores de revistas estão clamando
por uma mudança de paradigma na definição de autoria, enquanto
outros editores argumentam que "é tempo de abandonar a autoria". E, em meio dessa discussão uma questão mais
complexa: a propriedade intelectual. Entretanto, diante da multiplicidade de
recursos tecnológicos inseridos na cultura contemporânea e das infindas
transformações daí advindas, de caráter social, cultural, econômico e político,
a atividade de autoria também sofre mutações. Biagioli (1999)
discute a respeito da autoria e da individualidade da mesma. Observa-se que tal
discussão não é exclusividade da modernidade, pois segundo o autor antes do que
hoje se conhece como propriedade intelectual, antes, no século XVII a
responsabilidade por publicações era bastante importante saber a autoria,
principalmente dos casos considerados abusivos para a época. O autor nem sempre
foi visto como alguém criativo, mais um a pessoa responsável pelo o que estava
divulgando, tendo que arcar com os ônus ou bônus do que publicou. O autor
começa a tratar dos casos de direitos dos “autores” como detentores de patentes
e chama a atenção para a situação dos sistemas de recompensas - crédito
científico (posse e bolsas) e a economia de mercado (propriedade privada e da
responsabilidade) - que tem surgido no campo autoral da ciência
contemporânea. Tal sistema, de acordo com o texto, pode fazer com que autorias
sejam trocadas por créditos a serem utilizados pelos reais autores da forma que
lhes provém. Mas, a discussão se desenvolve denunciando que o crédito ganho
pelo autor não pode ser substituído ou transferido para outrem. Contudo, é bastante
discutida a questão do domínio público do conhecimento em contraponto com a
recompensa da ciência pela economia liberal. O autor também discute a respeito
da coerência que deve ser mantida na verdade científica apesar da lógica
liberal. O crédito científico deve ser honorífico e não monetário, para que não
se torne algo mercadológico. Porém, observa-se por parte de alguns cientistas a
insatisfação do reconhecimento ser apenas honorífico, porque a lógica econômica
atual é monetária e daí que se reconhece o valor na atualidade. Atualmente o
autor é visto como um passivo financeiro, onde o produtor não é o autor, mas a
empresa que pagou pelo se trabalho. Na realidade o que parece é que o autor
perde a autonomia em suas descobertas e passa a ser induzido a realizá-las.
Lembrando que ainda existem questões de domínio público, além das que avaliam situações
de fraudes científicas. Outra discussão de Biagioli (1999) é sobre a co-autoria
e parcerias autorais na biomedicina. Apesar desse tipo de parceria ainda não
ser tão expressiva tem se notado um crescente movimento nesse sentido pela
necessidade de profissionais de múltiplas habilidades, já que os projetos no
campo da biomedicina são muito grandes e necessitam de equipes colaborativas de
conhecimentos diversos. Essa colaboração entre autores poderia, de acordo com o
artigo, ter possibilitado a distribuição de créditos nos programas de pesquisa
colaborativa, trazendo um perfil científico empresarial. Com relação a isso, o
que tem acontecido é a negociação de créditos de autoria o que não pode ser
aceito no campo das ciências. Além disso, todos os autores de um trabalho devem
ter a mesma participação na pesquisa, portanto todos terão a mesma
responsabilidade na sua divulgação e nos seus resultados. O autor também
discute sobre as situações de fraude relacionadas à geografia da autoria e
sobre as questões políticas, econômicas e judiciais envolvidas nos casos de
propriedade intelectual, apontando as falhas e os pontos positivos. Com relação
à co-autoria existem também os casos de pesquisadores que se unem em uma
espécie de consórcio para garantirem que seus trabalhos sejam publicados em
revistas de maior prestígio e ficarem conhecidos no cenário científico. Essas
manobras fazem com que a questão da responsabilidade autoral seja posta em risco,
pois os créditos passam a ser mais necessários em suas carreiras. Além dessas
discussões o autor discute a situação da compactação entre o tempo, espaço e
trabalho científico, nesse momento o autor divaga sobre a criatividade que
envolve o trabalho cientifico e como o mesmo vem se adaptando ao longo do tempo
por conta das questões autorais e econômicas. Finalizando, o autor reconhece que
a autoria (científica ou não) sempre foi uma questão de compromissos e
negociações, e que não surgiram novas condições de mudar isso.
Notícias - Fazendo Gênero 10
A Revista Estudos Feministas, publicada pela Universidade
Federal de Santa Catarina, promoverá o evento “Militância e Academia nas
Publicações Feministas”, em comemoração aos seus 20 anos, nos dias 7, 8 e 9 de
novembro.
Convida a todas e todos a participarem do evento
e a trazerem suas publicações feministas. O prazo para inscrição de lançamentos,
tanto de livros quanto de revistas, vai até o dia 20 de outubro. É preciso apenas encaminhar a ficha anexa ao e-mail 20.anos.ref.lancamento@gmail.com.
FG10: Estão abertas a inscrição para propor ST no
Fazendo Gênero 10: Desafios Atuais dos Feminismos. As
normas e orientações estão disponíveis no menu Inscrições. As propostas podem ser
encaminhadas, através do sistema, até o próximo dia 15 de outubro.
terça-feira, 9 de outubro de 2012
Direitos Humanos, Saúde e Movimentos Sociais
Nos dias 8 e 9 de outubro, participei do seminário Diálogos entre a Academia e os Movimentos Sociais: uma reflexão sobre a agenda política dos movimentos de mulheres, LGBT e de direitos humanos que discutiu a importância dos movimentos sociais na disseminação e apropriação do conhecimento pela sociedade. O evento foi aberto ao público e realizado no salão internacional da ENSP/Fiocruz.
As mesas
No dia 8 de outubro, pela manhã, a primeira mesa do seminário contou com a presença do Deputado Federal, Jean Wyllys, e da representante da Secretaria de Políticas para as Mulheres, Hildete Melo. Na parte da tarde, a outra mesa foi formada com a participação da doutoranda de Serviço Social da UFRJ Roseli Rocha e do docente da Universidade Estadual do Rio de Janeiro Marco José Duarte. O primeiro dia do evento debateu a igualdade de direitos constitucionais entre heterossexuais e homossexuais.
No dia 9 de outubro, a mesa contou com a participação do consultor em Gênero e Masculinidades, Marcos Nascimento, e da representante da Associação de Travestis e Transexuais do Rio de Janeiro (Astra-Rio), Barbara Aires. Esta mesa abordou a violência de gênero e a luta por direitos protagonizada por transexuais.
O seminário foi organizado pela coordenação do curso de especialização Gênero, Sexualidade e Direitos Humanos do Grupo Direitos Humanos e Saúde (Dihs/ENSP).
segunda-feira, 1 de outubro de 2012
Mostra relativa à Virtude da Humildade
Link para o vídeo produzido pela TV Brasil sobre a Mostra relativa à Virtude
da Humildade, em cartaz na Divisão de Obras Raras da Biblioteca Nacional:
Endereço: Av. Rio Branco, 219 – Centro - Rio de Janeiro-RJ .
FICHAMENTO 6
LÉVI-STRAUSS,
Claude. Raça e História. São Paulo: Abril Cultural, 1980. p. [53]-93.
(Os Pensadores, 50).
A contribuição
de Lévi-Strauss, com “Raça e História”, foi oferecer um argumento
capaz de remediar um grave problema da doutrina anti-racista da Unesco. A
solução propagada por Lévi-Strauss
consistiu em demonstrar que a habilidade para realizar progressos culturais não
estava ligada à superioridade de uma sociedade em comparação a outras, mas, ao
contrário disso, à aptidão de cada um para estabelecer intercâmbios mútuos com
outros. Assim, ao tornar os intercâmbios a condição fundamental do progresso, “Raça e História”, estava em perfeita harmonia
com a ideologia da cooperação, cuja divulgação a Unesco desejava promover. Em “Raça e História”,
Lévi-Strauss diz que não se pode
falar em contribuições das raças a civilização, quando se pretende lutar contra
os preconceitos raciais e explica que fazer isto seria caracterizar as raças
biológicas por propriedades psicológicas particulares, o que nos afastaria da
verdade científica, mesmo que estivéssemos definindo-as positivamente, O
"pecado original da antropologia" consiste na confusão entre noção
puramente biológica e produções sociológicas e psicológicas das culturas
humanas. Mas dizer que as contribuições culturais não têm nenhuma relação com a
constituição anatômica e fisiológica não elimina a diversidade de sociedades e
civilizações. Tal diversidade das culturas humanas, diz Lévi-Strauss, corre o
risco de ver os “preconceitos racistas, apenas desenraizados da sua base
biológica, voltarem a formar-se num novo campo”. Lévi-Strauss defende que negar
que existam "aptidões raciais inatas" também não resolve o
problema levantado pela civilização do homem branco, que alcançou progresso
notável enquanto outras raças permaneceram e permanecem atrasadas: e
necessário, então, ir além da negativa e nos "debruçarmos" sobre outro
aspecto, o da desigualdade – ou diversidade das culturas humanas. Quando Lévi-Strauss fala em diversidade de
culturas humanas pode-se considerar sociedades contemporâneas ou sociedades que
se desenvolveram no passado: "a
diversidade das culturas humanas é de fato no presente, de fato também
de direito no passado, muito maior e mais rica do que tudo o que estamos
destinados a conhecer a seu respeito". Mas reconhecer estas limitações não
e suficiente: nas sociedades
humanas existem “[...] forças que trabalham ao mesmo tempo em direções opostas,
umas tendendo para a manutenção e mesmo e mesmo para a acentuação dos
particularismos, outras agindo no sentido da convergência e da afinidade”
(p.56). O estudo da linguagem oferece
exemplos de tais fenômenos. E mais, há as relações recíprocas e a diversificação
interna “[...] não tende a aumentar quando a sociedade se torna, sob outras
relações, mais volumosa e mais homogênea [...]”(p.56). A diversidade adverte o
autor, não deve ser "uma observação fragmentadora ou fragmentada":
ela existe em função das relações que une os grupos, muito mais do que o
isolamento destes. A diversidade das
culturas não e considerada como um fenômeno natural, diz Lévi-Strauss: "a
noção de humanidade, a englobar sem distinção de raça ou de civilização todas
as formas da espécie humana, apareceu muito tardiamente, e teve expansão
limitada". Mas a simples afirmação de igualdade natural para todos contém
algo de enganoso, para o autor: não é possível por de lado, simplesmente, a
diversidade que existe de fato porque não e possível admitir o homem realizando
sua natureza numa humanidade abstrata. Ao contrario, o homem se realiza em
culturas tradicionais e as modificações se explicam em função de situações
definidas no tempo e espaço. Lévi-Strauss critica o "falso
evolucionismo" como uma "tentativa para suprimir a diversidade das
culturas, fingindo reconhecê-las plenamente": a humanidade deve tornar-se
una e idêntica em si mesma. O que existe
como diversidade não passa de etapas ou estágios de um único desenvolvimento. O
autor traça uma diferença entre evolucionismo biológico do "pseudo
evolucionismo", advertindo que quando se "passa de fatos biológicos
para fatos culturais as coisas mudam". O evolucionismo biológico esta
provavelmente carreto para raças e animais, diz o autor, mas não tem a mesma
relação na evolução social e cultural. Pois, argumenta Lévi-Strauss, como vamos
desenterrar crenças, gostos de um passado desconhecido ou como vamos considerar
que um machado dá origem física a outro machado? Lévi-Strauss critica e
evolucionismo que procura estabelecer analogias entre culturas comparando-as
com a civilização ocidental: pois as tentativas de conhecer a riqueza e a
originalidade das culturas humanas, e de reduzi-las ao estado de replicas
desigualmente atrasadas da civilização ocidental, se chocam com outra
dificuldade. As sociedades humanas têm
atrás de si um passado que e aproximadamente da mesma ordem de grandeza. Há se
pode admitir a ideia de etapas do desenvolvimento porque as culturas não são
estáticas, não existem "povos sem história", existem povos do qual
não conhecemos o passado. Lévi-Strauss admite uma concepção que distingui duas
espécies de história para interpretar a diversidade: uma história progressiva,
aquisitiva e outra história sem este dom sintético. A hipótese de uma evolução
para hierarquizar culturas contemporâneas em números casos foi desmentida pelos
fatos quando se pretendia estabelecer analogias. Do mesmo modo, os fatos
demonstram que não se podem traçar esquemas para sociedades que nos precederam
no tempo: "o desenvolvimento dos conhecimentos pré-históricos e
arqueológicos tende a desdobrar no espaço formas de civilização que estávamos
levados a imaginar como escalonadas no tempo", diz Lévi-Strauss para
acrescentar em seguida que o progresso se da aos saltos, não linearmente, tendo
sempre vários caminhos que pode percorrer. A História pode ser cumulativa, em
alguns casos, o que "não é privilégio de uma civilização ou de um período
histórico", diz o autor, exemplificando com á América, aonde se desenvolveram
culturas com História acumulativa. Para
Lévi-Strauss, considerar a América como exemplo de História cumulativa é fruto
de um interesse do homem ocidental em aproveitar certas contribuições dos
Índios Americanos, diz Lévi-Strauss, pois a tendência e considerarmos os
aspectos de uma cultura que tem significação para nós, qualificando-a de
"cumulativa". Mas quando a linha de desenvolvimento de uma cultura
nada significa para nós, nós a qualificamos de estacionária. "Todas as
vezes que somos levados a qualificar uma cultura humana de inerte ou de
estacionária, devemos, pois, nos perguntar se este imobilismo aparente não
resulta da nossa ignorância sobre os seus verdadeiros interesses, conscientes
ou inconscientes, e se, tendo critérios diferentes dos nossos, esta cultura não
é, em relação a nós, vítima da mesma ilusão” (p.73). Esta atitude nos leva a
apreendermos a historicidade de uma cultura não de acordo com suas propriedades
intrínsecas, mas sim de acordo com o número e a diversidade de nossos interesses
que estão engajados nelas. Com isto, Lévi-Strauss quer dizer que não devemos
confundir com imobilismo a nossa ignorância dos interesses verdadeiros de uma
cultura, ao mesmo tempo em que esta por ser dotada de critérios diferentes, tem
o mesmo julgamento de nós. Ou nas palavras do autor: "pareceríamos uns aos
outros como desprovidos de interesse, muito simplesmente porque não nos
assemelhamos". A originalidade das culturas, diz Lévi-Strauss, "reside
mais na sua maneira particular de resolver problemas, de por em perspectivas
valores, que são aproximadamente os mesmos para todos os homens: pois todos
possuem uma linguagem, técnicas, arte, conhecimentos de tipo cientifico,
crenças religiosas", ainda que dosados de maneiras diversas. Para
Lévi-Strauss o fenômeno da universalização da civilização ocidental é
difícil de ser avaliada: “Primeiro, a existência de uma civilização mundial é um fato provavelmente
único na história e cujos precedentes deveriam ser procurados numa pré-história
longínqua, sobre a qual não sabemos quase nada. Em seguida, reina uma grande
incerteza sobre a consistência do fenômeno em questão. Na verdade desde há
século e meio, a civilização ocidental tende, quer na totalidade, quer para
alguns dos seus elementos-chave como a industrialização, a expandir-se no
mundo; e que, na medida em que as outras culturas procuram preservar algo de
sua herança tradicional, esta tentativa reduz-se geralmente às superestruturas,
isto é, aos aspectos mais frágeis e que podemos supor serem varridos pelas profundas
transformações que se verificam” (p.77-78). Adesão ao gênero de vida ocidental se da em
desigualdade de forças o que leva a Lévi Strauss considerar que as sociedades
não se entregam com tanta facilidade e que esta adesão se deve mais a uma ausência
de escolha. E Lévi-Strauss constata o quanto dependemos ainda das imensas
descobertas que marcou o que se denomina, sem qualquer exagero, a
"revolução neolítica"- agricultura, criação, cerâmica e tecelagem. Lévi-Strauss
descarta a possibilidade do acaso nas grandes invenções da humanidade no
passado e diz que a revolução industrial e cientifica do Ocidente "se
inscreve totalmente num período igual a cerca de meio milésimo da vida passado
da humanidade". E nos convida s a sermos modestos antes de pensarmos que
ela esta destinada a mudar-lhe totalmente o significado ou reivindicarmos
prioridades para uma raça, uma região ou uma pais: "e se, como é
verossímil, ela deve estender-se totalidade da terra habitada, cada cultura
introduzira nela tantas contribuições particulares que o Historiador dos
futuros milênios, legitimamente, considerará fútil a questão de saber quem
pode, dentro de um ou dois séculos, reclamar a prioridade para o conjunto. Lévi-Strauss
diz que a diferença entre culturas não pode ser cumulativa ou não, conceito que
além de depender do relativismo de nossos interesses e negado ainda pelo fato
de que: “A humanidade não evolui num sentido único. E se, num certo plano, ela
parece estacionaria ou mesmo regressiva isso não significa que, de outro ponto
de vista, ela não seja o centro de importantes transformações” (p.86). O
principal absurdo de considerarmos uma cultura superior a outra, diz
Lévi-Strauss, consiste no fato de que a medida que uma cultura esta sozinha ela
elabora muito pouco de História acumulativa: "nenhuma cultura esta só; ela
é sempre capaz de coligações com outras culturas, e isso que lhe permite
edificar séries cumulativas. A possibilidade que tem uma cultura de totalizar
este conjunto complexo de invenções de todas as ordens que chamamos civilização
e função do número e da diversidade das culturas com que ela participa na
elaboração – na maioria das vezes involuntária – de uma estratégia comum. Não
se pode, portanto fazer uma lista das invenções particulares diz Lévi-Strauss,
porque a verdadeira contribuição das culturas esta no afastamento diferencial
que elas apresentam entre si; civilização implica coexistência de culturas que
ofereçam entre si o máximo de diversidade, e consiste mesmo nessa própria
coexistência. "Neste sentido, podemos dizer que a história cumulativa é a
forma característica de história desses superorganismos sociais que os grupos
de sociedade constituem, enquanto que a história estacionária — se é que
verdadeiramente existe — seria a característica desse gênero de vida inferior
que é o das sociedades solitárias". (p. 89).
Bibliografia de Apoio:
segunda-feira, 24 de setembro de 2012
FICHAMENTO 5
Fichamento de:
No presente artigo o autor tem como objetivos equacionar
as condições de translocalização e de globalização das ciências modernas, bem
como as condições específicas da sua institucionalização e da atividade
científica em Portugal que se situa “na semiperiferia do sistema-mundo”. Isso fica bem claro
quando Nunes (2002, p.189) avalia que devido à condição de Portugal ser uma
“[...] sociedade semipériferica integrada numa região central do sistema-mundo-
a União Européia – [...]”. O artigo apresenta especificidades que são
examinadas pelo autor por ser ainda um fenômeno recente no processo de criação
e institucionalização de um sistema nacional de investigação e desenvolvimento
e que figuram uma cultura científica de fronteira. De
acordo com Nunes (2002, p.189-190): “O esquecimento da história das ciências,
dos contextos sociais e culturais e dos conflitos em que elas emergiram teve
três conseqüências importantes: em primeiro lugar, a eliminação da memória dos
espaços e dos tempos específicos em que se forjaram as idéias, os instrumentos,
as práticas e as instituições das ciências; segundo lugar, o esquecimento dos
conflitos e das contradições e tensões que atravessaram a história das
ciências, que tiveram na origem da sua ‘desunidade’ das continuidades e
descontinuidades com outros saberes e modelos de conhecimento; e finalmente, a
estreita relação que as ciências modernas, ocidentais mantiveram com dinâmicas
de denominação social, económica e militar, que resultaram na marginalização,
exclusão ou mesmo destruição de modos de conhecimento diferentes, radicados em
experiências históricas distintas”. Ao forja-se uma imagem de unidade
epistemológica e de modo privilegiado de acesso ao conhecimento do mundo
natural e social, estas se transformaram “[...] a Ciência num dos meios mais
poderosos de produção da globalização cultural no mundo contemporâneo, num dos
terrenos mais importantes em que se enfrentam as dinâmicas contraditórias da
globalização e da localização, da territorialização e da desterritorialização,
num domínio em que configuram de modo muito visível as hierarquias e
desigualdades que definem as diferentes ordens mundiais que se foram forjando
ao sabor das transformações históricas dos últimos cinco anos” (NUNES, 2002,
p.191). Na atualidade, a produção científica realiza-se em instituições e
unidades de investigação científica e tecnológica que mantêm diversos vínculos
e inter-relações com instituições governamentais responsáveis pela definição
das políticas de investigação e desenvolvimento e pela distribuição dos
recursos financeiros, e também em empresas ou laboratórios privados que definem
os seus próprios objetivos e interesses. Muitas atividades que buscam nas as
ciências sua legitimação social – como a medicina e engenharia – organizam-se
em profissões numa base nacional. Mas
tanto as ciências quanto as profissões de base científica “[...] fazem assentar
a sua autoridade na invocação da validade universal dos seus conhecimentos e
procedimentos, uma validade sancionada pela participação em comunidades que
transcendem as fronteiras dos Estados nacionais” (NUNES, 2002, p.191). A
transnacionalização é, sem dúvida, um dos processos que mais bem definem a
especificidade das actividades e profissões associadas à ciência e tecnologia.
É importante reconhecer as especificidades dos processos de globalização das
ciências quando confrontados com a transnacionalização e a globalização. Este
processo de globalização da ciência não decorre de qualquer inerência da sua
universalidade – isto é, da validade das suas proposições e procedimentos
independente das circunstancias em que eles são acionados -, conforme o autor, é
esse trabalho que permite, seguindo a tipologia dos modos de produção da
globalização proposta por Boaventura de Sousa Santos (2001), descrever as
ciências modernas, herdeiras da Revolução Científica, como um conjunto de
criações situadas no tempo e no espaço e que se globaliza em virtude de sua
translocalização. Para o autor, os processos de translocalização das ciências e
do conhecimento e dos objetos científicos podem assumir, em primeiro lugar, a
forma de translocalização das tecnologias através da reprodução do espaço
material e competências técnicas que definem um determinado laboratório. A globalização das ciências corresponderá à
constituição de uma rede de laboratórios capaz de replicar e reproduzir de
forma ‘robusta’ os mesmos procedimentos. Nunes (2002, p. 193) enfatiza que uma
conseqüência desta definição será “a marginalização ou exclusão de formas
alternativas ou locais de produção do conhecimento ou do próprio conhecimento
que neles se produz, relegando-os para o domínio dos ‘outros’ desqualificados
da Ciência”. Em segundo lugar, a translocalização passa pela formação e
recrutamento de cientistas e técnicos credenciados que, mesmos na ausência de
condições ideais, podem assumir uma posição uma posição de validar,
marginalizar ou excluir aqueles que não possuem credenciais escolares,
acadêmicas ou profissionais adequadas. O
autor deixa claro que a criação de instituições de formação – escolas,
Universidades – é um aspecto fundamental desse processo. Nunes (2002), citando
Latour (1987), Shapin e Schaffer (1985), destaca que a autoridade e a
credibilidade da ciência são incorporadas em objetos impressos (manuais
escolares, acadêmicos, periódicos especializados, etc.), eletrônicos (em meio
digital e internet) ou de outro tipo de suporte de registro de informação, são
caracterizados pela sua condição comum de “móveis imutáveis” (p.193). Nunes (2002)
procura averiguar o modo como variações locais entre laboratórios são mediadas
por diferenças nos meios sociais e culturais locais e nacionais em que os
laboratórios se situam, em função da sua posição no sistema mundial da ciência.
Em Portugal, as ciências exibem um conjunto especificidades históricas que são
inseparáveis da condição semipériferica da sociedade portuguesa. Entre elas,
uma forte heterogeneidade interna, expressa, nomeadamente, “nas fronteiras
fluídas ou flutuantes entre disciplinas e domínios de investigação” (NUNES,
2002, p.194); a heterogeneidade das carreiras dos cientistas; o envolvimento
desigual de grupos de instituições de pesquisa com as ciências transnacionais;
a forte feminização (em termos relativos) de muitas áreas da investigação, em
paralelo com dificuldades de acesso de mulheres aos lugares de topo das
carreiras científicas e acadêmicas e aos cargos de direção de instituições de
pesquisa e investigação e a acentuada dependência em relação a financiamentos
oriundos de programas europeus. É no quadro dos
processos de “europeização” das ciências
em Portugal que algumas das tensões que caracterizam a condição semiperiférica
da sociedade portuguesa ganham maior visibilidade. O autor destaca que a
integração européia teve dois tipos de conseqüências importantes, umas no domínio
da policy for science, outras no da science for policy. Portugal, em relação à policy for science, criou um sistema Portugal de investigação em ciência
e tecnologia. Em relação à science for policy, foram criados quadros
normativos que obrigaram à produção de uma legislação nacional em áreas como o
ambiente ou a genética humana, ou seja, foi criado um espaço de legitimação da
intervenção ativa dos cidadãos. Nunes (2002) alerta que estas transformações
ainda são frágeis. Os financiamentos para pesquisa e investigação continuam
fortemente dependentes dos fundos europeus e o esforço do Estado português está
muito aquém do esperado e desejado. Finalizando,
os estudos incluídos no livro Enteados de Galileu? (NUNES; GONÇALVES, 2001), identificam as
condições históricas e contemporâneas dependência da Ciência em Portugal e de
inserção de uma “sociedade semiperiférica nos mundos transnacionais da ciência”
(NUNES, 2002, p. 195) e oferece uma reflexão sobre “esse espaço de fronteira”
(p.197) como um espaço dinâmico de invenção e de inovação, de exploração de
novos processos de produção de conhecimento mais críticos.
INFORMES
Encaminhei o trabalho “Gênero e Gestão em Ciência, Tecnologia e
Inovação em Saúde: um olhar exploratório na Fiocruz” que foi aprovado para apresentação no XIII Enancib, na modalidade
comunicação oral. O evento vai acontecer entre 28 a 31 de
outubro de 2012, no Rio de Janeiro.
sexta-feira, 21 de setembro de 2012
Fazendo Gênero 10
O Seminário Internacional Fazendo Gênero 10 - Desafios Atuais dos Feminismos se realizará em Florianópolis, Santa Catarina, entre 16 a 20 de setembro de 2013 e será promovido pelo Centro de Filosofia e Ciências Humanas, pelo Centro de Comunicação e Expressão, bem como por outros Centros da UFSC, em parceria com o Centro de Ciências Humanas e da Educação da UDESC.
O Fazendo Gênero 10 visa favorecer a articulação dos estudos de gênero com abordagens que envolvem outras categorias de análise como classe, raça, etnia, e gerações; criar espaços de troca de experiências e diálogo entre investigadoras/es acadêmicas/os e aquelas/es ligadas/os a outras entidades e aos movimentos sociais; incentivar a participação de estudantes de graduação e de pós-graduação nas discussões travadas no campo dos estudos feministas e de gênero, possibilitando uma formação mais qualificada na área, e produzir conhecimentos que possam resultar em material bibliográfico a ser publicado em livros e periódicos sobre o tema.
A concepção geral do evento parte de considerar que, apesar dos avanços obtidos por meio das inúmeras lutas travadas pelas mulheres, muitos obstáculos persistem, alguns se re-configuraram, outros emergiram, exigindo por isso mesmo o debate em torno dos Desafios Atuais dos Feminismos, os quais incluem, entre outros, a baixa participação das mulheres nas instâncias de poder político; as desigualdades de gênero no âmbito do trabalho e da distribuição de renda; as dificuldades enfrentadas no âmbito das lutas pelo direito ao aborto; as violências domésticas e institucionais de gênero; a grave situação das mulheres, principalmente de baixa renda, nos contextos pós-coloniais e transmodernos; as iniquidades em saúde; as contramarchas nas lutas pelos direitos LGBT e contra os efeitos de subordinação das interseções de gênero, classe, gerações e raça/etnia; as assimetrias de gênero no âmbito da participação das mulheres na produção do conhecimento científico; a inserção significativa das mulheres nas mobilidades contemporâneas, etc.
Link: FAZENDO GÊNERO 10
Cronograma
2012
- 20 de agosto de 2012 a 15 de outubro de 2012 - Inscrição das propostas de Simpósios Temáticos;
- 15 de novembro de 2012 - Divulgação da relação dos Simpósios Temáticos aprovados;
- 20 de novembro de 2012 - Abertura de inscrições para apresentação de trabalhos nos Simpósios Temáticos e para inscrições de Pôsteres;
- 25 de novembro de 2012 - Abertura das inscrições para a Mostra de Fotografias e para a Mostra Audiovisual.
2013
- 20 de março de 2013 - Encerramento do período de inscrições para Comunicações Orais e Pôsteres;
- 25 de março de 2013 - Início das inscrições para a modalidade Ouvinte
- 25 de março de 2013 - Abertura das inscrições para propor Minicurso ou Oficina
- 31 de março de 2013 - Encerramento das inscrições para a Mostra Audiovisual e para a Mostra de Fotografias
- 27de maio de 2013 - Encerramento das inscrições para propor Minicurso ou Oficina
- 30 de maio de 2013 -Divulgação da relação dos trabalhos aprovados pel@s coordenador@s de STs e divulgação da lista dos Pôsteres aprovados
- 06 de junho de 2013 - Resultado da avaliação dos Minicursos e Oficinas
- 07 de junho de 2013- Início das inscrições para participantes de Minicurso ou Oficina
- Junho de 2013 - Confecção do Caderno de Programação do evento
- 04 de julho de 2013 - Prazo final para entrega do texto completo das Comunicações Orais
- 12 de agosto de 2013 - Encerramento das inscrições para a Modalidade Ouvinte
- 12 de agosto de 2013 - Encerramento das inscrições para Minicurso ou Oficina (ou até o término das vagas)
- 15 de dezembro de 2013 - Publicação dos textos completos apresentados em Simpósios Temáticos no site do Fazendo Gênero 10. Somente serão publicados os trabalhos realmente apresentados pel@s autor@s.
sábado, 8 de setembro de 2012
Um percurso invulgar
Crítica: História da Ciência e suas Reconstruções Racionais
Pedro Galvão
LAKATOS, I. História da ciência e suas reconstruções racionais.Tradução de Emília Picado Tavares Marinho Mendes. Lisboa: Edições 70, 1998.
Quando tentam compreender o método científico, os filósofos desenvolvem diversas concepções da racionalidade científica e interpretam a história da ciência de acordo com essas concepções. Filosofias da ciência diferentes produzem assim reconstruções racionais diferentes para a história da ciência. Mas em que diferem essas reconstruções? Será que alguma delas é superior às restantes? Imre Lakatos ocupou-se seriamente destas questões. Examinou com acuidade as filosofias da ciência mais influentes e propôs a metodologia dos programas de investigação, uma tentativa original de proporcionar uma melhor reconstrução racional da história da ciência. Essa tentativa estrutura os ensaios reunidos em “História da ciência e suas Reconstruções Racionais”. Com este livro, as Edições 70 dão a conhecer ao público português a obra de Lakatos, um dos filósofos da ciência mais marcantes deste século.
Quando tentam compreender o método científico, os filósofos desenvolvem diversas concepções da racionalidade científica e interpretam a história da ciência de acordo com essas concepções. Filosofias da ciência diferentes produzem assim reconstruções racionais diferentes para a história da ciência. Mas em que diferem essas reconstruções? Será que alguma delas é superior às restantes? Imre Lakatos ocupou-se seriamente destas questões. Examinou com acuidade as filosofias da ciência mais influentes e propôs a metodologia dos programas de investigação, uma tentativa original de proporcionar uma melhor reconstrução racional da história da ciência. Essa tentativa estrutura os ensaios reunidos em “História da ciência e suas Reconstruções Racionais”. Com este livro, as Edições 70 dão a conhecer ao público português a obra de Lakatos, um dos filósofos da ciência mais marcantes deste século.
Lakatos teve um percurso filosófico invulgar. Morreu em 1974 com pouco mais de 50 anos, e tinha já cerca de quarenta quando iniciou as investigações que o tornaram conhecido. Karl Popper foi quem mais influenciou essas investigações. “Mais do que ninguém”, declara Lakatos, “ele mudou a minha vida. Tinha quase quarenta anos quando entrei no campo magnético do seu pensamento. A sua filosofia ajudou-me a fazer a ruptura final com a visão hegeliana do mundo, que eu defendera durante cerca de vinte anos.” Na década de intensa actividade que precedeu a sua morte, Lakatos não chegou a publicar qualquer livro, mas muitos dos seus artigos foram postumamente reunidos em três volumes. O primeiro, “Proofs and Refutations”, apresenta-nos um diálogo delicioso sobre a lógica da descoberta matemática. Os outros volumes receberam o título convencional de “Philosophical Papers”, e é de um deles que provêm os ensaios traduzidos agora para português.
O ensaio introdutório ocupa-se do problema da demarcação entre ciência genuína e pseudociência. A resposta de Popper para este problema diz-nos que as teorias científicas distinguem-se das pseudocientíficas em virtude de serem refutáveis, e que a atitude científica consiste em submeter as teorias a “testes cruciais” que visam refutá-las ou falsificá-las. Lakatos, no entanto, considera ingénuo o falsificacionismo de Popper, alegando que este não está de acordo com o comportamento dos cientistas. Quando rejeitam uma teoria, os cientistas não o fazem “apenas porque os factos a contradizem”. Perante dados empíricos adversos, não hesitam em invocar hipóteses auxiliares para salvar as teorias. Vêem esses dados não como “refutações” das suas conjecturas, mas como simples “anomalias” que não requerem uma solução imediata. Os testes cruciais de que Popper fala são assim ficções historicamente infundadas; os relatos desses testes “são forjados muito depois de as teorias terem sido abandonadas”. Como alternativa ao falsificacionismo, Lakatos sugere que para resolver o problema da demarcação é melhor pensar não em teorias ou conjecturas isoladas, mas em unidades mais abrangentes, pois “a ciência não é simplesmente ensaio e erro, uma série de conjecturas e refutações”. Lakatos designa essas unidades por “programas de investigação”. A questão torna-se assim a de saber o que é um programa de investigação e o que torna científico um desses programas.
No segundo ensaio, que intitula o livro, Lakatos explora em profundidade as relações entre a filosofia e a história da ciência, acabando por apresentar a sua própria metodologia filosófica como um programa de investigação historiográfico. Para além de desenvolver a crítica ao falsificacionismo, Lakatos examina as metodologias indutivista e convencionalista. Enquanto os indutivistas destacam na história da ciência a realização de generalizações a partir de proposições bem comprovadas, os convencionalistas valorizam antes a descoberta de sistemas de classificação novos e mais simples. Para Lakatos, no entanto, os grandes momentos da história da ciência resultam de programas de investigação “progressivos”. Mas o que é afinal um programa de investigação? No terceiro ensaio, onde Lakatos mostra como as diversas filosofias da ciência reconstroem a revolução copernicana, encontramos a resposta mais elaborada para esta questão. Um programa de investigação consiste numa série de teorias em desenvolvimento. Essas teorias giram em torno de um “centro firme” constituído pelas proposições fundamentais do programa, que dão origem a inúmeros problemas e são consideradas irrefutáveis. A “heurística” do programa proporciona meios para resolver esses problemas, e a sua “cintura protectora” de hipóteses auxiliares protege o núcleo firme. Quando as modificações teóricas conduzem a previsões bem sucedidas de factos novos, o programa é progressivo, mas se essas modificações forem apenas manobras “ad hoc”, então o programa torna-se degenerativo. Lakatos defende que, entre as metodologias disponíveis, só a dos programas de investigação permite considerar racional a revolução copernicana, sendo esse o seu grande mérito em relação às metodologias rivais.
Com “História da ciência e suas Reconstruções Racionais”, o leitor português pode conhecer o pensamento de Lakatos numa boa tradução. Falta agora traduzir, e publicar, o admirável “Proofs and Refutations”.
Texto originalmente publicado no Público.
FICHAMENTO 4
SHAPIN, S. The Scientific Life: a moral history of a late modern vocation. Chicago: University of Chicago Press, 2008. p. 132-265.
Steven Shapin é um dos
mais renomados historiadores e sociólogos da ciência na atualidade. Em sua obra
The Scientific Life (2008) ele mostra
como a pesquisa científica tornou-se tão
altamente empreendedora que os cientistas tenham sido “eclipsados” neste
processo e que os regimes de financiamento contemporâneos tendem,
de forma sutil, a corroer a integridade da ciência e descreve como o modelo de
pesquisa em universidades norte-americanas está ameaçado. Shapin não descreve
como realizou a pesquisa, mas utiliza dados numéricos apresentados em tabelas
para subsidiar as conclusões de seu estudo. O trabalho empírico de Shapin tem
grande peso acadêmico. Para Shapin, as universidades estão cada vez mais
dependentes de investimentos externos. Com isso, as instituições ficam mais
vulneráveis a pressões políticas, inclusive do governo norte-americano. Neste capítulo, Shapin descreve as mudanças na ecologia do
conhecimento, com seus diferentes ambientes e relações com o mundo
atual, tendo como objeto de estudo a pesquisa acadêmica nas universidades. Desde a II Guerra
Mundial a velocidade do desenvolvimento científico de vanguarda nos Estados
Unidos teve influência na investigação universitária internacional. O idioma
inglês se tornou a “língua franca” da ciência. Essa predominância norte-america
ocorre devido a fatores como: maciço investimento público na ciência, laços
entre a comunidade de pesquisa, por meio das instituições de pesquisa e
desenvolvimento (P&D) e o setor produtivo, além da à capacidade dos Estados
Unidos em exercerem a liderança
efetiva no mundo acadêmico. As políticas públicas eram basicamente políticas de
promoção do desenvolvimento tecnológico que se estabelecia e não havia lugar
para as conseqüências negativas da mudança tecnológica. Conforme o autor,
poucos estudiosos têm examinado o
processo adaptativo que tem facilitado a constante renovação da ciência
norte-americana. O desenvolvimento sistemático da pós-graduação
nos Estados Unidos pode ser considerado como produto da influência germânica e
coincide com as grandes transformações das universidades americanas nas últimas
três décadas do século passado. É quando a universidade deixa de ser uma
instituição apenas de formação de profissionais para dedicar-se às atividades
de pesquisa científica e tecnológica.
Shapin levanta as seguintes questões: Como as universidades conseguem acompanhar o caráter mutável da economia
da pesquisa científica? Ao fazê-lo, como as universidades produzem mudanças na
ecologia do conhecimento nos EUA na contemporaneidade? Shapin tenta traduzir em números a questão
de como relacionar o modelo de pesquisa acadêmica com a pesquisa básica. Ele
fala dos fluxos de recursos, que materializam as pesquisas. O crescimento da
pesquisa básica acontece a partir dos investimentos concentrados fortemente nos
laboratórios particulares e na academia: quem recebe mais investimentos é quem
produz primeiro pesquisa básica e depois, em um segundo momento, pesquisa
aplicada. Segundo as amostras de Shapin, quanto mais à pesquisa acadêmica tenta
responder a dicotomia universidade x indústria ou universidade x empresa, menos
a questão da escassez de recursos é esclarecida. Shapin cita a administração de
Bush para falar do auto-investimento e macro planejamento que seu governo
imprimiu no contexto do pós-guerra. Conforme Shapin (2008, p. 137): “First they sought to
replace the ‘transmission belt’ metaphor, which connected discoveries of basic
research with the spawning of applied research, technology; and the eventual
development of products. In its stead they posited a reciprocal relationship whereby
technological development in itselfyields basic discoveries, or raises problems
that inspire basic science. From this perspective, he rationale for basic
research assumes somewhat different formo Insteadof arising purely from
scientific paradigms, research questions may alsoarise from technology and thus
be consumer driven. This view has implications for supportingesearch as weli.
Instead of relying on scientists in the field to initiate proposals for basic
research, science might better be managed in ways that would recognize and
incorporate consumer demands”. Os possíveis vínculos e tensões entre a ciência
básica e a ciência aplicada têm sido objeto de constante preocupação. A
pesquisa acadêmica, assim, passa a se ver dando conta de uma associação entre e
o que seria a pesquisa básica e a pesquisa aplicada. A tese de Shapin é de que
fortalecer a pesquisa básica seria também fortalecer a pesquisa aplicada. Em
relação aos regimes de financiamento para a ciência, a legislação Bayh-Dole, criada
em de 1980, praticamente induz a transferência de tecnologia entre a
universidade-empresa e atua, basicamente, sobre a comercialização dos
resultados de pesquisa das universidades deixando um hiato: se a pesquisa
realizada é básica ou aplicada. Nos Estados Unidos as universidades e grupos de
pesquisa são os que mais têm patentes, mais produzem patentes. Com relação à
infra-estrutura básica para as pesquisas e fluxo de pesquisadores, Shapin fala
da perda de financiamentos, uma vez que para ter financiamentos tem que ter
produção de artigos. Há o questionamento de quantas publicações daquele
determinado pesquisador já foram publicados; quantas especializações têm.
Então, a partir de suas qualificações o pesquisador vai se destacando para
possíveis financiamentos. As patentes são regras negociáveis com os atores
envolvidos. Assunto delicado para se tratar. Finalizando, Shapin aponta como
uma das maiores dificuldades no dia de hoje manter a infra-estrutura de
pesquisa (na biociência, biomedicina), com todo o seu aparato tecnológico que
lhe é peculiar. Hoje, “fazer ciência” é manter um laboratório nos padrões da
lógica norte-americana de competitividade – ou seja: “se não tenho suporte
financeiro não consigo nada”. Contudo, a participação do financiamento
empresarial na pesquisa universitária deve merecer cautela para que não ocorra privatização
(capitalização) do saber, o que acarretaria uma perda considerável aos valores
acadêmicos. O alerta se faz necessário porque já há muitos casos em que, para
manter laboratórios e salários, pesquisadores comprometem-se a não publicar até
mesmo resultados de pesquisa básica conveniada sem prévia autorização da
empresa patrocinadora.
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